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Faltou um Almir Pernambuquinho

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Por LUIZ ZANIN
Atualização:

Amigos, vamos dizer logo de cara: não havia a menor chance de o Santos derrotar o Barcelona. O desnível tático e técnico é abissal. O Barcelona igualou, no campo, o Santos ao Al-Sadd. Engoliu os dois da mesma forma. Parecia jogo de time de primeira divisão contra aspirantes da quarta. Mesmo no mais imprevisível dos esportes coletivos, que é o futebol, podemos dizer que, em dez jogos, o Barça ganharia os dez. Em cem, ganharia os cem. Poucas vezes, no futebol profissional, vi desnível parecido. Então, é preciso reconhecer o mérito do Barcelona e do seu jogo preciso, belo e implacável. Não dava mesmo para ganhar. Mas há derrotas e derrotas. A do Santos foi a do pior tipo: derrota sem qualquer resistência, sem luta, sem briga, no melhor sentido do termo. O time já entrou em campo vencido e, em nenhum momento, chegou a ameaçar o adversário. Para dificultar um pouco as coisas para o Barcelona faltou talvez ao Santos um jogador desses que não aceitam a derrota de jeito nenhum. Lembro de um Zito, que impunha respeito ao próprio Pelé. Lembro de Almir Pernambuquinho, a alma do Santos na conquista do bicampeonato diante do Milan em 1963. Pelé estava contundido e Almir entrara em seu lugar. Ouvira dizer que Amarildo, jogador do Milan, falara que Pelé estava em decadência. "Não se diz isso do Rei", rosnou Almir. E, na primeira dividida com Amarildo, deixou claro que aquele era um jogo de vida ou morte. Amarildo sumiu em campo. Ok, hoje as coisas não são mais assim. Todo mundo é amiguinho e tiete, e coisa e tal. Só faltou pedirem autógrafo aos jogadores do Barcelona, ou talvez nem isso tenha faltado. O fato é que não havia em campo (ou fora dele) alguém que lembrasse aos jogadores do Santos que aquilo era uma disputa de título mundial. Parecia uma partida amistosa, um casados x solteiros de luxo, um daqueles jogos de fim de ano, "Amigos do Messi x Amigos do Neymar". Coisa assim. Festiva. Leve. Uma brincadeira. De resto, cabe ao Santos se preparar melhor para o próximo ano. Continuar o trabalho iniciado, reforçar seus pontos frágeis e dispensar quem não tem apreço pela camisa do clube. Deve lutar pela Libertadores e voltar ao Mundial mais "sábio", segundo as palavras de Neymar. Enquanto isso, é bom aprendermos a lição, junto com o craque santista: vamos colocar as barbas de molho para 2014 porque o futebol sul-americano não está com nada. Depois de décadas de modelo extrativista-exportador, chegou ao fundo do poço e não consegue mais enfrentar os europeus. São cinco títulos mundiais consecutivos para os clubes do Velho Continente. As duas últimas participações brasileiras foram vexatórias: a desclassificação do Internacional pelo Mazembe e a humilhante goleada sofrida pelo Santos. Vamos repensar a vida? Férias. A bola para e eu também. Desejo a todos um Feliz Natal e ótimo 2012. Esta coluna retorna dia 17 de janeiro. Até a volta.

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