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Inacreditável!

Grand Prix

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Por Reginaldo Leme
Atualização:

Nem a opinião de torcedores de 17 países nem a sugestão das equipes. Nada disso valeu na hora de se tomar uma medida unilateral tão errada como esta mudança de critério para se definir o campeão mundial. Onde foi parar a preocupação de se examinar a legalidade dos carros até no máximo duas horas depois de cada GP para que o público não tenha a decepção de ver o resultado modificado nos jornais do dia seguinte, se agora a FIA pretende convencer o torcedor a aceitar que o campeão não será mais aquele piloto que, durante o ano, marcar mais pontos? Isso contraria tudo em qualquer modalidade esportiva, mesmo naquelas que são decididas através de playoffs. Não aceitar a sugestão de um novo sistema de pontuação, com 12 pontos para o primeiro, 9 para o segundo, 7 para o terceiro e de 5-4-3-2-1 do 4º ao 8º colocados só pode ser entendido como forma de mostrar à Fota (Formula One Teams Association) que ela não tem o poder que acha que tem. Pura bobagem, porque se as equipes e as montadoras que a compõem realmente quiserem exercer o poder, elas interrompem o Mundial a qualquer momento. O texto do protesto, por enquanto pacífico, diz tudo: "A F-1 corre o risco de se distanciar de sua própria essência e dos princípios que fizeram dela um dos esportes mais populares e atraentes." Valorizar a vitória é um conceito correto. Mas o método é desastroso. Através de uma pontuação mais justa, o piloto que mais vencesse corridas naturalmente teria maiores chances de chegar ao título. E se não chegasse, seria porque, em algum momento durante o ano, ele cometeu erros demais ou seu carro quebrou demais. Portanto, teria sido inferior ao adversário. Se a decisão do ano passado foi tomada como exemplo para Ecclestone vir com aquela idéia de medalhas olímpicas, é só fazer as contas e ver que, adotada a pontuação de 12-9-7, Hamilton e Massa teriam terminado o ano empatados em 113 pontos e aí, sim, Massa seria o campeão por ter uma vitória mais. Isso é justiça. A verdade é que o sistema de 10-8-6-5-4-3-2-1, adotado desde 2003, sempre foi criticado pela pequena diferença de 2 pontos entre o vencedor e o segundo colocado. Mas o propósito era este mesmo. A idéia, por incrível que pareça, era desvalorizar a vitória numa época em que Schumacher ganhava tudo, e pretendia-se evitar que o campeonato fosse decidido com antecedência. Antes, vigorava a pontuação 10-6-4-3-2-1, com 4 pontos entre o 1º e o 2º, instituída na época da briga Senna-Prost já com o intuito oposto, de valorizar as vitórias de Senna e tirar um pouco da força da regularidade de Prost no tradicional 9-6-4-3-2-1, em vigor nas três décadas anteriores. A FIA conseguiu desagradar a pilotos, chefes de equipes e até Schumacher, o maior vencedor da história. A favor da mudança só há o argumento de que, na decisão do ano passado, Hamilton teria lutado pela vitória a qualquer custo. Mas, dependendo da posição de largada, um piloto com carro bom só pode disputar a vitória se sair de trás jogando pra fora da pista todo mundo que disputar uma curva com ele. Chegar em segundo já não vale mais nada. O campeão pode ser um cara com 5 vitórias e 12 abandonos. E o pior é a possibilidade de uma equipe se definir por este ou aquele piloto logo que um deles tiver conseguido duas ou três vitórias. Em nome da correção de eventuais "injustiças", a história da Fórmula-1 foi deturpada.

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