Goleiros gigantescos

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Por UGO GIORGETTI
Atualização:

Os goleiros cresceram. Hoje, parecem jogadores de basquete com seus, em geral, mais de um metro e noventa de altura. Esse biótipo se cristalizou na mente dos espectadores e hoje em dia ninguém mais aceita goleiro abaixo dessa medida. No passado, ao contrário, era raro o goleiro muito alto. Não me lembro de nenhum que tenha feito sucesso. E as bolas cruzadas, na época, eram bem menos perigosas que hoje.O fato é que mudamos. O goleiro menos alto já entra sob suspeita. Já de cara é quase reprovado pela torcida que vê na sua altura uma possível desvantagem. Ele está em descompasso com a época. No seu simplismo, a torcida o vê como uma anormalidade. É isso que acontece com esse goleiro do Corinthians, crucificado pela desclassificação do time no jogo com a Ponte. Falhou é claro, mas a diferença é que para suas falhas não há desculpas. É um goleiro que não tem aspecto de goleiro, por isso suas atuações são examinadas com lupa, com atenção redobrada e na primeira ocasião é apontado como incompetente.Todos os nossos goleiros altos, mesmo os mitológicos, os eternos Marcos e Rogério Ceni, falharam e falharam feio. Lembro de Dida, considerado pelos corintianos como milagroso, enorme em estatura e moral, que, uma vez no Milan, começou muito bem para terminar bem mal, ridicularizado pela torcida italiana, com toda a sua envergadura e dimensões. É impossível não falhar nessa profissão, mas eles tinham altura de goleiro, cara de goleiro, jeito de goleiro.O goleiro atual do São Paulo falhou miseravelmente contra o Santos, mas Leão, antigo e grande goleiro, teve o bom senso de não demonizá-lo e mantê-lo com moral. Aliás, compare-se o tamanho do Leão, titular da seleção brasileira por muitos anos, e o tamanho de Denis, seu pupilo do São Paulo. Denis pode ser perdoado porque tem a natureza do goleiro. Mas Júlio César, não. Falhou outra vezes, me dizem. É verdade. Mas salvou muitas vezes. Na verdade tenho certeza de que é um jogador marcado por causa, primeiramente, de seu aspecto. Talvez isso esteja acontecendo também com zagueiros de área, mas com goleiros salta aos olhos. Esse goleiro do Botafogo, Jefferson, que dizem ser um excelente jogador, jamais será goleiro do Brasil. Andou pela seleção, depois de fazer milagres no gol do Botafogo, mas sua presença soou mais como uma momentânea experiência do que uma convocação a sério para fazer parte da seleção. É baixo, e neste momento não é mais a unanimidade que era tempos atrás. Porque ao goleiro baixo nada se perdoa. Deola, do Palmeiras, está no limite. Não é baixo, mas é baixo perto do Marcos que o antecedeu. Logo, suas falhas redobram de significado. Sei que os tempos mudaram e o brasileiro mudou até de tamanho. Mas tenho um pouco de saudade dos goleiros baixinhos que apareciam de quando em quando nos grandes times. E, às vezes, pegando tudo.

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