A Copa do Mundo de Rúgbi, que está sendo disputada na Inglaterra e que começou no último sábado, já reservou algumas surpresas. A maior delas, com certeza, foi a vitória do Japão em cima da tradicional seleção da África do Sul, duas vezes campeã mundial (1995 e 2007) por 34 a 32 em jogo disputado no sábado. Ontem, contudo, a seleção nipônica não foi páreo para a experiente Escócia, mas mesmo assim não abandou em nenhum momento o estilo de jogo ofensivo, sem desistência, mostrado na primeira partida. A explicação para isso tem nome e sobrenome e vem do mundo do futebol: Pep Guardiola.
Mas o que o treinador espanhol, (que a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) não quis contratar para comandar a seleção brasileira na Copa do Mundo do ano passado) que hoje comanda o Bayern de Munique e que montou um dos maiores times da história do Barcelona em 2009 tem a ver com o rúgbi? A história começa em 2014, com o australiano Eddie Jones, técnico do Japão. Como grande ‘hooker’ em sua carreira como jogador, Eddie já comandou a seleção da Austrália, é experiente e além do rúgbi é apaixonado por futebol. Ele acredita que os conceitos do esporte de Neymar e Messi podem ser aplicados ao rúgbi, sobretudo a exigência de movimentação da bola por todos os espaços possíveis do campo de jogo. Foi aí que ele resolveu procurar Guardiola no ano passado.
“Suas equipes jogam com a posse de bola. É a mais fantástica forma de se jogar o esporte e o princípio do futebol e do rúgbi são exatamente iguais”, afirmou o treinador australiano na época. Sua tese de jogo em bloco funcionou contra a África do Sul no sábado, quando viu a seleção japonesa conquistar a vitória com um trie na última jogada da partida.
Antes de viajar para Munique e observar o trabalho de Guardiola à frente do Bayern, Eddie tinha visto seus jogadores perderem dois amistosos em novembro, para Romênia e Georgia. As expectativas dos japoneses para essa edição da Copa do Mundo não eram muito promissoras. A ideia era agregar experiência para uma boa performance no Mundial de 2019, que será justamente disputado no Japão.
Seu time tem jogadores com bom potencial ofensivo, mas a chave para a melhora do jogo japonês não vem da força, tão comum entre grandes seleções de rúgbi, mas sim por sua habilidade para ocupar espaços, com e sem a bola, e explorar a grande velocidade de seus atletas. Foi assim que surgiu a vitória contra a África do Sul, com a bola girando da direita para a esquerda em altíssima velocidade. Outra chave “copiada” por Eddie é a tentativa de redução do tempo de suas jogadas. Quanto mais rápido, maior a chance de repetir e conquistar mais pontos.
Ainda é cedo para se determinar que esse esquema dará certo, mas o que pode-se constatar é a vontade de inovação de um grupo, que tenta chegar a 2019 com condições de se classificar para a segunda fase da competição. É bom não duvidar.