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Fim da hegemonia no atletismo

Rede desafia BM&F Bovespa, investe em estrutura, cria rivalidade no esporte e abre disputa por atletas de elite

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Por Amanda Romanelli
Atualização:

No ano em que uma mulher se tornou campeã olímpica pela primeira vez e o País quebrou um jejum de 24 anos sem subir ao lugar mais alto do pódio, o atletismo brasileiro tem mais um motivo para comemorar: enfim, há competitividade. A temporada de 2009, ano do Mundial de Atletismo em Berlim, na Alemanha, deverá ser marcada por uma disputa particular - e inédita. Duas equipes irão polarizar o cenário nacional. A BM&F Bovespa, com 20 anos de patrocínio à modalidade e equipe própria desde 2002, vê a chegada da novata (e rica) Rede Atletismo, oferecendo algo que 10 entre 10 atletas sempre sonharam: infra-estrutura de Primeiro Mundo. Em especial, um Centro de Treinamento com pista certificada pela Associação das Federações Internacionais de Atletismo (IAAF), capaz de seduzir a saltadora Maurren Maggi e seu técnico, Nélio Moura. Ligada à Rede Energia, empresa que reúne nove concessionárias responsáveis por 35% da distribuição de energia elétrica no Brasil, a Rede Atletismo fez em 2008 sua primeira temporada. Reuniu atletas que estavam em equipes periféricas e levou 12 deles para Pequim, incluindo parte da equipe do revezamento 4 x 100 m masculino, 4ª colocada nos Jogos. No ano de estréia, conseguiu uma façanha. Venceu a competição masculina do Troféu Brasil, encerrando uma hegemonia da BM&F que durava havia sete anos. Com sede em Bragança Paulista, a 90 km da capital, é fruto do desejo pessoal do empresário Jorge Queiroz de Moraes Júnior. Hoje presidente do conselho de administração da Rede Energia, orgulha-se em dizer que fez sua primeira viagem internacional, para o Chile, ainda na década de 1960, para representar o Brasil em um Sul-Americano de juvenis. Era velocista. FARPAS Há um consenso entre dirigentes das duas equipes, autoridades do esporte e atletas: o fim de um "monopólio" é bom para todas as partes. O que não quer dizer que as mudanças sigam em harmonia. A BM&F acusa a Rede - que já contratou dois técnicos e 30 atletas da equipe rival - de assédio. "É sempre bom ter competitividade, mas a maneira como eles têm contratado não prima pela ética", afirma Sérgio Coutinho Nogueira, diretor da BM&F. Jorge Queiroz tenta diminuir o clima pesado. "A BM&F ajudou muito o atletismo brasileiro, mas a competição sempre é benéfica. Não há animosidade. É apenas uma equipe contra a qual estaremos competindo." Jayme Netto Júnior, técnico das provas de velocidade da seleção brasileira e da Rede, defende sua equipe. "Eles (BM&F) sempre tiraram atletas de outros clubes. Posso dizer que, agora, somos mais procurados do que procuramos." Além de um orçamento polpudo, que pode chegar aos R$ 6 milhões em 2009 (pagos com a Lei do Incentivo do Esporte em sua grande parte), a Rede conseguiu se diferenciar da BM&F em dois aspectos. Pelo moderno Centro de Treinamento que constrói em Bragança Paulista (irá começar a operar até o fim do ano) e pelo projeto de captação e formação de talentos. "O Brasil tem uma escassez de atletas de alto nível", explica o técnico Nélio Moura, que também foi campeão olímpico do salto em distância com o panamenho Irving Saladino. "Formar novas Maurrens é um sonho e, agora, uma possibilidade." A estrutura oferecida pela BM&F, que investiu e treinará somente até o fim do ano no Complexo do Ibirapuera, deixou de ser atrativa. O local sofre com a deterioração e o acordo entre equipe e governo estadual não foi renovado para além de 2008. "A direção do Ibirapuera deixou claro que não queria mais dar exclusividade ao atletismo", afirma Sérgio Coutinho Nogueira. Para manter o alto nível, a BM&F irá construir um Centro de Treinamento "quase" próprio. Mais uma vez, recorrerá à parceria governamental. Desta vez, com a prefeitura de São Caetano do Sul. "A expectativa é de começar a reforma da pista e fazer a transferência da equipe até o fim do primeiro semestre de 2009", conta Nogueira. Desfalcada da principal estrela do atletismo brasileiro, a BM&F ainda conta com nomes de peso, como Fabiana Murer, do salto com vara. Mas admite que entrará em 2009 com uma equipe jovem, com a qual pretende ganhar quilometragem inclusive no Troféu Brasil. Já a Rede, que dá como certa uma boa presença no Brasileiro de clubes, sonha alto: quer ter ao menos dois finalistas no Mundial de Berlim.

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