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Muricy adota estilo paz e amor

Técnico tricolor faz brincadeiras e pede desculpas pelo mau humor

Por Amanda Romanelli
Atualização:

Quem esperava respostas atravessadas ou monossilábicas se assustou. O mau humor habitual, a ironia, contrastava ontem com um Muricy Ramalho brincalhão, tranqüilo. O sempre ranzinza treinador são-paulino resolveu acenar a bandeira da paz com a imprensa em sua última entrevista do ano (na verdade, deve falar após o jogo). Nada de patadas como na terça-feira e um surpreendente pedido de desculpas num último ato antes da decisão do Brasileiro, contra o Goiás, amanhã. "Na minha última coletiva do ano, queria desejar a vocês um feliz Natal e um feliz ano-novo. Espero reencontrá-los no ano que vem", disse Muricy, num dia raro, descontraído e com risadas, algo nada habitual. "Também gostaria de pedir desculpas, pois falo algumas grosserias. Às vezes é por causa de perguntas sacanas, mas tem dia que é de mim mesmo. Mas é mais por causa do trabalho." Prestes a conquistar seu terceiro título brasileiro seguido, Muricy Ramalho revelou ontem ter encarado sua temporada mais difícil. O caminho tortuoso veio desde os primeiros meses do ano, quando o clube pouco contratou e, em alguns jogos, até para compor o banco de reservas teve de se desdobrar. A cobrança, algo raro em sua vitoriosa passagem pelo Tricolor, ganhou corpo com as eliminações nas semifinais do Campeonato Paulista (diante do Palmeiras) e nas quartas da Libertadores (contra o Fluminense). "Foi difícil para montar o time e para segurar o ânimo após a derrota na Libertadores (3 a 1 no Maracanã, contra o Fluminense, com gol no último minuto)", reconheceu. "Dos três anos no São Paulo, o que mais tive de trabalhar foi esse. E por vários motivos." No começo do ano, o São Paulo apostou em jogadores considerados problemáticos, como Fábio Santos, Carlos Alberto e Adriano. Não demorou, e Muricy teve problemas disciplinares, como a briga entre os dois primeiros. Para piorar, o trio tinha contrato só até junho. As contusões, num grupo com poucas peças de reposição, também atrapalharam. "Sofri até para compor o banco." Problemas no campo, pressão fora dele. O diretor de futebol Carlos Augusto de Barros e Silva, o Leco, virou inimigo do treinador por um possível processo de fritura, logo após a Libertadores. "Quem manda aqui é o Juvenal (Juvêncio, presidente), não adianta tentar me derrubar", desabafou Muricy, na época. Juvenal realmente agiu como escudo. Bancou o treinador e amanhã deve ver que seu esforço tinha razão. Um empate diante do Goiás vai ser suficiente para a cena dos dois últimos anos se repetir: Rogério Ceni erguer o troféu. Mas engana-se quem pensa que o São Paulo vai entrar na retranca, pensando apenas na igualdade. "Nosso time não sabe jogar só marcando, com o regulamento, é a característica dos nossos jogadores", observou Muricy. "Sempre fomos agressivos e vamos continuar atacando", revelou. "E nem adianta pedir, pois não farei isso, não é meu estilo." O discurso ousado se comprova nos números. O São Paulo está invicto há 18 jogos e conta com o ataque mais positivo: 65 gols. Mas Muricy encontrou outro fator positivo para a busca da vitória na cidade-satélite do Gama: a força da torcida. Todos os 19.400 ingressos foram vendidos, com domínio dos tricolores. "O que vai fazer a diferença para o São Paulo no Bezerrão é a torcida", não escondeu o técnico. "A diferença de jogar em casa é porque você conhece bem o campo e tem a torcida a seu favor. Nesse caso, nenhum dos dois conhece o campo, mas a torcida é nossa." Por fim, Muricy minimizou uma possível desconfiança sobre o grupo após o empate com o Fluminense (1 a 1), na rodada passada. "Um time que está há 18 jogos sem perder não pode sofrer desconfiança. É uma campanha fantástica", afirmou. "Ganhamos jogos fora, contra Botafogo e Vasco (ambos por 2 a 1), que muita gente pensou que não ganharíamos."

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