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Natação: Joanna sonha com Mundial

Por Agencia Estado
Atualização:

A nadadora Joanna Maranhão, 17 anos, largou a barra da saia da mãe Tereza e o conforto da família no Recife, em dezembro, para treinar e estudar na Flórida. Brasileira mais bem classificada na Olimpíada de Atenas/2004, com o quinto lugar nos 400 medley, ela agora quer muito mais. Com o técnico Greg Troy, que foi de Gustavo Borges, Joanna treina duro para o NCAA (Nacional de Natação dos Estados Unidos) e para o Mundial de Montreal, sua principal meta este ano, em julho. Fechou com o Pinheiros após o Minas ter rescindido seu contrato há dois meses (segundo o clube, ela teria descumprido cláusulas). Na Flórida, sente-se à vontade. Descobriu que lá é "só mais uma e não é muita coisa". No Brasil, "estava muito mimada", diz. Joanna falou por e-mail com a Agência Estado. Agência Estado - Como tem sido em Gainesville? Joanna Maranhão - Nas duas primeiras semanas estava muito mal. Não conhecia ninguém, estava fora de forma e não entendia o que o pessoal falava. Mas em momento algum me bateu desespero. Tirei força não sei de onde e agüentei a barra. O pessoal estava treinando forte desde agosto, todo mundo na melhor forma possível. AE - Os treinos são muito puxados? Li no seu site que as mais novas ganhavam de você.... Joanna - Quando falei das "pirralhas" foi porque no primeiro dia treinei com o time do clube, não da faculdade. Na verdade, no time da faculdade a pirralha sou eu (risos). Os treinos são diferentes, mais específicos. O técnico Greg Troy é muito detalhista. Muito bom mesmo. Não só ele, os assistentes também. Adoro o Anthony Nesty. As meninas são uns amores, o time é muito unido, é divertido. Ajudam em tudo. O objetivo é ajudar o time. AE - Está se virando com o inglês? Joanna - Hoje já entendo o que eles falam. Só me perco na concordância. AE - E morar sozinha? Joanna - Estou amando me virar sozinha, ter meus horários, meu lugar. Outro dia, disse para minha mãe que achei o objetivo da minha vida. Em Recife, estava muito olhada, muito mimada, todo mundo me parava na rua. Isso acabava me fazendo acreditar que eu era muita coisa, o que aqui aprendi que não é verdade. Sou muito jovem, tenho muito para aprender sobre a vida... AE - Fale de sua rotina. Joanna - Treino à tarde de segunda a sexta. Fazemos três "dobras" por semana: segunda, terça e quinta. Sem contar sessões de musculação: terça, quinta e sábado. Ah! (risos) Segunda, quarta e sexta tem circuito, com elástico (que simula o nado fora da água), bolas de areia, abdominal. O programa é bem distribuído, diferente de tudo o que fiz no Brasil. É muito bom. AE - E a faculdade? Joanna - Não estou indo muito à aula. Faço duas "cadeiras" de inglês e duas de psicologia. As provas finais estão aí.. Estou um pouco com medo, mais da prova de inglês. AE - O treino é muito diferente? Joanna - Ter uma equipe me motiva muito mais. Gente para conversar, competir no treino mesmo, de sair nadando mais forte. Aqui o atleta é treinado para enfrentar todo tipo de situação, não importa se você é o melhor ou o pior da equipe. É tudo igual para todo mundo. O time torce um pelo outro, diferente do Brasil que gente do mesmo time não se fala, tem inveja. Ridículo. AE - Você treinava sozinha com o técnico (Nuno Trigueiro). Aí tem a sensação de ser "mais uma"? Joanna - Insegura sempre fui (risos). Mas tenho de mudar, porque me encontro em um nível da natação, onde é um querendo passar o outro. Daí penso: caramba, peguei uma final olímpica, tudo que sempre quis. Agora quero me manter ou melhorar. É meu grande desafio, me dá frio na barriga. Não vejo a hora de nadar outro Mundial, aquele clima, quem sabe mais uma final, competir é bom demais. A sensação antes de subir no bloco.... AE - E nas horas vagas? Joanna - A gente sai. Mas não muito porque o time está em "dry season" (à espera de grandes competições). A gente não pode sair à noite, beber, enfim... Mas esse período está acabando e a gente vai se divertir. Tenho ido ao cinema, vamos à casa de alguém, falamos bobagem. AE - Tem saudade de casa? Joanna - Minha mãe anda cheia de coisa, meio sofrida, tadinha. Eu aqui e meu irmão em Portugal. Procuro parecer bem sempre. Não que minta, porque realmente estou bem. Mas para ela deve ser barra. A saudade está tranqüila. Por enquanto tudo é festa (risos). AE - Você estava namorando... Joanna - O namoro acabou porque a situação não deixava outra opção e porque tivemos outros problemas. A família dele acha que o único jeito correto de crescer na vida é estudando feito louco para entrar em faculdade. Pensamos muito diferente. Acho que a gente encontra o objetivo de vida seja lá como for. O importante é ser feliz. AE - Seu contrato com o Minas acabou. Será atleta do Pinheiros? Joanna - O Albertinho (o técnico Alberto Silva) é meu amigo. Ando muito zen, tranqüilona. O Minas fez o que achou que devia. Não vou julgar. Só quero poder competir. Dinheiro, contrato, briguinha, tudo isso é bobagem. A gente releva. AE - Você está se preparando para o Nacional dos Estados Unidos. Joanna - Já nadei a seletiva. É regra, ganho bolsa para isso. É muito forte, nível altíssimo. Foi bom. Vi que a gente não chega sempre na frente. Tenho um longo caminho. AE - Você nada o Troféu Brasil em maio? Joanna - Vou ao Tróféu Brasil e devo ficar uns dias em casa. Mas volto logo para cá, porque quero treinar para o Mundial. Tenho índice nos 400 m medley. Aqui fico mais concentrada e não terá aula. Então, é tranqüilo. AE - E o Mundial de Montreal? Joanna - O "coach" (técnico) diz que a meta é a Olimpíada/2008, mas o Mundial é a minha meta do ano. A dele também. Vamos ver. Ainda estou me adaptando. Mas não vejo a hora de nadar o Mundial. Vai ser muito legal. AE - E o técnico Greg Troy? Ele treina você para outras provas? Joanna - A gente está se conhecendo, como ele diz. Dou informações e ele tenta me ajudar a nadar mais rápido. Ainda não me deu bronca, mas vai rolar, porque rola com todo mundo (risos). Ele é muito rígido. O Gustavo (Borges) me disse que ele era assim. Além dos 400 m medley, ele gosta das provas de fundo que eu já vinha nadando.... Ele vem batendo nessa tecla. AE - Conte uma situação engraçada aí nos Estados Unidos.... Joanna - Teve uma recente (risos). Os treinos na segunda são sempre das 6h às 8h. Mas na segunda passada era feriado e não entendi que seria às 7h30. Tentei entrar no complexo, mas meu cartão não passava. Não vi ninguém. Pulei o murinho, troquei o maiô, esperei.... ninguém! Ouvi um barulho, fui ver, era o Greg nadando, mas ele não me viu. Esperei meia-hora e voltei para o quarto. Dormi! Quando acordei, era o Anthony (Nesty) ligando, me perguntando se estava querendo enganar o técnico... Falei para ele: "Caramba! Eu estava aí. Vi o Greg nadando!" Eles acreditaram que fui porque não tinha entendido o horário. Depois o Anthony me disse que eu queria "dar uma de brasileiro" com ele... (risos).

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