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Por Marcos Caetano
Atualização:

Sim, atento leitor. É verdade, ilustrada leitora. Este que vos escreve é mais um dos cronistas esportivos que usará o espaço de sua coluna para falar da contratação de Ronaldo pelo Corinthians. O simples fato de todos os veículos de comunicação do País terem dedicado espaços generosos à chegada do Fenômeno ao Parque São Jorge comprova o que tem sido voz corrente entre os especialistas no assunto: a aquisição do craque foi uma grande jogada de marketing do Corinthians. E já que o assunto descambou do esportivo para o marqueteiro, tomarei a liberdade de avaliá-lo à luz dos conceitos mercadológicos, além dos futebolísticos. Sem dúvida que a chegada de um ídolo esportivo do porte de Ronaldo é um evento com imenso potencial de geração de mídia espontânea para um clube. O sucesso da contratação é explicado pela soma da magnitude do Timão - um dos poucos times no Brasil com uma legião de torcedores passível de ser chamada de nação - à visibilidade do Fenômeno, atleta que, apesar de viver uma fase de decadência física e técnica, ainda é o jogador mais conhecido do planeta. Uma combinação matadora, diriam os marqueteiros. De fato, a tacada foi de mestre. Um ídolo com passagens memoráveis pela seleção brasileira, campeão em 1994, grande nome da campanha de 2002 e maior artilheiro da história das Copas do Mundo, é tudo o que uma equipe recém-promovida da Segunda Divisão poderia sonhar. O Timão viveu o seu inferno astral com o rebaixamento, juntou os cacos no primeiro semestre, chegou perto do paraíso com o vice-campeonato da Copa do Brasil e reencontrou-se com a alegria ao longo do lindo passeio que foi a campanha da Série B. Faltava um gesto, um símbolo que deixasse claro que o time não apenas voltara a estar entre os grandes, mas que pretendia liderá-los. Ronaldo, enquanto o plano de marketing apenas começa a decolar, parece ser esse símbolo. Milhares de camisetas foram vendidas, ingressos para o amistoso com o Boca dão pinta de que se esgotarão mais rápido do que para um show de pop star, uma multidão em júbilo foi recepcionar o craque - tudo inteiramente de acordo com a estratégia mercadológica desenvolvida pelo clube. Os cartolas que montaram a estratégia para tirar o Fenômeno da Gávea, onde havia feito lindas juras de amor ao Flamengo, são hoje considerados gênios. Entrevistas mil, papel picado, aplausos, a Fazendinha é uma festa. Entretanto... Bem, eu não quero ser estraga-prazeres. Mas aqueles que, como eu, respeitam a ciência do marketing, sabem que o resultado de um plano não é medido pelos primeiros resultados obtidos. Poucas coisas podem ser mais desastrosas para uma empresa - ou um clube - do que propaganda enganosa. Quando uma empresa divulga que entrega seus produtos em 24 horas e leva 36 horas, os clientes se revoltam. Não se iludam, portanto, os que não têm maior traquejo marqueteiro: Ronaldo é jogador de futebol, e só vende camisas e lota estádios porque é jogador de futebol. O plano do Corinthians só dará certo se Ronaldo jogar. Se jogadores aposentados vendessem camisas e lotassem estádios como os da ativa, seria melhor para o Timão contratar Rivellino. Se Ronaldo jogar e fizer gols, o plano será um sucesso. Se ele não se animar a treinar para atingir a melhor forma física possível, o tiro pode sair pela culatra. Em vez de jovens torcedores encantados com o ídolo, veremos jovens torcedores desencantados e alvo de gozação entre os amiguinhos rivais. Espero e torço para que o camisa 9 mais famoso do Brasil volte a ser mais do que apenas famoso - que volte a fazer muitos gols.

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