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Futuro preocupa família de Hypólito

Por Agencia Estado
Atualização:

A inédita conquista da medalha de prata no Mundial de Ginástica Olímpica, na Bélgica, modificou nesta segunda-feira a rotina da família de Daniele Hypólito. Os inúmeros telefonemas de felicitações e entrevistas fizeram com que pai da ginasta, Vagner Hypólito, chegasse atrasado no trabalho, e a mãe, Geni Matias Hypólito, não levasse o almoço para os filhos, também atletas, no Flamengo. No meio da alegria, uma certeza: "Desta vez, alguma coisa vai mudar. Tem que mudar", disse a mãe, orgulhosa. A afirmação de dona Geni deve ser entendida como um alerta. De acordo com a mãe de Daniele, a atleta tem somente mais quatro meses de salários a receber do Flamengo, que em agosto cortou as ajudas de custos para suas categorias de base. "Se não arrumarmos um patrocinador, não sei o que vai ser de nós depois que este dinheiro acabar", considerou a mãe. Nos últimos meses, a família se manteve com o salário do pai de Daniele, que, recentemente, passou a ser manobrista de uma academia de ginástica, na zona sul, após quatro anos desempregado. Uma inesperada "ajuda" do atacante Ronaldo, da Internazionale de Milão, também foi essencial para que a atleta rubro-negra não parasse de disputar as competições. No total, foram doados por Ronaldo cerca de US$ 800, que serviram para custear sua alimentação, plano de saúde, hospedagem e passagens. A boa notícia desta segunda-feira, foi dada pelo Comitê Olímpico Internacional (COI), que garantiu a participação de Daniele, de 17 anos, na nova edição do Programa Solidariedade Olímpica, cujo contrato encerrou-se após as Olimpíadas de Sydney, em 2000. A perplexidade e a emoção dificultam a tradução do sentimento de todos na família. "Nessas horas, as palavras sempre nos faltam", disse Geni. O contato por telefone com Daniele, nesta segunda-feira pela manhã, foi simples e cercado de carinho. "Como elas (a ginasta e sua técnica Georgette Vidor) estão felizes. Valeu por tudo o que passamos." Desde que foi levada para o Sesi/Santo André, pelo seu primeiro técnico, Reinaldo, que a viu dando estrelas (exercício de ginástica) pelas ruas, aos quatro anos, Daniele construiu uma longa carreira de títulos. As medalhas de ouro no solo e paralelas nos Jogos Pan-Americanos de 1997; bronze por equipes no Pan-Americano de 1999, além dos títulos de tetracampeã brasileira adulta (1996, 97, 2000 e 2001) fazem parte de seu currículo de conquistas. Ansiedade - Os pais de Daniele aguardam ansiosos o momento em que poderão abraçar e beijar a filha, mas hoje receberam a notícia de que ela só retorna na quarta-feira para o Brasil. Por ser medalhista, a ginasta saiu de Ghent, onde foi realizado o Mundial, e foi para a Antuérpia, também na Bégica, participar de uma cerimônia. Segundo Geni, a medalha também já tirou Daniele de sua rotina, que nesta segunda-feira ficou toda a madrugada comemorando o feito com a delegação brasileira. "Até o medo de cemitérios ela perdeu", disse espantada Geni. Durante a competição, a atleta utilizou um aparelho de telefone público de um cemitério para falar com a família. "Ela tinha que pagar US$ 4 só para pedir uma chamada no hotel. Até para ver TV precisava pagar US$ 1,50. Passou o tempo todo ouvindo música." Daniele está acostumada a vencer os osbstáculos e a rigidez que a vida lhe impõe. O confortável apartamento da família, de três quartos, no Aterro do Flamengo, na zona sul, contrasta com sua vida modesta. O imóvel foi emprestado pelo clube, desde que a atleta trocou o Yachi, de São Paulo, em 1995, pelo Rubro-Negro, a convite de Georgette. A receita do sucesso, segundo sua família é uma só: treinar pela manhã, estudar à tarde e, à noite, mais treinos. As raras idas ao cinema são reservadas para os momentos de descontração junto com os irmãos Diego, de 15 anos, e Edson, 19, que trabalha nas divisões de base da Ginástica Olímpica no Flamengo.

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