Executivos remunerados mudam a cara do futebol brasileiro

Gerentes ganham espaço e, com metodologia empresarial, profissionalizam a administração dos clubes

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Por Daniel Batista e Raphael Ramos
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SÃO PAULO - Entre as diversas mudanças que o esporte brasileiro sofreu nos últimos anos e o levaram ao posto de sexto maior mercado de futebol do mundo com movimentações que chegam a quase R$ 2 bilhões por ano, destaca-se a nova forma de administração dos clubes. A figura daquele velho cartola intimamente comprometido com a vida política das agremiações, sem qualquer qualificação profissional ligada ao esporte e que não raramente toma decisões movido mais pela paixão do que pela razão, vem cada vez mais perdendo espaço. Em seu lugar estão os chamados executivos do futebol.Saem de cena o linguajar prosaico, os ternos desalinhados e o charuto na boca. Entram em campo o discurso polido, a camisa social bem cortada e o celular de última geração na mão.A ideia é tratar o futebol como um negócio, que precisa ser visto e gerenciado como uma grande empresa. Assim, os dirigentes remunerados estão em praticamente todos os clubes da Série A do Campeonato Brasileiro e em boa parte dos participantes da Segunda Divisão nacional.Para esses profissionais, não existem olheiros e contratações fracassadas, mas sim fornecedores e margem de erro na atividade. Típicos termos do mundo empresarial que passaram a fazer parte do dia a dia dos clubes.Em 2011, eles resolveram fundar a Associação Brasileira dos Executivos de Futebol. O presidente é Ocimar Bolicenho. Atualmente na Ponte Preta, ele acumula passagens por Santos, Atlético-PR, Paraná, Marília e Joinville (leia entrevista abaixo).O perfil dos associados é variado e há muitos ex-jogadores. É o caso do gerente de futebol do Corinthians, Edu Gaspar. Ele levou para o Alvinegro conceitos que aprendeu durante os oito anos em que jogou na Europa (de 2001 a 2009, defendeu o Arsenal, da Inglaterra, e o Valencia, da Espanha). Assim, é considerado nas alamedas do Parque São Jorge peça fundamental nos títulos do Brasileiro, da Libertadores e do Mundial que o Corinthians arrebatou em 2011 e 2012.Faz parte da sua metodologia de trabalho usar números, vídeos e relatórios. Assim, busca minimizar ao máximo as possibilidades de uma contratação, seja ela cara ou barata, dar errado. Aluno do curso de especialização em futebol da Fundação Getúlio Vargas, ele fala inglês e espanhol fluentemente e foi o representante do clube nas reuniões com a Fifa antes e durante o Mundial de Clubes no Japão."Gosto muito desse lado extracampo. Está provado que para as coisas funcionarem bem dentro do campo, o clube também precisa ser organizado fora", diz.Mas nem sempre contratar um executivo é sinônimo de sucesso. O Palmeiras, por exemplo, foi rebaixado para a Série B. O gerente César Sampaio não conseguiu repetir fora de campo o desempenho que teve como jogador e impedir que o conturbado ambiente político do Palestra Itália atrapalhasse o time. "Tentamos cuidar de tudo do futebol para deixar o presidente mais tranquilo para lidar com o restante do clube", afirma.O fato de já ter vestido a camisa do clube ajuda César Sampaio, mas não basta. "A vantagem que podemos ter é saber lidar melhor com os jogadores e saber o que realmente é uma vontade do atleta e o que é apenas algo para atrapalhar uma negociação." Antes de chegar ao Palmeiras, em 2011, ele formou-se em Administração e Gestão Esportiva e estudou marketing esportivo. Fez questão também de passar por clubes menores. Começou no Guaratinguetá e acumulou passagens por Figueirense, Rio Claro e Mogi Mirim. "Não dá para trabalhar numa função tão importante apenas com o nome."

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