O azar de um corintiano

PUBLICIDADE

Por Ugo Giorgetti
Atualização:

Estragaram a noite de meu amigo corintiano. Tenho amigos torcedores de todos os times grandes de São Paulo, e esse sobre o qual escrevo é, como já disse, corintiano. Foi quarta-feira, quando jogaram Corinthians e Santos. Meu amigo lá estava, sentado diante da televisão acompanhando a partida. Via um jogo que, sem ser da mais alta qualidade técnica, era ainda assim eletrizante. O campo cheio, as torcidas vibrando e, desde o começo, aquela incerteza sobre o placar final. Teve de tudo nessa partida, principalmente vibração. E mesmo qualidade. O futebol brasileiro talvez esteja pouco a pouco se recuperando da sangria a que foi submetido nos últimos anos. Alguns bons jogadores, ainda em pequeno número, é verdade, estão retornando e parece que a política de voltar a atenção para nossos vizinhos latino-americanos está dando ótimos resultados. Nesse mesmo jogo havia em campo colombianos, argentinos e chilenos, e nenhum decepcionou. Muito do que esses times mostravam se devia ao trabalho dos dois treinadores, principalmente Leão, tão discutido, mas que cada vez mais mostra que precisa de desafios para render, como se sua predileção pessoal fosse a beira do abismo, como se só se sentisse à vontade enfrentando a incerteza. Mano Menezes também é muito inteligente e conseguiu, sobretudo, recuperar a moral do Corinthians. Nunca vi um time superar tão rapidamente um trauma tão grande como a queda para a Segundona. Essa recuperação é, certamente, obra do Mano. Tudo isso meu amigo corintiano via, satisfeito. De fato o Corinthians, em plena Vila, jogou, no mínimo, de igual para igual com o Santos. Era até superior, quando tomou o segundo gol num lance prá lá de discutível. Na opinião de meu amigo, falta clara do centroavante Kleber Pereira. O lance também foi exaustivamente discutido pelos narradores. O engraçado é que, por mais que tente, a tevê não elucida tudo. Nesse lance o que se vê é uma trombada numa jogada muito rápida. Nada mais. Daí sobram as opiniões pessoais, principalmente de ex-árbitros, hoje comentaristas, que devem rezar para que não sejam exibidos alguns velhos teipes com as inúmeras trapalhadas que perpetraram em seu tempo. Bem, meu amigo viu tudo tenso e feliz porque o Corinthians no fim encurralou o Santos, também por causa da expulsão absurda de Betão, e fez a torcida do peixe torcer para o jogo acabar. Sim, meu amigo estava feliz. O Corinthians tinha perdido de pé, valente. E então estragaram sua noite. Não tinha conseguido nem sequer levantar da poltrona depois do juiz apitar o fim do jogo, quando num passe de mágica tudo mudou na sua frente e lá estava na tevê o final de outro jogo! Reconheceu, com alguma dificuldade, por causa da camisa grotesca, o Palmeiras. E também a Portuguesa. Viu que uma falta perigosa ia ser batida. Olhou alarmado para o canto superior do vídeo e leu: Palmeiras 0 x 0 Portuguesa, 47?30. Leandro bateu a falta e colocou a bola na cabeça de David. De onde foi direto no travessão, voltou para Diego Souza que, inteligentemente, jogou para dentro da área e caiu na frente de Preá. Um mar de braços se ergueu em delírio atrás do gol, bola na rede e fim de jogo. Foi aí que a noite do meu amigo corintiano acabou. Não foi a derrota do Corinthians que o atingiu, foram as imagens terríveis do gol do Palmeiras. Precisavam ter mostrado isso?

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.