McLaren entre o céu e o inferno

No ano em que seus dois pilotos podem ser campeões, time vive escândalo de espionagem e conflitos internos

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Por Livio Oricchio
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Desde 1989, com Ayrton Senna e Alain Prost, a McLaren não tinha os dois pilotos com chances de serem campeões da temporada. Este ano, Lewis Hamilton e Fernando Alonso venceram, juntos, 8 das 16 etapas disputadas e os dois têm, hoje, ótimas possibilidades de conquistar o título. Ao mesmo tempo em que a McLaren voltou ao nível máximo da competição, nunca experimentou tão sério desgaste diante da opinião pública mundial, por envolver-se no escândalo de espionagem com a rival Ferrari. O episódio lhe custou a perda do possível título de construtores e multa de US$ 100 milhões, imposta pela FIA, a maior de todos os tempos em qualquer esporte. Hamilton e Alonso ainda deram outro presente à McLaren: não há registro de atritos tão sérios entre dois companheiros de equipe e de um piloto com o dono da escuderia, como o vivenciado entre Alonso e Ron Dennis, na Hungria. A cronologia das passagens ilegais e bizarras da McLaren na temporada começa no GP de Mônaco. Hamilton surpreende a imprensa ao dizer que foi impedido de lutar pela vitória. "Sou o número 2, não?", disse aos jornalistas. A McLaren mudou sua estratégia para evitar a disputa final com Alonso. Em Indianápolis, nos Estados Unidos, o espanhol tentou ultrapassar Hamilton, não conseguiu e na volta seguinte passou rente a mureta dos boxes, com o punho cerrado, em protesto pela equipe não orientar Hamilton a facilitar a manobra. Alonso deu o primeiro sinal de contestar a política de Dennis não intervir na concorrência entre ambos. Foi lá também que começaram a surgir boatos da história de espionagem na Ferrari, embora não se soubesse, ainda, que a responsável fosse a McLaren. Seu projetista-chefe, Mike Coughlan, há meses já recebia dados confidenciais repassados pelo ex-mecânico-chefe da Ferrari, Nigel Stepney. Poucas semanas depois, antes do GP da Grã-Bretanha, a polícia invade a casa de Coughlan e resgata 780 páginas de computador com tudo sobre a Ferrari, até informações do modelo de 2008. As relações entre Hamilton e Alonso se deterioram mais na prova seguinte, em Nurburgring, quando o espanhol, vencedor, contesta o fato de o inglês retornar à prova depois de ser içado por um guindaste. Na corrida da Hungria o conflito interno chega ao clímax.Hamilton não deixa Alonso sair na sua frente para a sessão final de classificação e, em represália, o espanhol mantém-se parado no box, com Hamilton aguardando a vez de trocar os pneus, até o companheiro não poder mais abrir volta lançada pelo cronômetro zerar. A FIA pune o espanhol. Horas antes da largada, Alonso chama Dennis para uma conversa. Diz ao proprietário da McLaren que se não tivesse o mesmo tratamento de Hamilton denunciaria à FIA tudo o que sabia sobre a espionagem na Ferrari. GP da Bélgica. Ao mesmo tempo em que a FIA anuncia a exclusão da McLaren do Mundial de Construtores, Fernando Alonso e Lewis Hamilton vêem-se envolvidos num incidente na largada que por pouco não lhes custa o abandono da prova e até ferimentos em razão da velocidade com que se aproximaram, juntos, da famosa e veloz curva Eau Rouge. A trajetória tumultuada de Alonso na McLaren termina, até aqui, com sua declaração bombástica de sabotagem na China. Afirma que a pressão dos pneus de seu carro foi alterada e, por isso, perdeu a disputa com Hamilton na classificação. O GP do Brasil, hoje, pode ter novo capítulo nessa história inédita na extensão das acusações. Sexta-feira, em Interlagos, a informação de que Dennis está apenas esperando o campeonato acabar para processar Alonso e dispensá-lo corria solta entre os ingleses.

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