Morre na Islândia o gênio do xadrez Bobby Fischer

PUBLICIDADE

Por KRISTIN ARNA BRAGADOTTIR
Atualização:

Bobby Fischer, o primeiro e único enxadrista campeão mundial dos EUA e considerado o "Mozart do Xadrez", morreu na Islândia aos 64 anos de idade. Um porta-voz de Fischer, que foi tratado como heróis nacional ao derrotar o soviético Boris Spassky durante a Guerra Fria mas teve problemas com autoridades norte-americanas nos últimos anos confirmou a informação nesta sexta-feira. Não se conhece ainda a causa da morte. Fischer, um ex-prodígio infantil que gostava de ver seus oponentes agonizarem e que adquiriu cidadania islandesa, tornou-se campeão mundial ao derrotar Spassky no auge da Guerra Fria, em Reykjavik, no ano de 1972. Nos últimos anos, ele enfrentava a ameaça de ser detido em território norte-americano porque infringiu as sanções impostas contra a ex-Iugoslávia ao disputar uma partida naquele país contra Spassky. O ex-campeão mundial Garry Kasparov descreveu Fisher como "o pioneiro e o pai do xadrez profissional", enquanto Spassky foi bem menos eloquente ao comentar a morte de seu ex-adversário. "Má sorte para vocês. Bobby Fisher está morto", disse ele à Reuters, antes de desligar o telefone sem mais nenhum comentário. O brilhante mas excêntrico Bobby Fisher perdeu o título conquistado contra Spassky sem mover um peão, ao não cumprir o prazo limite para defendê-lo em Manila, em 1975. Com relutância, os dirigentes mundiais da categoria entregaram o título ao desafiante Anatoly Karpov, da União Soviética. Karpov manteve-se na posição ao longo da década seguinte. Fischer passou a viver ensimesmado, sem jogar em público e vivendo com pouco mais do que a magia existente em torno de seu nome. E isso apesar de milhões de fãs do xadrez considerarem-no então o rei do tabuleiro. O jogador tornou-se manchete e desafiou as autoridades norte-americanas ao deixar o isolamento para enfrentar seu antigo rival Spassky na Iugoslávia, em 1992, época em que esse país era alvo de sanções devido às guerras travadas pelos sérvios contras as Repúblicas separatistas. Fischer desapareceu após a disputa, pela qual recebeu 3 milhões de dólares, e ressurgiu apenas depois dos ataques de 11 de setembro de 2001, ocorridos em Nova York e Washington. Em entrevista a uma rádio das Filipinas, o enxadrista elogiou os ataques e disse que desejava ver os EUA "eliminados." O jogador, que também provocou polêmica por suas declarações anti-semitas, recebeu a cidadania islandesa em março de 2005, após passar oito meses preso no Japão, período durante o qual enfrentou um pedido de deportação feito por autoridades norte-americanas. 'O MOZART DO XADREZ' Fischer sempre se valorizou de forma exagerada. Certa vez, quando questionado sobre quem era o maior jogador do mundo, respondeu: "É de bom tom ser modesto, mas seria uma estupidez se eu não dissesse a verdade. O maior jogador é Fischer." A afirmativa não era de todo injustificada. Fischer, provavelmente o maior gênio natural já surgido no mundo do tabuleiro, era chamado de "o Mozart do xadrez" quando começou a vencer partidas, aos 6 anos de idade. O sucesso logo lhe rendeu a fama de ser presunçoso. Fischer disse a entrevistadores que seu momento favorito dava-se quando os adversários começavam a sentir que seriam derrotados. "Eu gosto de vê-los retorcerem-se", afirmou. Ele tornou-se campeão júnior dos EUA aos 13 anos e campeão do US Open aos 14, mantendo o título todas as vezes em que se dispôs a defendê-lo. Fischer tornou-se 'grande Mestre' internacional aos 15 anos de idade, no primeiro torneio internacional de que participou, na Iugoslávia. Certa vez, o jogador derrotou 21 'grandes mestres' em sequência -- nenhum enxadrista norte-americano tinha jamais derrotado mais de sete de uma vez. À medida que a fama de Fischer aumentava, seu temperamento ficava cada vez mais imprevisível. Ele abandonou alguns torneios criticando a má iluminação ou o suposto sistema ruim de ar-condicionado. E recusou-se a disputar partidas aos sábados, o Sabá judaico. Na década de 1990, o jogador teria vivido em hotéis baratos de Pasadena, na periferia de Los Angeles, onde se registrava com nomes falsos. O dinheiro viria então dos royalties gerados pela venda de seus livros. Em Londres, um jornal descreveu-o como uma pessoa "gorda, vestida igual a um mendigo, caminhando com dificuldade e exibindo uma barba desarrumada."

Tudo Sobre
Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.