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Mulheres salvam desempenho brasileiro

Balanço olímpico - Vitórias no vôlei e no atletismo ajudaram equipe a igualar o seu maior total de medalhas obtidas na história dos Jogos Olímpicos

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Por Valeria Zukeran e Pequim
Atualização:

A Olimpíada de Pequim foi um divisor de águas para as atletas brasileiras. Não faltaram participações destacadas, quebras de recordes, medalhas inéditas e, principalmente, superação de tabus. Na China, a participação feminina foi decisiva para que a delegação nacional conseguisse 15 medalhas, repetindo o desempenho de Atlanta-1996, quando conquistou o maior número de pódios. Como o número de medalhas de ouro é o critério utilizado para definir a classificação geral, o Brasil terminou os Jogos na 23ª colocação por ter vencido apenas três competições. Isso representa uma queda em relação aos Jogos de Atenas, em 2004, quando os brasileiros somaram cinco medalhas de ouro e ficaram na 16ª posição geral. O mais frustrante da participação brasileira foi a atuação de alguns dos atletas apontados como favoritos para suas provas. Se tivessem confirmado as expectativas, o Brasil teria realizado sua maior Olimpíada de todos os tempos em vez de amargar uma queda na classificação geral. Mas vários favoritos falharam na hora decisiva. Foi o caso de Diego Hypólito, na prova do solo na ginástica artística, e dos três campeões mundiais que integravam a equipe de judô - João Derly, Luciano Corrêa e Tiago Camilo. Desses, apenas Camilo ainda se salvou, trazendo um bronze. Foi também a situação do nadador Thiago Pereira, que tinha ganhado seis medalhas de ouro no Pan-Americano do Rio e não subiu ao pódio em Pequim. Ou do cavaleiro Rodrigo Pessoa, campeão olímpico do hipismo em Atenas, que não trouxe medalha da China. Outro que teve desempenho decepcionante foi Jadel Gregório, apenas o 6º colocado no salto triplo. Para o Brasil, porém, sobrou a certeza de que as mulheres definitivamente saíram da sombra dos homens no esporte nacional. Até nas poucas medalhas de ouro obtidas pelo Brasil elas bateram os homens. Das três conquistadas, duas vieram delas: Maurren Maggi, no salto em distância, e a equipe de vôlei. César Cielo trouxe a terceira, nos 50 metros nado livre. No vôlei feminino, o salto de qualidade foi dos mais significativos. Nos últimos 12 anos, as jogadoras do País chegaram em todas as semifinais olímpicas sem, no entanto, ter ido além da medalha de bronze - o que, somado ao fato de o grupo também nunca ter conquistado um título mundial, vinha rendendo às atletas a incômoda reputação entre os críticos de grandes "amarelonas" do esporte brasileiro. Em Pequim, não fosse o set perdido na decisão contra os Estados Unidos, o Brasil teria chegado ao ouro sem ter perdido nem uma parcial sequer. A levantadora Fofão, que defendeu o Brasil nas últimas cinco edições dos Jogos, é a atleta-símbolo do grupo comandado pelo técnico José Roberto Guimarães, único brasileiro que ostenta a marca de ter sido medalha de ouro no vôlei tanto no comando de homens quanto de mulheres. Outro destaque do Brasil foi a saltadora Maurren Maggi, responsável pelo primeiro ouro individual feminino do Brasil ao vencer a competição do salto em distância com a marca de 7,04 metros. Apesar de o atletismo ser um conhecido celeiro de medalhas brasileiras desde Adhemar Ferreira da Silva, passando por José Telles da Conceição, Nelson Prudêncio, João Carlos de Oliveira e Joaquim Cruz, nenhuma mulher havia conseguido chegar ao pódio antes dos Jogos de Pequim. Fabiana Murer também poderia ter conseguido, não fosse o sumiço de sua vara no meio da competição. Antes dessa conquista, veio o bronze de Ketleyn Quadros na categoria até 57 kg do judô. Assim como no atletismo, a ala feminina do esporte sempre sofreu com o complexo de inferioridade em relação à masculina, até então responsável por todas as medalhas olímpicas da modalidade. O bronze de Ketleyn era tudo pelo qual as mulheres vinham batalhando para que pudessem reivindicar mais atenção por parte dos dirigentes do esporte. O caso repetiu-se com as velejadoras Fernanda Oliveira e Isabel Swan, da categoria 470. O bronze foi resultado de planejamento, sacrifício pessoal e trabalho de três anos da dupla, que agora comemora os louros. Mais significativo, no entanto, é o bronze de Natália Falavigna no tae kwon do. Campeã mundial em 2005, ela é a primeira atleta brasileira na modalidade, entre homens e mulheres, a conquistar uma medalha olímpica. Finalmente, há um grupo de atletas que volta de Pequim sem medalhas, mas com grande valorização. É o caso, por exemplo, da ginástica artística, que, pela primeira vez na história, classificou-se para a final por equipes, e de Gabriela Silva, única brasileira a conseguir disputar final na concorridíssima natação de Pequim.

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