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Limites da paciência

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Por REGINALDO LEME
Atualização:

Estaria acabando a paciência de Fernando Alonso com a Ferrari? É o que alguns jornais europeus dizem. Piloto da equipe italiana desde 2010, nunca teve um carro de fato competitivo. No primeiro ano ainda conseguiu lutar pelo título até o final, mas acabou derrotado por um erro de estratégia da Ferrari na corrida decisiva em Abu Dabi. Nos anos seguintes, foi pior. Mesmo sendo o piloto mais talentoso da F-1, não teve como superar os problemas dos carros ruins que pilotou em 2011, 2012 e agora em 2013. Até ganhou duas vezes no início desta temporada, mas, depois de nove etapas, já está 34 pontos atrás do líder Vettel e não vê com muito ânimo a possibilidade de reação da Ferrari. Está ficando cada vez mais difícil até mesmo acompanhar o ritmo dos carros da Lotus e Mercedes. A Ferrari parou no tempo e Alonso viu desaparecer a sua cotação de favorito. Nos três anos e meio de Ferrari, o espanhol soma 11 vitórias (cinco em 2010, uma em 2011, três em 2012 e duas em 2013). Com o mesmo tempo defendendo a equipe italiana (de 1996 até a metade de 1999, quando quebrou a perna em acidente na Inglaterra), Michael Schumacher tinha vencido 16 vezes. Alonso não tem pavio muito longo, mas costuma ser discreto nas críticas. É difícil crer que tenha demonstrado falta de paciência desde já. Primeiro porque quando Schumacher foi contratado pela Ferrari, ele tinha sido campeão nos dois anos anteriores pela Benetton e passou quatro montando a equipe italiana ao seu estilo para ser campeão no quinto. Portanto, Alonso está dentro da margem de erro que Schumacher enfrentou. O problema é que, quando foi para a Ferrari, o espanhol já estava três anos sem vencer o campeonato.Se não for campeão este ano, completará sete sem título. Mas a razão mais forte para o espanhol engolir calado os carros ruins é que ele não tem pra onde correr. Na Red Bull não há lugar para Vettel e Alonso. Na McLaren o filme do espanhol está queimado por conta de toda a desavença com Hamilton e Ron Dennis em 2007. A Lotus, além de não ter dinheiro para pagar Alonso, seria aposta arriscada demais para quem está deixando uma Ferrari. O melhor lugar para lutar contra a Red Bull ainda é aquele que ele ocupa no momento.Quem sabe as coisas mudem a partir do GP da Hungria. A esperança é pequena, mas existe. Nesta corrida estreiam os novos pneus construídos depois dos problemas enfrentados especialmente na pista veloz de Silverstone. Eles mantêm os compostos de 2013, mas com a estrutura de 2012, quando o carro da Ferrari teve melhor desempenho. Correr em Hungaroring é como correr em Mônaco.Carros com alta pressão aerodinâmica, ajustados para passar a maior parte do tempo em curva e enfrentar apenas uma pequena reta, onde o tempo de aceleração plena não passa de 10 segundos, proporcionam o cenário ideal para bom desempenho de Red Bull, Lotus e Mercedes. Não por acaso, os quatro primeiros este ano em Mônaco foram Rosberg, Vettel, Webber e Hamilton, carros de Red Bull e Mercedes. Não fossem os muitos problemas de Raikkonen, inclusive um pneu furado nas voltas finais, a Lotus completaria o quinteto. Em 2012, quando a McLaren tinha um carro muito equilibrado, Hamilton venceu a prova, com os dois pilotos da Lotus (Raikkonen e Grosjean) completando o pódio. Com raríssimas exceções (três vezes em 27 anos), Hungaroring não dá chance a quem larga fora das três primeiras posições do grid. A velocidade média em Hungaroring, em torno de 180 km/h, é a segunda mais baixa do campeonato, concorrendo não com outros autódromos, mas com as ruas de Monaco. Até mesmo Cingapura e Melbourne têm velocidades mais altas. A velocidade dos carros no pit stop também diminui. Passa de 100 para 80 km/h, consequência do acidente que machucou um cinegrafista, atingido pela roda que se soltou do carro de Mark Webber em Nurburgring. Agora o limite de velocidade no pit lane será sempre a mesma (80 km/h). Antes era de 60 em treino e 100 em corrida. Na pista húngara a mudança significa que os pilotos vão gastar pouco mais de 16 segundos para percorrer o pit lane. Com o limite em 100 km/h, o tempo gasto era de 12 segundos.

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