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Minérios levam Mazembe a se tornar ''fenômeno mundial''

Desconhecido no restante do mundo, time é o mais rico da África. Seu dono, Katumbi, é espécie de Berlusconi do Congo

Por Jamil Chade
Atualização:

O mundo se surpreendeu nesta semana com o desempenho do TP Mazembe, da República Democrática do Congo, que acabou com o sonho do Internacional de se tornar bicampeão do mundo e tornou-se o primeiro africano a desafiar a hegemonia de europeus e sul-americanos na competição. Mas a surpresa, garantem os africanos, é apenas para o Ocidente. A classificação para a final de amanhã é a confirmação de um fenômeno conhecido na região: com um pouco de organização, dinheiro e planejamento, o futebol da África não fica devendo muito a ninguém. O segredo do Mazembe não está em magia negra ou no futebol sem compromisso dos jogadores. Na África, o clube é hoje o mais rico do continente, financiado pelos altos preços das exportações de minérios para a China e os Estados Unidos. Com o dinheiro de recursos naturais, a direção do clube formou uma espécie de seleção africana, oferecendo salários altos e levando para a conturbada região alguns dos melhores jogadores africanos que ainda não foram descobertos pelos grandes clubes europeus. O proprietário do time é o governador da região de Katanga, Moise Katumbi, dono das maiores mineradoras do país. Ele acumula outro título: o de homem mais rico do país. Filho de um judeu que fugia da Europa nazista e de uma congolesa, o empresário-governador-cartola é uma espécie de mistura entre Silvio Berlusconi local e Roman Abramovich.Ao contrário de seus colegas europeus, tem uma vantagem: seu país conta com uma reserva de minérios e diamantes estimados em US$ 24 trilhões (R$ 41 trilhões), superior ao PIB dos Estados Unidos e Europa juntos. Só a província de Katumbi tem 55% de todo o cobalto do mundo. Sete anos de paz. O país viveu uma série de atrocidades - a última foi a guerra que eclodiu em 1998 e que, até 2003, havia causado 5,3 milhões de mortes. Mas a paz relativa desde 2003 fez investidores voltarem ao país, em busca dos minerais vitais para alimentar a economia. Ainda assim, continua a ser o segundo local mais pobre do planeta. A renda média de um cidadão é de apenas US$ 342 (R$ 583) por ano, quase dez vezes menos que no Piauí. Katumbi promete fazer tudo isso mudar. Decidiu que o futebol seria a vitrine do sucesso de sua estratégia. Anunciou para 2010 um investimento de US$ 10 milhões no time, que incluiu reformulação de estádio, centro de treinamento e, claro, contratação de jogadores. No ano da Copa na África, mostra que o continente pode, não tão longe, se tornar protagonista do futebol mundial.

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