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Mito argentino

Por Eduardo Maluf
Atualização:

Zurique, dezembro de 2007, temperatura negativa, o mundo da bola se reunia para mais uma premiação dos melhores do ano em festa da Fifa. Eu estava na porta de um grande hotel à espera da saída dos astros, momentos antes do início da solenidade que consagraria Kaká como o número 1 daquela temporada. Eis que apareceu Pelé. Corri atrás dele, mas fui impedido por três ou quatro seguranças. O Rei me viu, mas certamente não se lembrou das duas ou três ocasiões em que havia me dado entrevista anteriormente. Parou - por educação, por ser naturalmente simpático, carismático - e pediu licença aos seguranças. "Vou falar com ele", disse, referindo-se a mim. A limusine ficou lá, estacionada, aguardando o fim do bate-papo. Fiz quatro ou cinco perguntas, todas respondidas com louvável paciência por ele. Pelé, em seguida, partiu para a Casa da Ópera de Zurique. Fui atrás, curioso para observar sua chegada. Na entrada havia crianças e adolescentes, quase todos, creio, suíços. Minha ansiedade era para acompanhar a reação dos meninos. Nunca, afinal, haviam visto o brasileiro jogar. Comovente! Pelé ofuscou Kaká, o então garoto Messi e Cristiano Ronaldo, os protagonistas da noite. Parecia um personagem presente no dia a dia da criançada. Aquele 17 de dezembro de 2007 garantiu um dos momentos mais marcantes de minha carreira. Senti o poder e a força de nosso maior esportista de todos os tempos. Não precisei mais, desde aquele dia, ouvir histórias, como as que meu avô contava, para entender por que Edson Arantes do Nascimento era e é o Rei do Futebol - infelizmente, nunca o vi atuar profissionalmente, apenas por videoteipes. Sua magia com a bola, o profissionalismo (nos treinos e nos compromissos do Santos e da seleção) e o modo com que sempre atendeu a imprensa e os fãs o tornaram um mito. Pode ter escorregado na política e em alguns negócios ou dado declarações infelizes, mas passou a ser uma figura acima do alcance dos mortais. Expus tudo isso para dizer que sinto algo parecido em relação a Lionel Messi. Com a bola é um gênio, o maior que vi atuar (embora o argentino tenha só 25 anos), à frente de grandes ídolos de minha geração como Maradona, Zico, Ronaldo, Zidane, Romário, Sócrates, Careca, Van Basten. Faz gols lindos, dá passes perfeitos, dribla, escapa das faltas com facilidade, quase não cai, evita reclamar da arbitragem. Fora de campo é um profissional exemplar, sério, também carismático, educado, disciplinado e simples, sem dar espetáculo ou fazer estardalhaço. O maior marketing é o próprio talento. Quem ama o esporte vibrou com sua conquista do quarto troféu seguido na eleição da Fifa. Nunca poderemos, de forma justa, comparar Messi a Pelé. O futebol mudou demais, a tecnologia evoluiu. A velocidade, a marcação, os times e os campeonatos são diferentes. Mas podemos dizer que Messi é o Pelé do Século 21, um craque que dá ainda mais graça a esse jogo apaixonante.

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