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Força, Argentina!

Por Antero Greco
Atualização:

Vi muita gente vibrar com a derrota da Argentina, anteontem, em Assunção. Não é pra menos: o resultado de 1 a 0 para o Paraguai aumentou o risco de a seleção hoje sob o comando de Maradona ficar fora de um Mundial, o que não acontece desde 1970. Se meus ouvidos continuam bem apurados, sou capaz de cravar que escutei um ou outro rojão gaiato iluminar a noite no belo gol de Nelson Valdez.Nada tenho contra a preferência de quem quer que seja e jamais a ''torcida única''. Seria a morte do futebol, que fascina, como a própria vida, porque tem conflito, paixão, incoerência. E porque ainda permite a gozação - a tragédia desenhada dos hermanos é prato cheio nestas bandas no Sul da América.Sempre curti tirar um sarro, porque é de direito, mas afirmo sem hipocrisia que torço pela reação da Argentina. Que ela se classifique, mesmo na repescagem contra algum gato pingado da América Central. Copa sem os vizinhos empobrece. E nada melhor do que derrotá-los lá, como fizemos em 74, em 82. Como também não tem tropeço mais constrangedor de que perder para eles, como na Itália, em 90.Desde garoto acompanho os Mundiais como o máximo no futebol. O momento em que se encontram as melhores seleções e em que cada jogo é uma batalha inesquecível. Gostemos ou não, a Argentina faz parte de uma casta nobre no trato com a bola. Na semana passada, escrevi neste mesmo espaço, que vejo brasileiros e argentinos como os maiores geradores de craques. Trata-se de uma convicção.A Fifa democratizou as Copas, por irrefreável pressão econômica, e abriu espaço para times de segunda linha, que não disputariam sequer o Paulistinha. Vá lá, então, que compareçam vez ou outra Coreias, Costa Rica, Senegal, El Salvador Irlanda. Não precisam ficar à margem da festa. Mas Mundial, pra ser bom no duro, tem de ter Argentina, Espanha, Uruguai, Holanda.O que você prefere: uma final com os argentinos ou diante da Bulgária? Prefiro inifinitamente contra a Argentina, mesmo porque os búlgaros só chegarão um dia à decisão por obra do Espírito Santo.Não sou adepto fervoroso do politicamente correto - digamos que aprecio esse modismo, com ressalvas. Porém, não me convence quem diz que torce contra a Argentina por causa de Maradona.Ele é convencido, posudo, falastrão, enganador. Sobram adjetivos pouco dignificantes para justificar rejeição para o astro de ontem. A luta perene que mantém contra as drogas também serve de argumento para diminuí-lo - e nisso enxergo alma mesquinha. Dieguito foi espetacular, irrequieto, divertido, criativo, desestabilizador, contestador. Quem ama o futebol não pode deixar de amar o mito Maradona. Torço por ele, embora não sei se vá emplacar como técnico.A promoção de Maradona a treinador foi tentativa desesperada da cartolagem para reerguer a seleção. Imaginou-se que o carisma do craque passasse para os jogadores por osmose. Por enquanto, não deu certo. Ao contrário do que supôs a CBF ao chamar Dunga, depois do caos de 2006.Na visão de seu mandachuva era preciso um sujeito com estilo marcial, e o capitão de 94 tinha esse perfil. No momento, vai muito bem.Por falar em Dunga, seu trabalho apresenta resultados sólidos. Mas quando será que ele aprenderá a sorrir e abrir mão de ressentimentos?

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