Publicidade

Maratona de Nova York terá participação de 50 mil corredores

Competição acontecerá neste domingo e contará com a presença de centenas de brasileiros

PUBLICIDADE

Por Marina Aragão
Atualização:

Mais de 50 mil corredores de 125 países vão seguir na mesma direção para tentar completar o percurso de 42.195 metros da Maratona de Nova York, uma das mais charmosas do circuito Top 5 e realizada no primeiro domingo de novembro desde 1970. A edição deste ano ocorrerá no dia 3 e contará com a presença de centenas de brasileiros amantes do esporte. Eles não almejam o tão sonhado primeiro lugar no pódio. Na verdade, correm por amor pelo que a corrida representa nas suas vidasm conforme dito por alguns deles ao Estado.

O economista e professor universitário Natalício Cândido da Silva estava arrumando as malas quando atendeu, por telefone, a reportagem do Estado. Aos 74 anos, um dos corredores mais experientes da prova estava nos últimos preparativos para ir à sua 80ª corrida da vida e participar da Maratona de Nova York pela 20ª vez.

Natalício Cândido da Silva, professor universitário de 74 anos, correrá maratona Foto: Divulgação

PUBLICIDADE

Natalicio conta que é amante de esporte desde criancinha. Começou com a natação e depois partiu para o boxe. Ao entrar na faculdade, o tempo ficou curto, mas quando achava um espacinho na agenda, corria. A partir daí, tomou gosto pelos passos rápidos. Em 1964, participou da sua primeira prova e de lá para cá não parou mais.

Sempre com a bandeira do Brasil estampada no peito, ele já perdeu as contas de quantos lugares ao redor do mundo já conheceu correndo. "Enquanto o dedinho mexer, vou continuar correndo", avisou, não dando prazo para qualquer aposentadoria das ruas. Com 1,79 m e 82 kg, Natalício brinca que quando vê os amigos da mesma idade, ele se sente bem.

Animado por correr mais uma vez em Nova York, se empolga ao contar os eventos que marcaram sua vida, exceto um: em 2012, a Maratona de Nova York foi cancelada por causa do Furacão Sandy. "Todo mundo ficou muito triste naquele dia". Em compensação, outras viagens renderam até coquetel no comitê do então presidente dos Estados Unidos na época, Barack Obama.

Com uma coleção de histórias marcantes proporcionadas pelo esporte, Natalício revela seu desejo de colocar todas elas num livro. Um dos momentos em que a corrida o ajudou foi na morte de Dona Neuza, sua mulher, em maio deste ano. Ela era sua parceira e maior incentivadora. "Isso me desanimou bastante, mas resolvi voltar. Se não fossem as corridas, estaria muito mal", ressaltou.

Brasileiro faz selfie no bairro do Brooklyn na edição de 2018 da maratona. Foto: Hilary Swift/The New York Times

Para ele, as medalhas que conquistou valem menos do que os passos dados. Natalício ri e comenta, com orgulho, que não sabe quantas já acumulou. Ele guarda com carinho o saco de mais de 20 kg e é adepto do famoso bordão "o importante é competir". Para ele, a medalha que traz de volta para casa é sua prova de que esteve na competição. Nada mais importa. A colocação é apenas um detalhe.

Publicidade

Custos

Participar de uma maratona em Nova York não é tão barato. Tem o custo da passagem aérea, hospedagem, inscrição no evento... Certa vez, Natalício vendeu o carro para poder participar da corrida. "Se você gosta da coisa, você acaba pagando o preço", diz. Tamanha importância, o corredor conta que encara a corrida como uma lição de vida. "Você começa correndo 5 km, 10 km, e sabe que o próximo quilômetro você vai ter de vencer para chegar ao 42, sejam quais forem os obstáculos. Isso é como a vida", compara.

Vista do skyline de Nova York. Foto: Caitlin Ochs/ Reuters

ESTREIA

PUBLICIDADE

Ao contrário de Natalício, o jornalista Marcel Agarie, 39 anos, vai correr a Maratona de Nova York pela primeira vez. Mas a corrida será a sexta na sua fase de corredor - a primeira foi a Maratona de São Paulo, em 2018, depois a de Berlim, também no ano passado, depois ainda a do Rei da Montanha. Neste ano, ele completou a Maratona do Rio de Janeiro, a de Buenos Aires e agora participará nos Estados Unidos.

O corredor sabe que esta edição da prova será um desafio e afirma que o mais difícil é o treino de preparação para conseguir ir bem. "Exige bastante disciplina, desde a parte de alimentação até treinamentos. Em média, a gente pratica quatro vezes por semana e nos dias que não têm treino, você tem de fazer musculação", explicou.

Marcel Agarie Foto: Marcel Agarie

A pessoa deve gastar entre R$ 12 mil e R$ 15 mil, porque tem passagem aérea, tem a parte de hotel, e é preciso chegar um pouco antes para se ambientar

Marcel Agarie, corredor debutante em NY

Outro desafio é o custo salgado para a aventura. Marcel está sendo patrocinado, mas, de acordo com ele, os corredores "autônomos" precisam pagar academia, suplementos e viagem. "A pessoa deve gastar entre R$ 12 mil e R$ 15 mil, porque tem passagem aérea, tem a parte de hotel, e é preciso chegar um pouco antes para se ambientar", explicou.

Marcel não nasceu atleta. Ele conta que começou a correr de um modo não tão "convencional" e "quase sem querer". Com uma vida sedentária, pesava quase 100 kg - eventualmente, jogava bola com os amigos. Mas, no começo de 2012, em uma dessas partidas, ele rompeu o tendão de Aquiles do pé esquerdo. Escutou de um fisioterapeuta que nunca mais iria conseguir voltar a andar normalmente. Inconformado, foi procurar um outro profissional. Para além da fisioterapia diária, Marcel tinha de fazer umas "lições de casa" e foi recomendado pelo profissional a dar umas "trotadinhas". Nas voltas de 300 metros pela praça perto de casa, Marcel começou a arriscar umas pequenas corridinhas por cerca de uma hora.

Publicidade

Nessa época, um amigo dele já corria e o convidou para participar de uma prova. Mas havia um grande empecilho: acordar cedo. "Eu achava um absurdo ter de pagar para correr, mas o que mais me pegava era acordar cedo, eu odiava", brinca. Ele conta que deu várias desculpas, até que o amigo encontrou uma night run - corrida que é realizada à noite. Em novembro de 2013, Marcel fez a sua primeira prova, de 5 km, que foi completada em 36 minutos. "A sensação quando terminei é que eu queria fazer outra prova já e aí passei a encarar a corrida como um hobby e virou hábito", relata. Isso começou a ser seu lazer do final de semana e a meta era fazer uma por mês. Ele chegou a participar de seis provas em 30 dias.

Marcel diz que tudo mudou na vida dele após a corrida, desde o lado pessoal até o profissional. Com 40 anos, o corredor garante que se sente muito melhor atualmente do que quando tinha 30 anos. Além disso, ele ressalta também a lista de amigos que conquistou por causa do esporte. "A corrida é minha vida e pode ter me salvado."

São milhares de pessoas como Natalicio e Marcel que vão encarar o trajeto na icônica Nova York. Cada um tem uma inspiração para dar suas passadas em direção à linha de chegada. Eles nem se importam de ver os favoritos fazerem tempos bem mais rápidos. Para esses corredores amadores, o importante é manter o corpo em movimento.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.