
24 de fevereiro de 2014 | 02h04
A expectativa era que o colombiano Pabon, pelo centro do campo, conseguisse se aproximar de Luís Fabiano para tirá-lo do isolamento, afinal os "volantes que sabem jogar futebol" sempre estariam por perto.
No geral, o 0 a 0 mostrou o São Paulo superior, mais agressivo porque trabalhou melhor coletivamente, diferente do adversário. A linha mais próxima a Luís Fabiano recebeu Douglas, Pabon, Oswaldo e uma das melhores contratações dos últimos tempos, o lateral esquerdo Álvaro Pereira.
No tabuleiro das compensações, com Paulo Miranda e Douglas no time, a marcação se fortaleceu no lado direito para que o jogo pudesse ocorrer pelo esquerdo. Desconexo, o Santos perdeu a batalha no meio e manteve, principalmente no primeiro tempo, Thiago Ribeiro e Leandro Damião isolados.
Enquanto o São Paulo se esforçava para circular e preencher os espaços, a equipe de Oswaldo de Oliveira assistia. É preciso, porém, identificar os erros defensivos de ambos os times, e não foram poucos. Mas não o suficiente para tirar o placar do zero em partida de arbitragem confusa.
Com até três jogos em sete dias, o Paulistinha não permite que as falhas sejam corrigidas nos treinamentos, não há tempo entre uma partida e outra. A saída, então, é resolvê-los conceitualmente, nos jogos, como a questão de Ganso, no São Paulo.
A exemplo de tantos outros colegas de posição no Brasil, o meia tem dificuldade para realizar tarefas destinadas a simples mortais do futebol. É tanta classe com a bola nos pés que a luta pela recuperação dela parece missão impossível de ser realizada.
Boa parte dos problemas do jogador são-paulino deve ser creditada ao nosso jeito de encarar o jogo, na qual ao craque basta ser craque, sem transpiração. Não conseguimos aceitar o futebol como um sistema complexo. Durante muito tempo, a divisão de tarefas e competências dividiu as equipes em duas turmas: a habilidosa, nas redondezas do ataque, e a rústica, próxima ao goleiro.
Como um elo entre defesa e ataque, Muricy Ramalho comemora sua nova dupla de volantes. Falou dela três vezes em coletiva durante a semana, mas não conseguiu se livrar das perguntas sobre o jogador que deveria determinar o ritmo do time no meio de campo. Contratado na categoria de investimento, hoje Ganso não tem espaço no primeiro escalão do futebol europeu.
A preocupação de Muricy com os volantes é também parte dessa história. Se a um meia não cabe mais jogar apenas com a bola nos pés, nada mais natural que seus companheiros de meio de campo, dedicados à recuperação da bola, saibam conduzi-la e passá-la.
Esse é um problema que o futebol brasileiro terá que resolver. Está presente na formação dos jovens jogadores e no dia a dia de um dos treinadores mais vitoriosos do País, que sugeriu criatividade aos repórteres, cansado de tantas perguntas sobre Ganso. Incomoda, mas faz parte do ofício.
A leitura desse caso, entretanto, pode ser diferente. Muricy quer uma equipe coesa, em que todos enxerguem objetivos coletivos e não apenas individuais, o que a maioria dos nossos jogadores consegue aprender apenas na Europa.
A parte estranha dessa conversa de "volantes que sabem jogar futebol" é que os elogios de Muricy a Souza e Maicon arrebentam com a autoestima dos outros jogadores da posição, casos de Wellington e Denílson, pois a única certeza é que cedo ou tarde o São Paulo vai precisar deles.
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