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Feminino vive dias de penúria

Depois das décadas de glória da geração Paula e Hortência, esporte mergulha no ostracismo

Por Heleni Felippe
Atualização:

As estrelas Hortência e Paula já deixaram as quadras há uma década. E, desde então, o basquete feminino brasileiro vive de saudades. Saudade do tempo dos campeonatos competitivos, dos ginásios lotados e de espaço na mídia. Hortência deixou o basquete em 1996; Paula, em 98. Formaram a geração de ouro, campeã mundial na Austrália/94, e de prata, vice olímpica em Atlanta/96. Uma época marcada por grandes confrontos de clubes, como Sorocaba e Piracicaba. Hoje, às atletas em atividade resta sentir inveja daqueles tempos. Os grandes patrocinadores do basquete feminino minguaram. Os clubes perderam suas estrelas e, também, jogadoras que nunca atuaram pela seleção, para equipes do exterior. "A situação ideal era não ter o êxodo de atletas, mas isso não é exclusividade do basquete. Acontece no vôlei, handebol e futsal. Se todas as atletas atuassem no Brasil - são mais de 100 no exterior - poderíamos ter duas divisões", analisa o técnico Paulo Bassul, da seleção brasileira e do time de Ourinhos, atualmente a primeira força do Campeonato Nacional. O desnível técnico do torneio se reflete em placares de jogos que parecem reunir um time de escola contra um profissional. A maior diferença, de 90 pontos, foi na partida entre Catanduva e Botafogo (136 a 46). As equipes do Rio foram saco de pancada (leia ao lado). E vão ocupar as três últimas posições na classificação do Nacional. "Sabemos das dificuldades dos times do Rio, com meninas juvenis em quadra para amadurecer", afirma a ala Iziane, a única estrela da seleção no Nacional, jogando pelo time de Ourinhos. O time do Fluminense, por exemplo, chegava à cidade em que jogaria no dia da partida para não ter de pagar hospedagem. "Ginásio lotado mesmo só vi em Catanduva", diz Iziane. O SporTV mostrou um único jogo na fase de classificação, entre Ourinhos e Catanduva. Bassul concorda que a diferença de orçamentos e elencos cria disparidade técnica, mas acha que "para as novatas é bom participar desse tipo de competição". Ourinhos terminou em primeiro a fase de classificação com 93,8% de aproveitamento em 16 jogos (15 vitórias e 1 derrota). Açúcar Cometa/Unimed/Catanduva em segundo (14 vitórias e 2 derrotas). São Bernardo/Metodista em terceiro, seguido por Santo André (quarto), Sport/Maurício de Nassau, de Recife (quinto) e Adiee/Florianópolis (sexto). As posições de Botafogo e Fluminense, sétimo e oitavo lugares, dependia da rodada de ontem. Teresópolis ficou em último. As quartas-de-final começam amanhã, em Ourinhos. O técnico Paulo César Rodrigues de Souza, do Teresópolis, explicou que a Universidade Salgado de Oliveira entra com bolsas de estudo e a prefeitura, com ajuda de custo (o da ala Júlia é de R$ 400 por mês) e o custeio da infra-estrutura. O supervisor Sérgio Mauro Paris disse que o projeto consumiu R$ 22 mil no Nacional (inteiro), mas que o time só entrou para participar e mostrar a estrutura esportiva de Teresópolis - "tem ginásio para 4.500 pessoas, sala de emergência e vestiários bons. O vestiário de Ourinhos é como banheiro de rodoviária." O ginásio de Ourinhos, o Monstrinho, pertence à prefeitura. Acanhado, sofre com apagão e goteiras. Mas o time tem comissão técnica completa - técnico, assistente, preparador e fisioterapeuta - e elenco forte. Investe R$ 1,2 milhão por ano, graças a um pool de patrocínios (Colchões Castor, Unimed e prefeitura). O nome do time ainda tem a sigla FIO, uma contrapartida à ajuda que recebe do usineiro Francisco Quagliatto, o Chicão, que, inclusive, paga o salário da estrela Iziane. "A opção foi investir no time. Não temos recursos para marketing, como no vôlei, ou para divulgar os jogos", explica Antônio Passos, presidente do clube.

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