Gigante encolhido

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Por Eduardo Maluf
Atualização:

A humilhante derrota por 6 a 0 para o Coritiba, na semana passada, no Paraná, provocou revolta na torcida do Palmeiras, assustou os dirigentes, resultou no discurso sofrido de Marcos e ganhou as manchetes dos jornais. A discussão, para mim, no entanto, é bem mais ampla do que uma simples análise da eliminação na Copa do Brasil, do atual momento da equipe, do trabalho de Felipão ou da nova diretoria. O desafio da cúpula alviverde é outro: pôr no papel tudo o que tornou o Palmeiras frágil há vários anos e repensar o rumo a ser seguido. Não quero irritar meu amigo Nilsão, competente diagramador do Estado e fanático torcedor alviverde. Mas as catástrofes recentes das quais o Palmeiras tem sido vítima são frequentes demais para um time grande. Eliminação contra o ASA, de Arapiraca, no Palestra Itália, rebaixamento para a Série B do Brasileiro, 7 a 2 do Vitória, perda de um título nacional quase certo, derrota para o rebaixado Goiás na semifinal da Sul-Americana, em São Paulo... Já faz algum tempo que o Palmeiras se tornou a quarta força do Estado, atrás de Corinthians, Santos e São Paulo. O clube, de enorme tradição, quase 100 anos de história, títulos estaduais, nacionais, uma Libertadores e craques inesquecíveis, adormeceu. E está demorando a acordar. Em bate-papo nos corredores da redação ou em churrasco com os amigos, já ouvi gente dizer que o "Alviverde deixou de ser grande para se tornar médio". Não compactuo com essa opinião. Concordo, porém, com os que afirmam que, hoje, é um gigante encolhido. Nos últimos 10 anos, o Palmeiras ganhou um Paulistão. E só. Decidiu poucos títulos, fez raras campanhas expressivas e (quase) não revelou nomes de impacto. Do fim da década de 70 até hoje, o clube apenas viveu momentos de brilho quando foi gerido, de fato, pela Parmalat. Ganhou os Brasileiros de 93 e 94, a Libertadores de 99, a Copa do Brasil de 98 e nos presenteou com aquele esquadrão fantástico de 96 (Cafu, Djalminha, Rivaldo, Júnior, Luizão, todos no auge da forma) sob a administração da multinacional italiana. O rompimento do contrato de parceria, em 2000, tirou o trem da linha. O Palmeiras se apequenou por uma série de fatores. Mustafá Contursi, o presidente no período de glória, perdeu-se com a saída da Parmalat, e o time foi rebaixado em 2002. Entrou Della Monica e pouco fez. Belluzzo chegou credenciado por sua competência como economista e pelo amor à camisa verde e branca. Investiu alto no elenco, mas não obteve resultado. As finanças no Palestra Itália sofreram abalo. Arnaldo Tirone ainda não teve tempo para dar uma cara à sua gestão. Mas já percebeu, em quatro meses, que não terá vida fácil. Uma forte demonstração de que a equipe vive impressionante carência de conquistas é o comportamento da torcida. Ela se empolga com uma sequência de duas ou três vitórias no Paulistão, lota o estádio, empurra os atletas, acredita que "desta vez vai", mas logo volta à realidade. Conversando com jogadores e técnicos nos anos em que fiz a cobertura do Palmeiras, entre 2001 e 2003, ouvi por diversas vezes a mesma reclamação: "Falta estrutura, os equipamentos de fisioterapia e recuperação estão defasados, a base não tem o tratamento que deveria ter, há muita pressão dos dirigentes sobre jogadores jovens por resultados rápidos, falta paciência e existe eterno racha político que interfere no futebol". No dia a dia do clube, pude perceber que as queixas tinham seus motivos. E vi outras coisas surpreendentes para uma agremiação de tão alto valor. Um exemplo: em janeiro de 2003, a diretoria apresentou um lateral-esquerdo para a imprensa, durante a pré-temporada, em Pouso Alegre (sul de Minas). Levou-o para entrevistas e fotos, e no dia seguinte o dispensou sem nenhuma explicação clara. A estrutura melhorou, dizem os palmeirenses, apesar da precária situação econômica. O time tem alguns jogadores de bom nível e não é tão inferior aos concorrentes. Mas em campo os resultados não aparecem. Já se foi o tempo de explicações. É hora de buscar soluções para voltar a ser grande.

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