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Jogo feio, gols bonitos

Por Antero Greco
Atualização:

Você certamente ficou feliz com a vitória sobre o Chile. Não é para menos. A seleção saltou as oitavas de final e continua no caminho do sexto título mundial. Faltam três degraus para a consagração, sem direito a tropeços. Então, é hora de o crítico colocar areia no time de Dunga? Sim, uma pitada. Porque até fazer o primeiro gol, mostrava futebol feio, como havia acontecido diante de Coreia, Costa do Marfim e sobretudo no empate por 0 a 0 com Portugal. Depois de abrir a porteira do rival, o Brasil se impôs, como nas duas rodadas iniciais, ampliou a vantagem e fez o resultado que lhe interessava. Sem sustos. Mas sempre a abrir mão do espetáculo, embora tenha talento para jogar mais.O contraponto para esse estilo excessivamente pragmático fica para os gols. Assim como nos triunfos anteriores, todos foram bonitos, em especial os de Luís Fabiano e Robinho. Mesmo o de Juan, de cabeça, e em cobrança de escanteio, merece destaque. Pois não só escancarou o caminho para as quartas de final, como foi uma espécie de prêmio ao desempenho eficiente de um dos melhores e mais discretos zagueiros brasileiros que vi jogar. Ele me faz lembrar Luisinho, da seleção de 1982, pela elegância e pela segurança.Significa que vai tudo bem? Não. A equipe demora a pegar. Larga em marcha-lenta, erra passes, deixa espaços. Parece displicente e desconjuntada. Falta-lhe ousadia, atravessa o samba. Porém, muda em parte ao obter o primeiro gol. Então, mostra solidez no sistema defensivo e explora contragolpes, a sua arma mortal. E faz a festa quando pega adversários sem qualidade para agredir e atrapalhados para defender-se. São as vítimas ideais.Louve-se a eficiência desse grupo. Porém, há reparos. O meio-campo funciona como escudo para a defesa ? no que vai bem ?, mas raramente se solta. Se o fizesse com mais frequência, aumentaria o poder de fogo e aliviaria a missão de Kaká, que tem encontrado dificuldade para criar e ainda está aquém de forma física exuberante. Em dois momentos em que se deixaram dominar por espírito aventureiro, Gilberto Silva e Ramires surpreenderam. O primeiro, num belo chute na etapa inicial. O segundo, numa arrancada que resultou no gol de Robinho. Atos esporádicos.O Brasil pode render mais ? e dá pistas disso ao encaixar trocas de passes, como no gol de Luís Fabiano. O que lhe falta? Constância. O grande teste virá na sexta contra a Holanda. Se passar, encorpa de vez e vai para a decisão.

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