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Mundial no Brasil impõe novos desafios à Rússia

Fifa exige de Vladimir Putin uma competição livre de discriminação

Foto do author Marcio Dolzan
Foto do author Raphael Ramos
Por Marcio Dolzan , Raphael Ramos e Rio
Atualização:

Os organizadores da Copa do Mundo de 2018 têm duas metas: convencer a Fifa a aceitar que o torneio seja disputado em 12 estádios - e não em dez, como a entidade deseja - e garantir boa receptividade aos turistas, uma das principais marcas da competição no Brasil. Com relação às arenas, os russos esbanjam confiança e a promessa é de que até 2017, na Copa das Confederações, todas serão entregues. O maior desafio está em repetir o sucesso de interação entre torcedores que foi o Mundial no Brasil. Ao passar o bastão da organização da Copa de Dilma Rousseff para Vladimir Putin, no último domingo, momentos antes da final no Maracanã, o presidente da Fifa, Joseph Blatter, avisou ao russo que era sua responsabilidade fazer um torneio que transmitisse ao mundo mensagens de união, paz e antidiscriminação, conectando as pessoas, assim com foi o Mundial no Brasil. Putin reconheceu que o futebol ajuda a solucionar problemas sociais e prometeu se esforçar para organizar o evento no mais alto nível. O primeiro passo para atrair o público já foi dado. Em 2018, a Rússia terá um regime especial de vistos a fim de facilitar a entrada de estrangeiros no país. A intenção é que não apenas jogadores, árbitros e integrantes das comissões técnicas, mas também torcedores com ingresso possam entrar na Rússia apenas com o passaporte. Durante sua passagem pelo Rio, o diretor executivo do Comitê Organizador Local (COL) da próxima Copa, Alexei Sorokin, garantiu uma boa recepção aos turistas que visitarem a Rússia em 2018. "Hospitalidade será uma das principais características. Nós temos apoio do nosso povo para organizar a Copa do Mundo e, com certeza, hospitalidade é a prioridade máxima. Não com organizadores profissionais, mas com o povo russo." A perseguição de torcedores a jogadores negros nos campeonatos locais é outro problema que os russos terão de resolver nos próximos quatro anos. O ex-lateral-esquerdo Roberto Carlos foi uma das vítimas de atos racistas no país. Em 2011, quando defendia o Anzhi Makhachkala, uma banana foi atirada em sua direção no gramado por um torcedor. Em protesto, o brasileiro abandonou o jogo. No ano passado, torcedores do CSKA Moscou imitaram sons de macaco cada vez que o volante Yaya Touré, do Manchester City, encostava na bola durante um jogo da Liga dos Campeões. O clube foi punido pela Uefa e teve de enfrentar o Bayern de Munique com o seu estádio parcialmente fechado. O caso ganhou ainda mais repercussão depois que Yaya Touré enviou uma mensagem à Uefa ameaçando liderar um movimento para que jogadores negros boicotassem a Copa de 2018. Sorokin procurou minimizar o comportamento dos torcedores russos nos estádios e tratou o racismo como uma questão globalizada. "Isso é uma coisa que acontece no mundo todo, não apenas na Rússia, mas em muitos outros países. É uma coisa que devemos, juntos, lutar contra, com um esforço universal. E nós não somos diferentes", disse. O dirigente também prometeu aplicar punições severas aos maus torcedores. "Estamos com materiais promocionais, e temos uma legislação com foco no comportamento dos torcedores. Mas não vamos apenas educar. Podemos impor restrições administrativas contra aqueles que não se comportarem ou se envolverem em confusão nos arredores dos estádios. Podemos até bani-los dos estádios."Política. Também é motivo de preocupação entre os dirigentes da Fifa que os problemas políticos do país interfiram no desenvolvimento do futebol. Na última semana, a Uefa chegou a emitir um comunicado proibindo, por questões de segurança, que clubes da Rússia e da Ucrânia se enfrentem nas Eliminatórias da Liga dos Campeões por causa da disputa entre os dois países pelo território da Crimeia. Durante a Copa do Mundo também houve tensão. O Centro de Comando e Controle de Segurança do Mundial classificou a partida entre Argélia e Rússia, em Curitiba, pela primeira fase, como um jogo de "alto risco" diante da possibilidade de protestos políticos nas arquibancadas da Arena da Baixada. O temor era de que torcedores russos levassem faixas de protesto ou apoio a Putin e que ucranianos protestassem contra a anexação da Crimeia ao território russo. Na última segunda-feira, ao fazer um balanço da Copa no Brasil, Blatter deu nota 9,25 à organização do torneio, 0,25 a mais do que a avaliação do Mundial da África do Sul. Sorokin, no entanto, não quis se comprometer a receber uma nota superior daqui a quatro anos. "Não existe comparação. Cada Copa é única. Tenho certeza que a nossa será única em muitos aspectos." A Rússia sediará o primeiro grande evento da Copa do Mundo de 2018 em julho do ano que vem em São Petersburgo, com o sorteio das Eliminatórias.País tenta convencer Fifa a manter torneio com 12 estádios

Blatter pretende diminuir Mundial para dez sedes. Proposta será avaliada com o Comitê Organizador Local em setembro

Reforma do Estádio Lujniki, em Moscou, custará R$ 1,4 bilhão Foto: Sergei Karpukhin/Reuters

O presidente da Fifa, Joseph Blatter, pretende diminuir o número de estádios da Copa da Rússia de 12 para dez. O modelo inicial, com Moscou com duas arenas, foi aprovado pelo Comitê Executivo da Fifa em 2012, mas será rediscutido em setembro com dirigentes do COL (Comitê Organizador Local) russo. O diretor executivo do COL, Alexei Sorokin, defende a manutenção de 12 estádios com o argumento de que os russos não repetirão os atrasos ocorridos na organização do Mundial no Brasil. Dois estádios, em Sochi e Kazan, já estão prontos e só precisam passar por algumas adaptações para receber partidas de futebol. Um terceiro, em Moscou, de propriedade do Spartak, será inaugurado em setembro. E no começo de 2016, será entregue a arena de São Petersburgo. Até o fim de 2017, mais oito estádios ficarão prontos. Mesmo assim, Sorokin evita entrar em rota de colisão com Blatter. "Uma Copa do Mundo pode ser realizada em dez, 11 ou 12 estádios. O que não pode, com certeza, é ser jogada em apenas sete estádios. Vamos continuar a organizar a competição pensando em 12 sedes", disse. As cerimônias de abertura e encerramento do Mundial estão marcadas para o Estádio Lujniki, em Moscou. Inaugurado em 1956, foi palco dos Jogos Olímpicos de 1980, está fechado para obras de modernização desde agosto de 2013 e só reabrirá no primeiro semestre de 2017. O custo da reforma é de US$ 640 milhões (R$ 1,4 bilhão).Fortuna. O orçamento inicial para o Mundial de 2018 é quase o dobro do organizado pelo Brasil: US$ 20 bilhões (R$ 44,7 bilhões). No Brasil, a conta deve fechar em R$ 29 bilhões. A previsão é de que o governo federal russo banque 50% dos investimentos e o restante seja custeado por governos locais e entidades privadas. Esse montante inclui obras nos estádios, aeroportos, rodovias e na rede de trens de alta velocidade, mas a expectativa é que os gastos devem ser revistos para cima nos próximos meses. "Até agora estamos com tudo dentro do planejado. Não consigo ver por que não conseguiríamos entregar tudo a tempo. Tem um programa do governo dedicado ao desenvolvimento da Copa, que, além dos estádios, envolve energia, saúde, transporte e toda infraestrutura necessária. Para o governo, a Copa é um todo. Sem o governo é impossível organizar uma Copa", diz Sorokin. /M.D. e R.R.

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