'Som de metralhadora cada vez mais próximo', diz brasileiro em cidade da Ucrânia tomada nesta quarta

Claudio Garcia, do time de futsal Prodexim, está refugiado com outros três amigos em um apartamento na cidade de Kherson, na fronteira com a Crimeia, que caiu nesta semana diante da invasão russa. Grupo tem comida estocada para mais uma semana

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Por Rodrigo Sampaio
Atualização:

Um grupo de brasileiros que joga futsal na Ucrânia passa por um drama desde que as tropas russas invadiram o país na última quinta-feira, dia 24. O trio formado por Cláudio Garcia, Everton Florêncio e Daniel da Rosa está refugiado em um apartamento em Kherson, cidade tomada pelas russos nesta quarta-feira, 2, e onde atuam pelo clube Prodexim. Sem conseguir deixar o local antes do início da guerra, o grupo se esconde num quarto de hotel à espera de ajuda para sair da zona de conflito. Querem voltar para o Brasil. 

"Antes ouvíamos mais bombas e explosões, mas eram mais longe. A partir do momento em que o exército russo entrou na cidade, praticamente todos os dias escutamos barulho de tiros e tanques de guerra. Som de metralhadora está cada vez mais próximo", conta Cláudio ao Estadão, antes de pedir ajuda das autoridades brasileiras para a fuga segura que estão planejando.

Cláudio Garcia, também conhecido como 'Claudinho', em ação pelo Prodexim Kherson Foto: Reprodução /nstagram

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Os dias são cada vez mais longos. Segundo o brasileiro, todos os mercados da cidade estão fechados desde que as tropas russas invadiram Kherson. As ruas estão vazias e poucos se aventuram em deixar suas casas. Temendo pela falta de alimentos, ele e os amigos fizeram um estoque com água e comida — que deve durar apenas mais uma semana — antes de a cidade ser atacada. Ainda com energia e internet no apartamento, eles mantêm contato direto com seus familiares. 

"Todos ficaram muito nervosos com as notícias, mas pedi para eles se acalmarem e me mandarem mensagens sempre que quiserem saber de mim", disse. "Ainda não caiu a ficha que estamos no meio de uma guerra, ou o que isso significa, mas, apesar de tudo, estamos todos bem. É a melhor opção ficar aqui no momento", entende. O clube pediu para que eles não deixam o local. Uma tradutora ajuda os brasileiros. A comida, embora ainda não seja um problema, poderá ser racionada, assim como a água. Eles ainda conseguem usar a infraestrutura do hotel. Também deixaram claro aos parentes que a energia e a internet, como os celulares, podem parar a qualquer momento. Para que não se preocupem as as chamadas não forem completadas. Natural do Paraná, Garcia voltou a jogar na Ucrânia há cerca de um ano após breve retorno ao futsal do Brasil. De acordo com ele, a tradutora do Prodexim faz companhia ao grupo todos os dias. Os brasileiros, antes de se refugiarem no imóvel de Daniel,  chegaram a passar um tempo na casa do técnico da equipe, onde se protegiam em um bunker. Como no local havia muita gente, voltaram ao apartamento, onde decidiram permanecer juntos. O que aacontecer com um, vai acontecer com os três.

Nesta quarta-feira, dia 2, o Ministério da Defesa da Rússia afirmou que as forças armadas tomaram o controle total de Kherson. Banhada pelo Mar negro, a cidade ao sul da Ucrânia faz fronteira com a Crimeia, península anexada pelos russos em 2014, notória pela disputa territorial entre os países. 

O trio de brasileiros do futsal está em contato com o Itamaraty, mas afirma que a embaixada brasileira na Ucrânia recomenda que eles se protejam em casa até surgir uma oportunidade de sair do país, por via terrestre, uma vez que o espaço aéreo continua fechado. A ideia do grupo é deixar a Ucrânia através da fronteira com a Moldávia. Esse é o plano de fuga. Eles revelaram ao Estadão que estão em contato com jogadores do Shakhtar Donetsk e do Dínamo de Kiev para recolher informações sobre como podem regressar ao Brasil. 

"Estamos decepcionados que em pleno ano 2022 existam pessoas capazes de fazer uma atrocidade dessa com uma população tão acolhedora como é a ucraniana, que são pessoas simpáticas", diz Garcia. "Mas acredito que existam pessoas boas nesse mundo e que em breve tudo será resolvido na diplomacia." Eles vão permanecer no hotel em Kherson nesta noite. Temem que a fuga possa ser interceptada de alguma forma pelo exercíto russo. Todas as vezes que deixam o local, se valem de camisas do Brasil ou qualquer outro adereço para que sejam identificados como estrangeiros.

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