Ironman: mandioca é arma de atleta

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Por Agencia Estado
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O maranhense Francisco de Souza Silva não se atreve a sonhar com o pódio do Ironman, em Florianópolis, sábado. Para o repositor de produtos do supermercado ?Barateiro de Piraporinha?, na zona Sul de São Paulo, o desafio é concluir a prova em menos de 12 horas, contando com a sorte e a ajuda "energética" da mandioca, que sempre carrega na camisa de ciclista - cozida e embrulhada em papel alumínio. A crença na raiz vem de menino, quando "comia macaxeira no café da manhã antes de ir para a roça e passava várias horas sem fome". O hábito ganhou fama entre outros atletas e ele virou o "Chiquinho da Mandioca". A prova em Florianópolis terá 3,8 quilômetros de natação, 180 km de ciclismo e 42,195 km de corrida. Nesta terça-feira, antes que o preço de R$ 0,19 por quilo fizesse o produto sumir da prateleira, Chiquinho separou os 10 quilos de mandioca que vai levar para Florianópolis, cozida e congelada, em um isopor. "Não vou poder parar para comer por 12 horas e não consigo só tomar energéticos. Com a mandioca, me sinto alimentado, sem fome." Chiquinho já procurou explicação científica para o benefício do alimento com o médico Lancha Júnior, "do doutor Abílio" (refere-se a Abílio Diniz, o dono da rede Pão de Açúcar, para a qual o atleta trabalha). E também com a nutricionista Patrícia Campos, que assessora a equipe de atletismo patrocinada pelo mesmo grupo. "Talvez isso aconteça porque é um carboidrato que libera energia aos poucos", diz ele, que sempre procura tirar o máximo proveito dos alimentos, usando a sabedoria popular. "Evito gorduras e como frutas, leite, mel, iogurte..." Disposição - Energia não falta ao pequeno Chiquinho, de 36 anos, 1,61 metro e 57 quilos. Trabalha o dia inteiro e ainda encaixa, no seu dia-a-dia, os treinos para o triatlo, o ironman e a maratona. De manhã ou à noite, antes ou depois do trabalho, ou ainda na hora do almoço, corre, pedala e nada na Represa de Guarapiranga. "Ontem, na hora do almoço, fui para casa de lotação e voltei os 10 km correndo." A vida de atleta começou com um sonho de menino, o mesmo de muitos brasileiros: ser jogador de futebol. Mas para quem nasceu em Barro Duro, no município de Tutóia, e foi criado em São Luís, no Maranhão, o sonho ficou distante. "Menino do interior, trabalhando na roça, vai ser jogador de futebol como?" Mas a vontade de ser atleta não morreu. Chiquinho passou pelo ciclismo e começou a correr em 1985, quando viu, na tevê, o biótipo mignon do equatoriano Rolando Veras, vencedor de quatro edições da São Silvestre. "Achava que corrida era para gente alta." Em 90, veio morar em São Paulo para correr. Vive com o salário de repositor - orgulha-se do filho Nicolas, de 1 ano e 2 meses, que provou mandioca aos três meses, na papinha -, mas compete com o apoio do Pão de Açúcar, que paga as despesas de competições e oferece auxílio da equipe técnica. Já correu quatro vezes a Maratona de Nova York e o de Florianópolis será seu terceiro Ironman. "Olha só o tênis. Meu salário não daria para ter um salário mínimo no pé", brinca, sobre o calçado importado. Recompensa o patrocinador "com enorme orgulho de vestir a camisa."

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