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Falta técnica, não técnico

Por Daniel Piza e daniel.piza@grupoestado.com.br
Atualização:

Depois de ver o resumo da décima rodada do Brasileirão e saber que Muricy Ramalho, Vanderlei Luxemburgo e Carlos Alberto Parreira estão desempregados, não há outra constatação: o que falta é técnica, não técnico. Parreira, por exemplo, foi demitido depois que seu time, o Fluminense, perdeu por 1 a 0 graças a um gol contra de canela. Por que não foi o zagueiro que foi para a rua? Porque o treinador é sempre o primeiro da lista, por melhor que seja seu currículo, e os torcedores e comentaristas assinam embaixo. Em contradição, dão assim uma importância aos técnicos que eles não têm. Não estou dizendo que não haja razões específicas nos casos citados. Muricy viveu um ciclo vitorioso de mais de três anos no São Paulo, cometeu erros, sofreu desgaste, etc. Luxemburgo, depois de um ano e meio à frente do Palmeiras, novamente avançou sinais vermelhos, mostrando-se mais preocupado com as negociações do que com as escalações. Parreira sabia desde o início que o elenco era fraco. E nem estou dizendo que Ricardo Gomes, Jorginho e demais substitutos não sejam bons. O que estou dizendo é que as demissões não ocultam que o problema nasce nos, digamos, "recursos humanos". Enquanto a maioria dos atletas variar entre o fraco e o medíocre, técnico nenhum dará jeito. Muitas das lambanças do fim de semana tiveram os reservas como protagonistas. Goleiros que não sabem dominar e chutar uma bola para longe; defensores que olham para a bola e não sabem onde estão os atacantes; jogos com números recordes de passes errados e faltas cometidas. E a quem se deve a carência de bons reservas? À diretoria dos clubes, não aos técnicos, por mais que estes possam participar e pressionar. A presença de alguns craques no Brasileirão deste ano, em comparação com anos anteriores, não pode criar a ilusão de que não falta muito para que os times tenham a qualidade média necessária. Mano Menezes, que tem feito trabalho excelente no Corinthians, viu o preço disso no jogo contra o Grêmio: os três gols saíram de cruzamentos que pegaram a zaga reserva desprevenida. O time todo falhou, principalmente pela soberba depois de vencer a Copa do Brasil e golear o Fluminense com show de Ronaldo (que em seu segundo gol driblou usando as duas pernas e concluiu tirando a força justamente para o goleiro perder o tempo da bola, mas houve "especialistas" que viram falha do goleiro), e isto se pode imputar a Mano também. Mas se o Corinthians quer ir tão longe quando diz precisa ver suas deficiências de marcação e criação, pois lá não existe tombo pequeno. Não, não acho que técnico ajuda quando não atrapalha, como dizia Romário. Ele faz muita diferença ao escalar, organizar e motivar a equipe. Tome como exemplo o Cruzeiro, que hoje tem tudo para se tornar campeão da Libertadores. O maior desafio da equipe era manter a calma na casa do Estudiantes, especialmente Kleber, atacante que tem sido decisivo ao lado do goleiro Fabio, de Ramires, Wagner e dos outros. A resistência psicológica lá tem clara influência do treinador, Adílson Batista, tanto quanto a consistência tática. Hoje, por sinal, nem tudo é positivo: há que se resistir também à empolgação da própria torcida. E o técnico sabe disso. Mas fica do lado de fora. INTÉ Tiro duas semanas de férias. Esta coluna volta em 5/8.

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