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Maioria ainda vive nas zonas rurais

É difícil migrar para as cidades

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Por Redação
Atualização:

Uma das coisas que intrigam os estrangeiros em relação à China é o fato de o país ainda ter 56% de sua população na zona rural e não ter vivido um processo de inchaço desordenado das cidades em razão da migração massiva de camponeses para os centros urbanos, em busca de trabalho. A resposta se chama hukou, um sistema de registro de residência hereditário, que dá ao governo enorme controle sobre a movimentação de sua população de 1,3 bilhão de pessoas. Apesar de ter sido amenizado nos últimos anos em razão das necessidades do crescimento econômico, o hukou continua a restringir a liberdade de grande parte dos chineses para decidir onde querem viver - especialmente se forem pobres e camponeses. A primeira grande divisão ocorre entre moradores do campo e das cidades, que possuem status diferenciado. As pessoas que têm um hukou da zona rural nunca vão conseguir se estabelecer de maneira definitiva nos centros urbanos, onde não podem comprar imóveis e não têm acesso a serviços sociais básicos, como saúde e educação. Como sua mão-de-obra é necessária nas inúmeros construções das grandes cidades, os camponeses obtêm registros de residência temporários, que valem somente para o período em que estiverem empregados. Terminado este prazo, têm que voltar para a vila rural de onde vieram ou continuar sua peregrinação no país até encontrar outro trabalho temporário. Sem o hukou, esses migrantes rurais não podem matricular seus filhos nas escolas e pagam mais caro pelos serviços médicos. É como se eles fossem imigrantes ilegais dentro de seu próprio país. Por isso, a grande maioria vai para as cidades sem as famílias e dificilmente cria raízes. Eles moram em dormitórios próximos das obras e normalmente deixam a cidade quando seu contrato chega ao fim. O governo chinês estima que há cerca de 150 milhões de migrantes rurais no país, que vivem em condições precárias e sofrem todo o tipo de discriminação. Nas ruas de Pequim, é possível reconhecê-los pelas roupas humildes, a pele queimada de sol e o saco que carregam nas costas com seus pertences. Os moradores das cidades também enfrentam restrições para mudar de um lugar para o outro. Uma pessoa com hukou de Chengdu, por exemplo, pode morar em Pequim, mas se não tiver um contrato de trabalho nem for matriculada em uma escola, ela não poderá usar os serviços sociais da cidade. E, em qualquer situação, se ficar grávida, uma mulher tem que voltar ao local onde tem o seu hukou para obter uma ''permissão de nascimento'' e realizar o pré-natal e o parto - para não pagar mais caro pelos serviços em outra cidade. Rural ou urbano, todos os chineses precisam se registrar na polícia se estiverem fora do local onde têm residência permanente, o que é um poderoso instrumento de controle sobre a população. Criado em 1958 justamente para evitar a migração de camponeses para as cidades, o hukou tem sido criticado até pelos jornais oficiais chineses, que vêem no sistema um empecilho para a livre movimentação de trabalhadores no país. Mas não há indícios de que ele possa ser cancelado no curto prazo.

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