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O futebol do mundo e o nosso

colunista convidado
Por Luiz Zanin
Atualização:

Como todos que gostam de futebol, acompanhei a final da Liga dos Campeões entre Real e Atlético de Madri. Jogaço, como se poderia prever. Afinal, várias estrelas do futebol mundial, e o melhor do mundo, Cristiano Ronaldo, se enfrentavam em Lisboa. Bem, há quem reclame e diga que não foi lá essas coisas. Mas entendo que as expectativas exageradas tenham alguma influência sobre esse julgamento reticente. Da minha parte, vi um jogo dos mais interessantes. E que deixou clara, mais uma vez, a imponderabilidade do futebol mesmo nas disputas em alto nível. Como se sabe, o Atlético estava com a mão na taça até vir o gol de empate do Real aos 48 minutos do segundo tempo, na cobrança de escanteio e a cabeçada de Sergio Ramos. Daí para a frente, como se poderia prever (e aqui sim havia uma previsibilidade possível), só deu Real. Resultado: a goleada de 4 a 1 na prorrogação, resultado que não espelha o que aconteceu na partida. Mas o futebol é assim mesmo. E, quando no futuro, alguém olhar para esse placar pensará que foi um passeio do Real, clube mais rico do planeta, muitíssimo mais abonado que seu rival de cidade. Bem, mas e daí? Daí que estamos a alguns passos da Copa do Mundo e muitos daqueles jogadores que lutaram no Estádio da Luz estarão desembarcando aqui para a disputa da Copa do Mundo. Acho que foi na transmissão pela TV que alguém fez a conta. Dos 22 que estavam em campo naquele momento, nada menos que 19 viriam ao Brasil, pela Espanha ou por outras seleções. Porque assim é o futebol globalizado, e nele os clubes de maior poder aquisitivo absorvem os jogadores melhores, deixando os mais pobres a ver navios. Então eu faço um corte cinematográfico para o lamentável 0 a 0 entre Santos e Flamengo no Morumbi. Há diferenças gritantes entre um jogo e outro. Não se tratava de uma partida final, mas apenas mais uma rodada de um Campeonato Brasileiro esvaziado, que vai se interromper em breve para a Copa e será retomado apenas após o término dela. Tudo é provisório. Não sabemos se os times serão os mesmos, sofrerão desfalques, ou, otimismo, ganharão reforços para a retomada. No Santos, Cícero já não jogou, pois faria sua sétima partida e não poderia mais atuar por outro time pelo Brasileiro, ou seja, inviabilizaria sua venda, que parece estar sendo tramada pela diretoria. Em meio a uma campanha pífia, o Santos ainda parece disposto a vender aquele que é, ao lado de Arouca, seu melhor jogador. É mole? Não que o Flamengo faça melhor. É difícil imaginar como um clube que recebe tanto dinheiro da televisão, ao lado do Corinthians, tenha time tão ruim. De modo que o que se viu no Morumbi foi um espetáculo nada edificante, com chutões para todos os lados, bolas rifadas, jogadas sem nexo, ligação direta entre defesa e ataque, chutes despretensiosos, gols perdidos embaixo das traves, etc. Um show de horrores, para uma plateia pequena de heróis, que enfrentavam o mau tempo de São Paulo e ainda tiveram de encarar um jogo de qualidade abaixo da crítica. É verdade que nem todas as partidas do Campeonato Brasileiro apresentam o mesmo baixo nível. Houve o ótimo 5 a 2 do Fluminense sobre o São Paulo e, pelo que vi dos melhores momentos, parece que os 3 a 1 do Cruzeiro sobre o Internacional também foi bom jogo. Mas ninguém há de contestar que o nível técnico, tático e atlético deixa muito a desejar no âmbito doméstico. Vemos por aí times desarticulados, carentes de jogadores ao menos medianos, sem qualquer padrão de jogo - e disputando o principal campeonato de um futebol que já se autointitulou um dia de "melhor do mundo". E foi mesmo, durante algum tempo. De modo que a Copa vem aí, com os grandes jogadores, inclusive os brasileiros expatriados que, por um mês, estarão atuando no Brasil. E, quando a Copa acabar, teremos de voltar para o nosso medíocre futebol doméstico. Como o encararemos? Será que já não está na hora de passar a administração do nosso futebol para quem por ele de fato se interesse? Já passou do tempo, aliás.

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