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Por Daniel Piza e daniel.piza@grupoestado.com.br
Atualização:

Escrevi aqui em 2005 um texto chamado "Por que o Brasil é grande no futebol", que usava como uma das premissas o fato de que no ano anterior o Brasil tinha tido cinco indicações entre os dez melhores jogadores (Ronaldinho, Ronaldo, Adriano, Kaká e Roberto Carlos), afora jogadores em ascensão como Robinho. Além de ser pentacampeão e a pátria de Pelé, Garrincha, Tostão, Zico e Romário, o Brasil tinha levado até então sete dos prêmios de melhor do mundo dados pela Fifa desde 1991, o que era uma prova de que, ao contrário do que diziam os românticos, o talento brasileiro tinha conseguido se renovar nos tempos modernos de força e velocidade. De lá para cá, no entanto, a coisa piorou bastante. O Brasil saiu de cabeça pendida da Copa de 2006 e apenas Kaká aparece entre os finalistas dos prêmios individuais deste ano, sendo Cristiano Ronaldo o justo favorito para o da Fifa. Ronaldinho, o "novo Pelé", que não fez nenhum gol naquela Copa, entrou em decadência no Barcelona - que agora vive momento ainda melhor - e tenta recobrar a reputação no Milan. Tem feito alguns gols, num time que precisa rejuvenescer e vencer a dependência que tem de Kaká, mas está longe de brilhar - e quem viu o jogo contra a Juventus, no sábado, mal o encontrou em campo. Ronaldo engordou e nunca mais fez uma temporada completa. Adriano, bem inferior tecnicamente, se afundou em problemas pessoais. Roberto Carlos, como Cafu, se aposentou. Robinho virou o que mais se temia: um Denílson melhorado, para quem o torcedor inventou a piada de que é um "triatleta" que corre, pedala e... nada. Basta abrir uma revista como essa excelente Four Four Two (www.fourfourtwo.com), que na edição de dezembro elege os cem melhores jogadores do mundo. Lá estão dez brasileiros, e apenas Kaká entre os vinte primeiros colocados. A Itália tem treze escolhidos; a Espanha, doze. Os dez melhores, pela ordem, são: Cristiano Ronaldo, Messi, Fernando Torres, Casillas, Kaká, Villa, Ibrahimovic, Aguero e Ferdinand. É uma escolha polêmica, porque desmerece Xavi (11º), Lampard (13º) ou Etoo (36º), mas é difícil defender um brasileiro além de Kaká. Os outros nove e seus lugares são os seguintes: Daniel Alves (23º), Máicon (26º), Luiz Fabiano (31º), Robinho (42º), Ronaldinho (70º), o injustiçado Juninho (73º), Diego (83º), Mancini (84º) e Amauri (94º), que fez os dois gols da Juve no Milan. É claro que essa lista abrange apenas os campeonatos europeus, que há três brasileiros naturalizados (Deco, Pepe e Marcos Senna), que a seleção tem mais candidatos (Júlio César, Alex Silva, Marcelo, Pato) e que, dos melhores jogadores atuantes no Brasil, seguramente Rogério, Miranda, Hernanes e Alex também poderiam estar ali. Mas o fato é que o Brasil já não vive o mesmo momento de três ou quatro anos atrás e que seu campeonato não prima por grandes clubes. O São Paulo não pode ser comparado com Chelsea (doze nomes na lista), Barcelona, Inter, Manchester e outros das ligas mais ricas. Sim, há motivos individuais (Ronaldinho e Adriano não poderiam ter decaído tão cedo) e circunstanciais, mas a reversão disso passa obviamente pela profissionalização dos clubes nacionais, para que reduzam o número de exportações (Miranda, Hernanes e Ramires, aliás, quase foram embora) e invistam mais na base. A chegada de Ronaldo não aponta para essa tendência positiva, por se tratar de um caso particular. Mas quem sabe inspire a busca de craques e o fim da idéia de que é suficiente ter "o mais disputado campeonato do mundo". Menos ufanismo e mais pragmatismo, eis como reagir.

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