PUBLICIDADE

Publicidade

Gangorra de técnicos

Por Antero Greco
Atualização:

Não sou obcecado por números no esporte nem morro de amores por linguagem carregada de futebolês. Tecnicismo demais emperra a vida do leitor. Curto o jogo bem jogado, me encanto com dribles, firulas, gols e para preservar minha integridade emocional me permito eventualmente passar nervoso como qualquer torcedor. Até prova em contrário, para mim quem faz o espetáculo é o boleiro, não importa se craque ou perna-de-pau. Nem por isso descarto a figura do cartola, do juiz, do técnico. Todos compõem esse universo especial.Vejamos o caso do treinador. Não imagino um time sem o "professor" - seja aquele da velha escola, que adora treino com bola e fala a "linguagem dos gramados", ou os mais modernos, que aceitam inovações científicas, aderem a modismos e capricham no visual. Técnico é importante, no mínimo para dar amálgama a um conjunto de marmanjos. Só não concordo com a supervalorização da categoria e olho de esguelha para a condição de semideus de alguns. São profissionais que merecem respeito, mas acertam e erram como todo mundo. Jamais fui a estádio para apreciar "duelo no banco". Assim como ocorre com os atletas que comandam os treinadores enfrentam as oscilações do cotidiano. A gangorra ora pende pra cima, ora despenca. E não há nenhum que jamais tenha levado sustos e tombos, para se reerguer em seguida. Ao recorrer a essa imagem o primeiro que me vem em mente é Muricy Ramalho. O novo campeão brasileiro levou uma entortada e tanto ao ser demitido do Palmeiras no começo do ano. Ele ficou na moita, se fez cobiçar e ressurgiu no Flu. Não parecia o lugar ideal para a reação, por se tratar de clube com problemas internos. Pois nas Laranjeiras, sem muita pressão, colocou em prática seu lema "Aqui é trabalho, meu filho" e fechou o ano em alta. No meio tempo, ainda esnobou convite da CBF para treinar a seleção porque desconfiou que podia ser usado como boi de piranha. Os anos de estrada serviram de alerta.Outro que não pode queixar-se da vida é Dorival Júnior. Em 2009, abriu portas com a segura campanha do Vasco campeão na Série B nacional. O sucesso no Rio chamou a atenção da nova diretoria do Santos, que o convidou para dar ordem no punhado de jovens que surgiam na Vila Belmiro. Dorival observou aqui e ali, fez ajustes e logo tirou do forno o melhor Santos que se viu em décadas, que jogou o fino com Ganso, Robinho, André, Neymar. Vieram dois títulos, uma enorme trombada com Neymar e a demissão. Ainda teve a coragem de encarar a prova de fogo de pegar um Atlético-MG pronto para a degola. Salvou o Galo e ganhou o ano.A lista dos que passarão o Natal a brindar uma temporada aprazível tem Mano Menezes (chega ao topo da carreira ao assumir a seleção), Celso Roth (campeão da Libertadores e, tomara, também do Mundial), Renato Gaúcho (pela espetacular arrancada do Grêmio na Série A) e Cuca (com o vice-campeonato do Cruzeiro).Tem a contrapartida? Claro, há os que estão na parte de baixo da gangorra, à espera da subida. São nomes de peso, como Vanderlei Luxemburgo, apagado no Atlético-MG e sem brilho no Flamengo. A fazer-lhe companhia está Luiz Felipe Scolari, que voltou ao Brasil cercado de esperanças e não conseguiu acertar-se no Palmeiras. Adilson Baptista entra nessa, pela passagem quase relâmpago no Corinthians, embora tenha encontrado colocação no Santos. Andrade ficou meses esquecido, após a saída do Fla, e ao voltar a cena se deu mal com o Brasiliense. Ricardo Gomes saiu chamuscado do São Paulo, assim como Silas se queimou no Grêmio e no Fla. Tem a turma do lusco-fusco - com Tite, Joel Santana, Antonio Lopes, PC Gusmão e tantos outros. Nem glória nem grandes choques. Acho que esqueci de alguém. Ah, sim, Dunga, aquele que passou a Copa a ver complô até quando lhe davam bom dia. Melhor deixá-lo pra lá. Ele me lembra um presidente do Brasil que, ao deixar o cargo, pediu que o esquecessem. Pois então...

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.