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(Viramundo) Esportes daqui e dali

Futebol interino

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Por Antero Greco
Atualização:

O futebol é divertido também por componentes esdrúxulos que o cercam a todo momento. Por exemplo, fala-se demais em profissionalismo nos clubes - e isso soa tão falso quanto político brandir a bandeira da transparência da administração pública. Na prática, uns e outros se fartam de improvisos, arranjos e situações tocadas no vai da valsa. E de vez em quando os cartolas, esportivos ou chapas brancas, jogam para a torcida. Dessa maneira, tudo continua igual, fica o dito pelo não dito e viva são Benedito!Dê uma espiada em São Paulo e Santos, que fazem hoje um dos clássicos mais tradicionais do país, e vai entender o que afirmo. As duas equipes entram em campo sob o comando de interinos - Cláudio Oliveira toca o barco santista, como acontece há mais de um mês, sem jamais ser cogitado para a promoção definitiva. Milton Cruz assume pela enésima vez uma nau tricolor à deriva, e sem desejo algum de sair da condição de regra três do banco. A ironia nessa história está no fato de que Cláudio tapa o buraco aberto com a saída de Muricy, enquanto Milton segura a vaga para... Muricy. Viu como a roda gira, gira, gira e não sai do lugar? Parece que desde a eternidade as agremiações apelam para a demissão de treinadores como solução para as turbulências e, sem muita criatividade, recorrem ao mercado limitado, em que sobressaem os mesmos nomes. O amadorismo alastra-se mais do que fogo na mata seca. Os times ficaram em torno de 30 dias sem compromissos oficiais. A maioria gastou o tempo com folga e treinamentos diversos. Os dirigentes tiveram oportunidade para trocas bem pensadas e digeridas. Em vez disso, ficaram a ver estrelas. O Santos fez um alarido com a eventual chegada de Marcelo Bielsa, mas o argentino pediu isso e aquilo, justamente para não dar samba. Não deu. Depois, houve flerte com Gerardo Martino, do Newell's Old Boys e... nada. Optou por manter um quebra-galho. O São Paulo fritou Ney Franco em fogo brando muito antes de a equipe acumular fiascos na Libertadores. Só que enrolou o quanto pôde e se mexeu para demiti-lo só na sexta-feira, dois dias após a derrota para o Corinthians na Recopa. Se havia insatisfação com o trabalho do professor, por que não partir para a ação na pausa? O mesmo fez o Grêmio com Vanderlei Luxemburgo. Estavam todos fascinados pelos jogos e protestos de rua pelo Brasil durante a disputa da Copa das Confederações?São Paulo e Santos viraram duas incógnitas, e para amenizar o risco de estragos o Brasileiro mal começou, tem 33 rodadas pela frente. Permite recuperação para os 20 participantes. Na teoria, os alvinegros passarão por transformação maior. No mínimo, porque perderam Neymar, o astro, o maestro, o jogador que desequilibrava. E ficaram também sem o goleiro Rafael. O grupo tem muitos jovens, vários veteranos e qualidade irregular. Na fase final do trabalho de Muricy se fragmentou, não passa confiança ao torcedor. A responsabilidade recai, agora, sobre Montillo, que desembarcou na Vila como o cérebro do meio-campo e não vingou no primeiro semestre.O São Paulo tem elenco bom, longe de ser extraordinário, porém acima de muitos concorrentes. Só que funciona com espasmos de eficiência. Ney Franco pecou por não encorpar a equipe e falhou em escolhas táticas. Como contraponto, é necessário ressaltar que tem gente badalada ainda a dever, sem render o que pode. Ganso é a síntese da inconstância: demorou para entrar em forma, não cativou o técnico, várias vezes ficou de cara feia. Quem sabe, agora desencanta? Está na hora.Pelas indefinições, contratempos, cobranças das respectivas torcidas, sabe o que pode acontecer no San-São, como o duelo foi imortalizado pela finada A Gazeta Esportiva?: virar um jogão, com emoção, gols, tensão, polêmicas. Isso mesmo. Por carregarem interrogações mais visíveis do que as marcas dos patrocinadores, não surpreenderá se ambos se desdobrarem. A contradição é outro condimento delicioso do futebol.

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