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Mark Braly, de 86 anos, prova que nunca é tarde para praticar polo aquático

Americano passou a última década praticando um esporte de equipe particularmente desafiador. Ele é bom? Não, mas isso não tem a menor importância

Por Alix Strauss
Atualização:

Aos 86 anos, Mark Braly talvez seja o jogador de polo aquático mais velho do mundo. E, de acordo com Braly, nativo do Texas que agora vive em Davis, Califórnia, ele é “certamente o pior”. Esta última parte talvez não seja verdade, mas praticar o esporte ainda é uma conquista impressionante para quem começou aos 76 anos: o polo aquático, jogado com duas equipes de sete jogadores, é desafiador e exige habilidades significativas, tanto aeróbicas (para a resistência) quanto anaeróbicas (para os sprints).

Braly diz que adora a camaradagem tanto quanto o esporte. Atualmente, seus companheiros de equipe contam quarenta jogadores. Alguns estão nos seus vinte anos; a maioria varia dos trinta até a meia-idade. Às vezes, depois dos jogos, a equipe se encontra numa pizzaria local ou se reúne para alguma ocasião especial.

Mark Braly passou a última década praticando o polo aquático Foto: Nicholas Albrecht/The New York Times

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“Às vezes faço gol, mas sempre tem a suspeita de que foi presente de um goleiro gentil”, disse Braly. “Todos os jogadores da região sabem meu nome porque precisam ficar gritando orientações para mim”.

Braly compara o polo aquático ao basquete - mas na água. “Você fica jogando a bola de um lado para o outro e tem a meta adversária”, disse ele. “Nado forte quando estou defendendo e, quando tenho que marcar alguém, tento escolher jogadores fracos. Ainda não bloqueei ninguém”.

Dos 20 aos 60 anos, quando se aposentou de seu cargo de gerente de projetos do Escritório de Ajuste Econômico dos Estados Unidos (agora chamado Escritório de Cooperação Comunitária de Defesa Local do Departamento de Defesa), Braly teve vários empregos: repórter do Houston Press, publicitário da Capitol Records (“achava que os Beach Boys não tinham futuro”), diretor do escritório de energia do ex-prefeito Tom Bradley, de Los Angeles, e oficial de serviço estrangeiro da Agência de Informação dos Estados Unidos (agora extinta).

Apesar de tudo isso, disse Braly, “de todas as experiências que tive, o polo aquático foi a maior aventura”.

Independentemente de sua autoavaliação como jogador, ele inspira os companheiros de equipe. “Começar algo tão intimidador quanto o polo aquático aos 76 anos e continuar nele é impressionante”, disse Paul Olalde, 31 anos, consultor de TI que mora em Sacramento, Califórnia, e joga com Braly desde os 19. “Ele é fundamental para nós”.

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Braly consegue nadar 40 minutos, cinco vezes por semana, além das partidas de polo aquático de 90 minutos, duas vezes por semana, que geralmente são disputadas no Schaal Aquatic Center, no campus da Universidade da Califórnia, em Davis. Esta entrevista foi condensada e editada.

Como você se envolveu com o polo aquático?

Eu queria uma alternativa à natação. Não tínhamos polo aquático no Texas quando eu estava no ensino médio. Até meu falecido amigo e treinador de natação, Ross Yancher, me apresentar o esporte dez anos atrás, acho que nunca tinha visto um único jogo. Ele me deu uma bola e me mostrou como fazer um arremesso a gol. Aí fui fisgado. Quando ele começou a trabalhar na piscina de Sacramento, me convidou para participar de um clube de polo aquático masters que ele estava organizando.

Por que polo aquático?

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Na minha juventude, queria ser atlético, mas não era. O polo aquático me dá a sensação de que posso praticar esportes mesmo não sendo bom neles. E fiz amigos maravilhosos. O polo me faz sentir valorizado e apoiado, duas coisas que não senti nos meus trabalhos anteriores.

Do que você mais gosta no esporte?

É um jogo emocionante. Adoro assistir e adoro jogar. Gosto porque é um esporte difícil - você nunca sabe o que vai acontecer, e isso me incentiva a continuar jogando. E amo estar na água. Tenho um quadril fraco. Fiz duas operações de joelho. Todas as minhas dores melhoram na água. Isso me dá uma liberdade que eu não teria em outro lugar.

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Como é ser a pessoa mais velha da equipe?

Meus companheiros me respeitam. Isso me faz me sentir especial. Eu gostaria de ter começado no esporte quando era mais jovem. Sou grato pelos dez anos que tive. Sei que meu tempo é limitado, tento não pensar muito nisso. Quando olhar para trás, serei lembrado pelas pessoas que jogaram comigo - e isso também é especial.

O que você aprendeu sobre si mesmo com o esporte?

Aprendi que posso aceitar elogios e apoio e não me sentir diminuído por isso. Que posso fazer quase tudo se não me importar em não ser bom. Ser forçado a ser bom em alguma coisa me excluiu de fazer várias coisas a minha vida toda. Aprendi que sou mais capaz e tenho mais resistência do que pensava.

De onde vem sua determinação?

Do meu pai. Ele era um bom atleta e jogava beisebol semiprofissional em troca de hospedagem e alimentação em pequenas cidades do Texas na década de 1920. Era um eletricista que serviu nas duas Guerras Mundiais. Observei e internalizei sua determinação. Ele foi um pai jovem durante a Depressão, e era muito difícil conseguir trabalho e sustentar a família, mas ele conseguiu. Eu admirava sua habilidade de escalar postes telefônicos e laranjeiras. Ele continuou em forma por muito tempo por causa de todo o exercício que fazia.

Como você se sente sendo uma inspiração para os jogadores mais jovens?

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Os jogadores mais jovens duvidam que possam jogar por muito mais tempo. Então me ver jogando, na minha idade, é reconfortante para eles. E também me faz sentir que estou retribuindo e dando um bom exemplo para meus companheiros de equipe e outros que ainda não descobriram o esporte.

Como os amigos que você fez no esporte afetaram sua vida?

É maravilhoso compartilhar esse vínculo único que temos em comum e nos une. Por toda a minha vida, sentia que não pertencia a nenhum lugar. E não me sinto assim aqui com estas pessoas. Eles representam uma aceitação que fazia falta para mim.

De que outra forma você está envolvido no esporte?

Nos últimos dez anos, venho escrevendo uma coluna mensal sobre polo aquático e natação master para o Davis Enterprise, um jornal local. As pessoas me param e me dizem que leram minha coluna - é ótimo. Sinto que estou fazendo uma coisa que vale a pena com minha aposentadoria. Gosto de alcançar outras pessoas mais velhas e dizer que a natação é uma boa experiência para elas.

Que conselho você daria para as pessoas que querem experimentar um novo esporte?

Acredito muito no exercício. Ele prolonga e melhora a qualidade da sua vida. Quase qualquer cidade ou bairro tem um centro que oferece diferentes programas e aulas. Procure algo de que você possa gostar. Não se preocupe em ser bom, só pense no bem que você está fazendo para si mesmo. / TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZOU

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