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Melhor brasileiro na neve, jovem de 15 anos mira ir à Paralimpíada no atletismo

Na última semana, o atleta mais novo dos Jogos de Pyeongchang terminou em sexto lugar nos 15km do esqui cross-country sit

Por João Prata
Atualização:

Depois de conseguir o melhor resultado do Brasil na história dos Jogos de Inverno, o garoto Cristian Ribera, de apenas 15 anos, agora se concentrará na tentativa de disputar os Jogos de Verão. Sua meta, assim que retomar os treinos em Jundiaí, no interior de São Paulo, é buscar índice no atletismo para cadeirantes.

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Cristian já disputa o circuito nacional nos 100m, 400m e 1500m rasos. Ele é realista e sabe que participar dos Jogos de Tóquio, em 2020, não vai ser fácil. "Quase impossível, mas na outra vou estar em melhores condições, mais experiente. Seria uma honra representar o Brasil também em uma Paralimpíada de Verão", disse em entrevista ao Estado.

Cristian Ribera tem como meta buscar índice no atletismo para cadeirantes Foto: Daniel Basil/ MPIX/ CPB

O sonho inicial de participar de uma edição dos Jogos Paralímpicos, no entanto, ele realizou precocemente. E com um feito histórico. Na última semana, o atleta mais novo dos Jogos de Pyeongchang terminou em sexto lugar nos 15km do esqui cross-country sit (adaptado para quem não tem mobilidade das pernas).

Nunca um atleta brasileiro, paralímpico ou não, chegou tão perto de um pódio nos Jogos de Inverno. O melhor resultado era o de Isabel Clark, com o nono lugar no snowboard em 2002, em Salt Lake City.

Estar em temperatura abaixo de zero, no entanto, nunca foi comum para Cristian. Pelo contrário, ele nasceu no calor da cidade de Cerejeiras, em Rondônia, a 45 quilômetros da fronteira com a Bolívia, e luta desde os primeiros dias de vida contra a artrogripose, problema congênito que o impede de andar. Ele tem os pés para dentro, em ângulo de 90 graus com as pernas. Os dedos quase encostam a canela.

Para tentar melhorar os movimentos já realizou 21 cirurgias. As adversidades não o impediram de se tornar um atleta de alto rendimento. "Para mim é uma honra ser um dos pioneiros do Brasil, poder inspirar outros atletas. Importante poder mudar esse pensamento de quem tem deficiência e está excluído da sociedade. Esse papel é muito importante", afirmou.

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Seu início na neve começou no asfalto. Por conta do problema físico, Cristian pratica esporte desde os quatro anos de idade. Começou na natação como fisioterapia, depois foi para a capoeira, o skate e o atletismo. Em busca de melhores tratamentos, com três meses de idade mudou-se para São Paulo. Em seguida, para Jundiaí.

Passou a defender a cidade paulista em competições pelo interior do Estado e a treinar no Parque da Cidade. Em um dia normal de atividade, há cerca de três anos, a Confederação Brasileira de Desportos na Neve (CBDN) visitou centros de treinamentos paralímpicos e fez uma vivência com o sit ski, como forma de difundir o esporte.

Para correr no parque jundiaiense, o ski brasileiro foi adaptado com rodinhas. Cristian se deu bem na nova modalidade e foi convocado para seguir treinando. Mas ele só foi ver neve pela primeira vez em dezembro, na primeira competição oficial. Em fevereiro, disputou a etapa da Copa do Mundo de Vuokatti, na Finlândia, quando obteve a vaga para os Jogos de Pyeongchang.

A ROTINA NO BRASIL

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 O dia a dia não é fácil. Além de conciliar os estudos com o treinamento, ele também precisa superar a falta de estrutura dos espaços públicos. "Tem muito degrau em todo lugar. Calçadas quebradas. Tenho que viver desviando de obstáculos. A principal questão é a falta de rampa nas cidades. O transporte também tem que melhorar para o cadeirante, para que ele tenha mais independência", disse.

Diariamente, acorda às 9 horas e dá uma corrida ao lado de sua mãe. Almoça, e três vezes por semana vai para natação. Outros dois, pratica atletismo. Depois, meia hora de descanso e academia. Volta para casa e se prepara para a escola. As aulas vão das 19h às 22h40. Volta para casa e dorme. E começa tudo de novo no dia seguinte.

A rotina exaustiva é realizada com o horizonte de daqui uns anos poder dar uma vida melhor aos pais. "O primeiro sonho já realizei, que foi disputar uma Paralímpiada. O segundo é ganhar medalha olímpica. O terceiro é ajudar minha família e poder orgulhar eles", finalizou.

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Na Coreia do Sul, além dos 15km no esqui, ele também disputou o 1,1km, quando terminou na 15ª colocação e também disputará na madrugada deste sábado o 7,5km e o revezamento, ao lado de Aline Rocha.

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