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O lado luminoso do futebol

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Por Ugo Giorgetti
Atualização:

Não é de hoje que o Corinthians está presente nas telas. Um dos poucos filmes de ficção sobre futebol realizados no País, O Craque, já tem o Corinthians como participante. Nesse filme há cenas reais do famoso time bicampeão de 51/52, de jogadores como Luizinho, Baltazar, Carbone, etc. Lembro ainda O Corintiano, de Mazzaropi, onde o título já é uma referência ao time do Parque São Jorge. Essa profusão de filmes continua, na maior parte em documentários. Esta semana tive o prazer de assistir a um deles.Trata do jogo final entre Corinthians e Ponte Preta, de 1977, que, depois longos anos, devolveu o título paulista ao Corinthians. 23 anos em trinta segundos é uma produção da Fox Home Entertainment e do Canal Azul, com direção a cargo de Julio Xavier, o mais aclamado e talentoso de todos os diretores de comerciais, e de Di Moretti, que, excelente roteirista, agora estreia na direção. Essa dupla de diretores dá ao filme uma qualidade invulgar. Lá estão os grandes corintianos em belos depoimentos, desde Washington Olivetto e Juca Kfouri, até humildes torcedores, todos envolvidos pelo clima exemplificado por uma imagem repetida várias vezes, de um Morumbi com 146.000 pessoas. Desacostumados com essas proporções, até quem viveu aquele momento se assusta com a grandiosidade da imagem. Fica dos depoimentos e do magnífico material da época uma impressão que sempre tive: a torcida do Corinthians empurra o time da maneira que o faz porque entende que um time sozinho não é o suficiente para ganhar. A torcida tem certeza que há forças sobre as quais não temos comando e que interferem no resultado. Todos os corintianos, realmente todos, no filme, têm alguma superstição, alguma crença em algo que vai além do campo, que está fora, em algum lugar. Como os antigos romanos antes das batalhas, vivem observando a natureza à procura de sinais, de augúrios. Um sapato colocado por acaso, a visão de um pássaro que levanta voo perto do estádio, tudo pode ser um sinal que dá a chave da partida. A torcida do Corinthians não confia no time, confia nela. Sabe que pode, invocando forças e energias invisíveis, fazer o time vencer. Torcedor de outro clube, cuja torcida só confia na qualidade do time em campo e na bola jogada por craques, essa atitude dos corintianos sempre me fascinou. E ela está no filme com toda a força. Fora isso, pude rever personagens históricos,como o grande Oswaldo Brandão, o professor Teixeira e Basílio. O professor Teixeira, aliás, mereceria mais atenção dos historiadores do futebol. Passou 50, dos seus 73 anos trabalhando nas mais diversas funções, desde os tempos em que começou com Vicente Feola no São Paulo, seguindo por Corinthians, Santos, seleção e clubes do exterior. Autor de um livro exatamente sobre essa conquista de 77 do Corinthians, sei que o professor se prepara para lançar outro, intitulado Cinquenta anos por dentro do futebol. Como se isso tudo não bastasse, o filme ainda nos proporciona alguns dos momentos mais emocionantes que o cinema pode oferecer ao mostrar Basílio, hoje, mais de 30 anos depois, misturado ao resto da torcida para ver um jogo no Pacaembu, sendo saudado e reconhecido por todos, distribuindo autógrafos para gente que nem tinha nascido em 1977. Um dos maiores méritos desse filme é nos mostrar o lado luminoso do futebol.

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