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Neve, gelo. É o Brasil abaixo de zero

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Por Agencia Estado
Atualização:

Em 1993, muita gente se espantou com a história de quatro atletas de um país tropical que competiram, a bordo de um trenó, nos Jogos Olímpicos de Inverno de Calgary de 1988, no Canadá, levada às telas do cinema no filme Jamaica Abaixo de Zero. Agora, chegou a vez de os brasileiros terem seus dias de jamaicanos e, o que é melhor, o desempenho tem surpreendido. Os atletas nacionais têm conquistado resultados expressivos, assustando tradicionais adversários. A performance brasileira tem se destacado tanto em esportes na neve quanto no gelo. É verdade! Existem diferenças entre competições na neve e no gelo. E, antes de conhecer as peripécias do Brasil nestas disputas, é melhor familiarizar-se com alguns termos. Nos esportes de neve temos o esqui e o snowboard (conhecido como "surf na neve"; o atleta compete sobre uma pequena prancha). Já os de gelo possuem mais modalidades: bobsled (trenó com cockpit para duas ou quatro pessoas sentadas), luge (trenó para um ou dois atletas, que descem a pista deitados de costas sobre os veículos), skeleton (trenó para uma pessoa, que desce os 1.500 m de pista deitado de bruços), curling (as equipes arremessam pedras de granito em direção ao centro do alvo, semelhante ao jogo de bocha e boliche). Por fim, tem o hóquei e a patinação. Até para os atletas que representam o Brasil no exterior, os esportes de gelo e neve são desconhecidos. No ano passado, a Confederação Brasileira de Desportos no Gelo (CBDG) realizou duas seletivas, uma em São Paulo e a outra no Rio, à procura de novos competidores para a disputa dos Jogos Olímpicos de Inverno de Turim, em 2006. Cerca de 100 pessoas se interessaram. Em sua maioria, atletas que nunca viram neve e de modalidades esportivas como o handebol, basquete, remo, ginástica olímpica, tênis de mesa, caratê e atletismo. "Nunca tinha visto neve. Foi uma sensação incrível", contou Liliane Lacerda, que pratica levantamento e arremesso de peso e foi uma das escolhidas na seletiva. "Me interessei pelo esporte no gelo por incentivo do meu treinador, Carlos Henrique. E também porque é mais uma maneira de ganhar dinheiro." Em novembro de 2003, ela se tornou a primeira campeã brasileira de bobsled, ao lado de Fabiana dos Santos. A competição nacional, que também apontou os vencedores no masculino, Bruno Brandão e Ricardo Raschini, foi realizada na Áustria. Se no bobsled o Brasil procura novos valores para melhorar a performance histórica obtida nos Jogos de Salt Lake City, em 2002, com o 27.º lugar - superaram a Jamaica! -, no luge Renato Mizoguchi surpreendeu com sua inédita quarta colocação na classificação geral da Copa do Mundo. No domingo, ele disputou mais uma etapa, desta vez em Königssee, Alemanha e, apesar da 18.ª posição, sustentou sua colocação na tabela, totalizando 218 pontos, entre 62 competidores. "Apesar de meu trenó ser velhinho, estou chegando perto das ?Ferraris? dos alemães", disse Mizoguchi. "Espero que até os Jogos de 2006 eu possa evoluir e trazer muitas outras boas surpresas para o Brasil.?? Sem neve no Brasil, os atletas do País precisam "ganhar o mundo" para se desenvolverem. Atualmente, a esquiadora Mirella Arnhold está treinando na França, Ricardo Kawamura treina nos Estados Unidos e Nikolai Hentsch mora na Suíça. Já Isabel Clark, do snowboard, considerada uma das esperanças brasileiras em 2006, foi convidada para treinar com a equipe americana. No último final de semana, o casal de esquiadores Luci e Stefano Arnhold competiu na cidade francesa de Megéve, pela Copa do Mundo de Master. Luci obteve dois bons resultados, com pódios nas categorias Slalom Especial e Slalom Gigante, 2.º e 3.º lugares, respectivamente. Já Arnhold, no masculino, ficou em 7.º e em 11.º. "Por conta dos bons resultados que obtive em 2003, consegui acumular pontos importantes??, disse Luci, que já está entre as quatro colocadas no ranking geral da Copa do Mundo. No ano passado, foi eleita a melhor esquiadora da América do Sul. Futuro - Apesar da ausência no Brasil de pistas de neve e gelo, ambas as confederações estão conseguindo desenvolver as modalidades e realizar, até, trabalhos nas categorias de base. Atualmente, as entidades estão recebendo do Comitê Olímpico Brasileiro 0,5% dos recursos da Lei Piva (R$ 204 mil em 2003). "São surpreendentes os números e resultados apresentados. Principalmente porque não temos estrutura para o desenvolvimento desses esportes no Brasil, um País de sol", disse o presidente do COB, Carlos Arthur Nuzman. Mesmo sem competir em todas as modalidades, se a classificação para os Jogos de Turim fosse realizada neste mês, o Brasil teria cinco atletas assegurados na disputa. Uma performance até então impensável para os "bananas congeladas (apelido dado pelos americanos aos brasileiros)", a exemplo do que ocorreu com os jamaicanos em 1988.

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