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Futebol e vôlei: esperança

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Por Daniel Piza e daniel.piza@grupoestado.com.br
Atualização:

A seleção feminina de futebol jogou bem ontem contra a Alemanha, principalmente no segundo tempo, com Marta e, mais ainda, Cristiane brilhando. Começou sentindo a marcação das alemãs, mais fortes, e novamente a zaga fez lambanças. Uma delas Prinz aproveitou. Mas o Brasil conseguiu o empate ainda no primeiro tempo e voltou para o segundo usando o que tem de melhor: o toque de bola objetivo e os recursos técnicos. Será triste se novamente ficar com a medalha de prata, mas o que ela fez até aqui merece muito aplauso. Depois de um fim de semana cheio de quedas e decepções, além da eliminação de Fabiana Murer na segunda, a vitória no futebol feminino mostrou que a campanha do Brasil nesta Olimpíada, graças aos esportes coletivos, pode não ficar tão medíocre quanto está até o momento. O símbolo maior da frustração foi a expressão de Diego Hypólito quando se desequilibrou ao final de sua série no solo. Ninguém pode dizer o que faltou - concentração, seriedade, treino? -, mas o fato é que ele não contava com a falha. Daí a dizer que os brasileiros não estão culturalmente preparados para grandes pressões, como se houvesse um impedimento congênito na psique nacional, vai uma distância que não percorro. O Brasil tem agora um ouro e cinco bronzes. Na Olimpíada de Atenas, foram cinco ouros, duas pratas e três bronzes. Jadel Gregório, Maurren Maggi e Rodrigo Pessoa têm chances de medalha, assim como as duplas do hipismo e do vôlei de praia. Mais esperança tem sido suscitada pelos dois times de futebol e pelos dois de vôlei. Ou seja, há possibilidade de ganhar mais umas dez medalhas, quem sabe metade delas de ouro; portanto, de ao menos igualar os cinco ouros e de ultrapassar o total de dez medalhas de 2004. Será que dá? Bom mesmo seria saber que o Brasil avançou, não que está lutando para empatar consigo mesmo; e em maior número de modalidades, não nas mesmas de sempre. Assim é que se deve pensar no mundo esportivo: planejando melhoras consistentes, não torcendo para que esses abnegados não errem na hora H. Existe descompasso muito grande entre a auto-imagem esportiva que o Brasil faz e o que realmente produz. Se superar o resultado de quatro anos atrás, o Comitê Olímpico vai fazer festa. A realidade é que há muito a fazer para que os esportes recebam a devida atenção, para que deixem de viver de talentos esporádicos. Só há certa continuidade no futebol e no vôlei, não tipicamente olímpicos. Melhor ganhar com eles do que não ganhar quase nada relevante. E olhe que o futebol - única referência que os chineses possuem a respeito do Brasil - ainda nem obteve seu ouro. Torço para que essa hora chegue agora. O jogo contra a Argentina hoje promete, com Ronaldinho e Diego de um lado, Messi e Riquelme do outro, além de muita vontade comum de vencer traumas do passado olímpico. O que a seleção tem de mostrar é mais futebol do que mostrou até aqui. Talvez, numa inversão de papéis histórica, possa se inspirar na seleção de Marta e Cristiane, tudo menos "blasé". Que ninguém se omita.

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