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Gustavo Borges: ´recebi ouro do próprio Fidel´

Foi no Pan de Havana, em 1991, que a carreira do ex-nadador ´começou mesmo´. ´Consegui também patrocínio´

Por Agencia Estado
Atualização:

"Não tem jeito: apesar de encerrar a carreira muito bem resolvido comigo mesmo, a hora que chegar a premiação do pódio no Pan do Rio vai dar aquela vontade de estar lá também. Afinal, foi a partir da primeira participação no Pan, em 1991, em Cuba, que minha trajetória na natação ganhou enorme impulso, um marco para mim. Assinei também meus primeiros contratos de patrocínio. E um Pan no meu País será sempre muito especial. Lembro-me bem de receber o ouro dos 100 metros livre do próprio Fidel Castro. Da bandinha que tocava o tempo todo. No início, até que nos divertíamos, um calor do cão, mas chegou uma hora que passou a incomodar. Eles fizeram um belo trabalho. Tudo funcionava e eram bastante simpáticos. Cuba não tinha uma equipe de natação com grandes chances de medalha de ouro, como na maioria dos outros esportes. Havia um nadador, nos 200 metros peito, que superou o favorito, um norte-americano: levaram o cara nos ombros até Fidel. As relações entre os dois países eram mais tensas. Posso dizer que minha carreira começou mesmo naquele Pan e terminou no de São Domingos, em 2003. Quando ganhei as 4 medalhas lá, estava consciente de que eram as últimas, mesmo sabendo que o próximo Pan seria no Rio. Tinha um sentimento de despedida. Agora será uma emoção diferente. Faço parte da comissão de atletas, órgão consultivo. Nesse período, estive também nos Pans de Mar del Plata, em 95, e de Winnipeg, em 99. Na edição argentina, nos alojaram numa base do Exército. Estabelecemos uma ótima relação com a imprensa. Hoje, alguns daqueles jornalistas se tornaram nossos amigos. Foi a melhor cobertura de Pan que vi. Consegui dois ouros, dois recordes. Vivemos tempo bem gostoso. Havia lá uma mesa de pebolim e outra de pingue-pongue. Eu jogava tanto pebolim que cheguei a ficar com o corpo todo doído. Aí, lembrei que nós, atletas da natação, somos bem sensíveis a dores no corpo. Disse a mim mesmo que tinha de parar, senão atrapalharia meu desempenho. Hoje vejo tudo isso mais como um efeito psicológico que real. Consegui meus melhores tempos nos dias em que estava dolorido. Acho que uma competição como o Pan será excelente para a natação brasileira. Tenho uma visão um pouco diferente da que se formou da atual geração de nadadores. A minha geração, formada também pelo Xuxa (Fernando Scherer) e o Rogério Romero, ganhou três medalhas na Olimpíada de Atlanta, em 96. Eu, duas; e o Xuxa, uma. A atual, do Thiago Pereira, Kaio Márcio e César Cielo, entre outros, chegou a cinco finais nos Jogos de Atenas. Como não trouxeram medalha, disseram que não era tão boa, embora com campanha superior. Mas, para mim, são bem capazes, estão prontos para o grande salto, a caminho de estar bem preparados. Os próximos quatro anos vão definir o que poderão conquistar. Vejo a base da pirâmide da atual geração como muito boa. A nossa não era tão sólida. Evoluímos bastante na técnica de treinamento, tornou-se menos necessário deixar o País. O César Cielo já tinha tempos muito bons antes de viajar para os EUA, treinando aqui com o Alberto Silva, meu técnico nos últimos 4 anos, no Pinheiros, o maior celeiro de atletas brasileiros. Acompanho o andamento da natação de perto e acredito estar contribuindo para sua evolução com um método que disponibilizamos para quem quiser. Ao promover capacitação profissional de técnicos e monitorar o trabalho realizado, vamos acabar ajudando a médio e longo prazo. Estamos investindo na educação, no Brasil inteiro." * Em depoimento a Livio Oricchio

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