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Legião estrangeira

Boleiros

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Por Redação
Atualização:

Assistindo aos jogos que deram início às oitavas-de-final da Liga dos Campeões da Europa, vi aquela quantidade enorme de jogadores do mundo inteiro atuando pelas equipes do Velho Continente. Times da Inglaterra com apenas dois ingleses, times espanhóis parecendo uma legião estrangeira e assim por diante. É um quadro definido, não há mais o que dizer. Embora me pareça antinatural, é a ordem de um mundo globalizado, dominado pela força do mercado, que merece uma análise com outros parâmetros que não mais a nacionalidade dos atletas. Cada equipe procura seu estilo de jogo de acordo com a sua própria tradição, mais o estilo de seus técnicos, versus a composição de seus elencos. Alguns podem ver nisso a riqueza da mistura, outros, a pobreza da perda de identidade. A constante emigração de nossos atletas para os centros mais poderosos, mais organizados e mais ricos é uma tônica da atualidade que só poderia ser revertida se o Brasil passasse a ocupar um lugar diferente na economia mundial. Lugar esse que sempre parece possível, mas que continuamente segue inatingível, pois nenhum governo conseguiu romper com a estagnação que políticas econômicas sucessivas insistem em nos manter - o de coadjuvante do crescimento. Estamos sempre à margem do espetáculo do desenvolvimento. Mas vou parar por aqui, já que desse assunto falo com a mais convicta das ignorâncias - não entendo de economia, não gosto de política. Conversando com alguns amigos, percebi que tenho uma posição bem cética quanto aos benefícios que trará a Copa de 2014, aqui no Brasil. A cada novo estádio apresentado pela China para os Jogos Olímpicos, vejo o quão atrasados estamos (em todos os sentidos) para dar esse salto qualitativo na infra-estrutura. Pessimismo? Nem tanto. Realismo. Ao observar a decrépita condição de nossos estádios, não saberia nem por onde começar a tratar de sua reabilitação. Demolir ou reformar? Construir ou recuperar? Certamente haverá uma equipe que vai cuidar desse assunto com competência e sensatez e preparar a pasta de soluções brilhantes e criativas que irá surpreender pela capacidade de realização. Com ou sem cartões corporativos? Provavelmente com? Há poucas semanas, quando ainda estava em Roma, escrevi aqui que bom mesmo era ver futebol no Brasil. Recebi vaias e tomates. Parece contradição, mas é isso mesmo. Fui ao Estádio Olímpico assistir a Roma e Sampdoria e senti falta do pernil e o do amendoim. Gostaria que tivéssemos os avanços tecnológicos que o dinheiro traz, mas o problema aqui é que o dinheiro sempre encontra o caminho viciado de voltar para as mesmas mãos. Nunca nas mãos de quem investe, sempre nas mãos de quem desvia para o próprio bolso. Queria mesmo é que o Ronaldo nunca tivesse se contundido para que voltasse a jogar no Brasil por simples prazer e diletantismo. Assim como fez Romário. Sua recente contusão me encheu de tristeza. Além de seu futebol fascinante e controverso, sua grandeza e carisma sempre deram aos torcedores aquilo que se deseja e quer: prazer. Sua história incessante de retornos épicos e custosos aumentou sua imagem de força, mas num aspecto dispensável. Não há mais nada a ser provado, apenas que o desejo não tem fim. Torço para que ele volte a querer jogar. Em qualquer lugar, mas de preferência aqui, perto de nós. Não como um ato de misericórdia, mas, sim, como um desfecho alegre e leve, sem o peso das pressões sanguinárias dos patrocinadores corruptos.

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