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Não era bem assim

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Por Paulo Calçade
Atualização:

Não era bem essa a despedida que Rogério Ceni imaginava em sua última partida contra o Corinthians, pelo menos como jogador. Os momentos finais de sua brilhante história no São Paulo mereciam mais tranquilidade. O pênalti desperdiçado, aos 44 minutos do segundo tempo, mostra o tamanho da crise que se instalou no clube. Nas últimas duas décadas, desde que se tornou o confronto mais importante da cidade, dificilmente os rivais se enfrentaram tão perturbados. O São Paulo foi superior e exigiu mais do goleiro Cássio do que o Corinthians de Rogério. É natural que o time sinta mais as dores do empate no Morumbi. Muricy escalou Rodrigo Caio entre os zagueiros e deu liberdade aos laterais. Não foi um time brilhante, até porque a fase não permite, mas esteve o tempo todo mais perto da vitória. Ao Corinthians, com seu ataque de rebaixado e defesa de campeão, só havia um caminho: esperar para contra-atacar. Tite colocou Edenilson para jogar no meio de campo, aberto pela direita, e posicionou Sheik como centroavante. Sem um jogador como referência no ataque, e em busca de uma chance, o Corinthians tratou de perdê-las no segundo tempo, como aos 27 minutos, com Émerson desperdiçando diante de Rogério Ceni. Agora os clubes precisam refletir sobre as causas do péssimo momento que atravessam. Juntos, poderiam iniciar o debate sobre muitos dos problemas do futebol brasileiro. Mas ainda não adquiriram maturidade para lucrar com a rivalidade, vital para a sobrevivência das duas instituições. Não é novidade, por exemplo, o desrespeito dos desorganizadores do futebol brasileiro às datas Fifa, período exclusivo das seleções no mundo com um mínimo de inteligência e bom senso na cachola. Esses espaços no calendário deveriam balizar todo o resto e, a partir deles, a confederação estruturar o futebol local. Infelizmente não é assim que funciona, convivemos com o caos numa boa. Mas a CBF não precisava se superar e marcar três grandes clássicos para um domingo reservado à seleção de Felipão. O Corinthians perdeu Pato, o Cruzeiro, Dedé, o Atlético-MG ficou sem Victor e Jô e o Botafogo emprestou Jefferson para o time nacional. Como os direitos dos amistosos foram adquiridos por uma empresa árabe, os jogadores ainda tiveram de encarar a diferença de fuso horário para enfrentar Coreia do Sul em Seul e Zâmbia na China. A insensibilidade dos cartolas não tem limite. E mais uma vez todos perderam, menos a CBF. Normal. Seleção. A volta de Ramires ao time brasileiro funciona como uma chave-mestra. Desde os treinamentos em Brasília para o amistoso contra a Austrália, em setembro, o jogador do Chelsea vem sendo sistematicamente testado em funções diferentes. Pode ser segundo volante, pode jogar no setor de Hulk, mas foi no meio, na criação de um triângulo com Luiz Gustavo e Paulinho, que Ramires mostrou a Scolari todo o seu valor tático. Ele pode até ser convocado para a Copa como reserva de Oscar, mas jamais fará as mesmas tarefas. Para a criação, o treinador terá de pensar em outro nome. Na segunda etapa do trabalho, com a lista do Mundial bem encaminhada, o objetivo é acrescentar repertório tático ao time e desenvolvê-lo nos amistosos. Primeiro foi necessário descobrir uma formação e dar aos jogadores confiança. Essa foi a missão na Copa das Confederações, muito bem executada por Felipão. A favor de Ramires trabalham os fatos. Nos últimos três jogos, os melhores momentos da seleção foram com ele. É quase uma necessidade para um time que normalmente coloca seus laterais na linha de meio de campo, próximos do ataque. É quando Luiz Gustavo recua para se integrar aos zagueiros e Ramires protege o meio de campo com incrível mobilidade. Contra Zâmbia, amanhã, talvez seja uma boa chance para testar o time sem Neymar.

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