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Moncho: ''Parem de olhar o passado''

Espanhol pede nova chance até o Mundial de 2010 e diz que é preciso pensar no futuro, além de mudar a estrutura

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Por Amanda Romanelli
Atualização:

O espanhol Jose Manuel Monsalve, o Moncho, passou 45 de 63 anos no basquete. Com quase dois metros de altura, anda ligeiramente curvado para frente. Chega a ser uma figura caricata quando, de bermuda, usa meias brancas até o joelho. Ainda em recuperação de complicada operação de hérnia de disco, em janeiro, usa uma cinta e faz fisioterapia diariamente. Passou por duas cirurgias no joelho esquerdo, que trouxeram a aposentadoria aos 27 anos. Desde então, é técnico. Para um gigante, Moncho parece frágil quando caminha. Com as palavras, não. É franco, direto, mas nunca indelicado. Quando fala do Brasil, sempre abre um sorriso. Ou melhor: o sorriso só vem quando fala das possibilidades futuras do basquete brasileiro. Sobre a situação atual, franze o cenho e dispara: "Vocês me desculpem, não quero ser indelicado, mas a verdade é que têm que parar de olhar para o passado. O Brasil tem um futuro brilhante, mas é preciso que este futuro vire uma realidade." Ele considera que o País tem 30, 32 jogadores de grande futuro. Moncho recebeu a reportagem do Estado no lobby do hotel Divanis Caravel, cinco horas antes da derrota para a Alemanha que tirou do Brasil a chance de ir à Olimpíada de Pequim. Falou da vontade de iniciar um planejamento para o próximo ciclo olímpico e do desejo de permanecer até o Mundial de Istambul, na Turquia, em 2010. Mas acha que a organização do basquete nacional precisa de mudanças estruturais urgentes. "O principal é um forte campeonato brasileiro. Os jogadores precisam ter onde jogar??, aconselha Moncho. "Depois, capacitar treinadores para trabalhar com as categorias de base. Os atletas saem cada vez mais jovens, não se desenvolvem no país. Ou você acha que Tiago Splitter ou Marcelinho Huertas seriam o que são hoje se ainda estivessem jogando no Brasil?" Moncho, que se diz covarde por não ter aceitado treinar grandes equipes na Espanha, "em nome da liberdade", atuou em um dos melhores times do Real Madrid na década de 1960. Viu a oportunidade de dirigir a seleção brasileira, tendo mais de 60 anos, como única. Revelou que a intenção do presidente Gerasime Bozikis era de que ele se tornasse consultor da CBB desde 2006, quando Brasil teve sua pior colocação na história de um Mundial, 19º lugar. O sonho de disputar uma Olimpíada acabou para Moncho. Mas não de contribuir com o basquete brasileiro. Quer se aposentar aos 65 anos tendo planejado metade do próximo ciclo olímpico. Gostaria de deixar José Neto, seu auxiliar, como o futuro treinador da seleção. "Ele é a prova de que o Brasil tem excelentes técnicos." Depois da derrota para a Alemanha, Moncho ficou tão abatido quanto o restante do grupo. No fim do jogo, levou rapidamente todos os atletas para o vestiário. Lá, chorou. E pode ter falado pela última vez com o grupo. "Disse a eles que me sinto muito orgulhoso. Cometemos erros no jogo, mas não tivemos nenhum tipo de problema dentro do grupo, de nenhum aspecto. Estivemos unidos por um grande coração." Interessado nas questões esportivas e também políticas, Moncho diz que a evolução do basquete depende de um interesse coletivo. "Não cobrem só da CBB. O Ministério dos Esportes e os clubes também precisam se envolver. Esse é um projeto nacional."

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