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Há 30 anos, Joaquim Cruz era campeão olímpico nos 800 m

Antes de 1984, história do atletismo brasileiro nos Jogos era dos saltos. Mas o brasiliense de 21 anos trouxe um ouro para a pista

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Por Redação
Atualização:

Até 1984, o Brasil do atletismo olímpico era exclusivamente dos saltos - foram sete medalhas conquistadas, seis no triplo (com Adhemar Ferreira da Silva, Nelson Prudêncio e João do Pulo) e uma no altura (José Telles da Conceição). Joaquim Cruz mudou a história do País nos Jogos no Memorial Coliseum, em Los Angeles, há exatos 30 anos.

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Na noite do dia 6 de agosto de 1984, Joaquim Cruz alinhou na raia 6, com o uniforme todo azul e o número 93 no peito. Aos 21 anos, o brasiliense deu duas voltas na pista em 1min43, novo recorde olímpico (marca que foi superada apenas em Atlanta-1996), derrotando estrelas como os britânicos Sebastian Coe e Steve Ovett, recordista mundial e campeão olímpico, na ocasião. Pela primeira vez, o Brasil ganhava uma medalha em provas de pista - e, justamente, a de ouro.

 

Joaquim, que completou 51 anos em março, gostava mesmo era de jogar basquete. Mas foi convencido a mudar de modalidade por Luiz Alberto de Oliveira, seu primeiro e único técnico, no Sesi de Taguatinga, cidade-satélite onde nasceu. A partir dos 15 anos, começou a colecionar títulos. Em 1981, com 18 anos, bateu o recorde mundial juvenil (1min44s30) no Troféu Brasil, disputado no Estádio Célio de Barros - que foi destruído para virar estacionamento do Maracanã -, no Rio.

Naquele mesmo ano, Joaquim rumaria para os EUA, de onde nunca mais saiu. Ele ganhou uma bolsa de estudos da Universidade do Oregon e foi morar na cidade de Eugene. Em 1983, ele disputou o primeiro Mundial de Atletismo, em Helsinque (Finlândia), e conquistou o bronze nos 800 metros. Era um indício do que ocorreria no ano seguinte.

Joaquim entrou para a prova dos 800 metros e disputou três baterias eliminatórias até a final. Ganhou todas. Na prova decisiva, combinou uma tática com Luiz Alberto: não ficaria à frente durante boa parte do percursos, com a intenção de guardar energias para o fim da prova. Perto dos últimos 100 metros, ele dispara à frente do americano Earl Jones, que seria o terceiro colocado - Coe seguiu o brasileiro, e ficou com a prata. "Se não tivesse corrido tantas etapas, poderia ter batido o recorde mundial", disse, à época, Joaquim. E pediu mais apoio ao atletismo brasileiro. "No Brasil, o futebol está em primeiro lugar, o vôlei em segundo, e o atletismo em último. Espero que minha medalha possa mudar alguma coisa."

Menos de um mês após se tornar campeão olímpico, ele conquistou sua melhor marca da carreira - 1min41s77, conquistada em 26 de agosto de 1984, em Colônia (Alemanha). Ainda hoje, esse tempo coloca o brasileiro como o quinto atleta de todos os tempos nos 800 metros, segundo o ranking da Federação Internacional de Atletismo. O recordista mundial David Rudisha, do Quênia, tem a melhor marca da história, 1min40s91, obtida na final da Olimpíada de Londres, em 2012.

Joaquim ainda estava inscrito para a prova dos 1.500 metros em Los Angeles, mas uma gripe o impediu de correr. Ele esteve em mais duas edições olímpicas. Nos Jogos de Seul, em 1988, ficou com a medalha de prata nos 800 metros, perdendo para o queniano Paul Ereng na reta final da prova. Em Barcelona-1992, já lutando contra uma série de lesões, não conseguiu se classificar. Sua despedida foi em Atlanta-1996, quando foi o porta-bandeira da delegação brasileira, e ficou fora da final. A despedida definitiva das pistas ocorreu no ano seguinte, durante o Troféu Brasil.

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Após o País conquistar a oportunidade de sediar os Jogos de 2016, o Comitê Olímpico Brasileiro manifestou a intenção de repatriar Joaquim Cruz, que vive nos EUA desde 1981. Mas, segundo o ex-atleta, o assunto não foi adiante - e o Comitê Olímpico Americano não quis perder o treinador. Assim, o brasileiro foi contratado como técnico em período integral pelo USOC, e está baseado no Centro de Treinamento de Chula Vista, na Califórnia. Joaquim é técnico das equipes olímpica e paraolímpica dos EUA. Esteve no Brasil, em 2007, no Para-Pan do Rio. Viagem que vai se repetir daqui a dois anos.

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