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O piloto venceu. Mas ele não sabia

Foi em 1982 com Riccardo Patrese

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Por Redação
Atualização:

Aconteceu no dia 23 de maio de 1982. Na história da Fórmula 1 o episódio é definido assim: o dia em que o piloto venceu seu primeiro GP e não sabia. O piloto é o italiano Riccardo Patrese e sua equipe, a Brabham. Aos 55 anos, Patrese está de volta a Mônaco, agora como convidado da TV italiana Sky para comentar, hoje, a 6ª etapa do Mundial. Mas não poderia deixar de falar da corrida que venceu de maneira bizarra há 27 anos. Disse lembrar-se de tudo. "O Rene Arnoux (Renault) largou na pole e eu, em segundo, fui ultrapassado pelo Alain Prost (Renault) na reta dos boxes, quando ele aumentou a pressão do turbo." A Brabham corria com motor Ford V-8 aspirado. "A prova se desenvolveu normalmente. A confusão começou a quatro voltas da bandeirada, quando começou a chover." Arnoux abandonara e Prost assumiu a liderança. "Eu já administrava o segundo lugar, mas Prost errou na chicane depois do túnel e bateu forte." Era a 74ª volta de um total de 76. "Faltavam apenas duas voltas para ganhar meu primeiro GP, fiquei eufórico." O asfalto estava ainda mais escorregadio. "Não havia rádio, a placa dos boxes me sinalizou, na penúltima volta, que Didier Pironi (Ferrari) estava em segundo, Andrea De Cesaris (Alfa Romeo) em terceiro e Keke Rosberg (Williams) em quarto", contou. "Cheguei à curva Loews, a mais lenta, quase parando de tão devagar. Ao frear, rodei, não acreditei, fiquei atravessado no meio da curva. Pironi, De Cesaris e uma Williams me passaram", descreve. "Caí de líder para 4º e nem pódio daria. Loucura." Como o trecho da Loews é descida, fez o motor pegar no embalo e seguiu para completar a penúltima volta. O que acontece a partir daí já entrou para a antologia da F-1. "Chego no Cassino e vejo o De Cesaris, então segundo, sem gasolina, e no túnel está o Pironi, parado. Opa, estou em segundo, apenas aquela Williams que me passou está na frente." Na cabeça de Patrese, a Williams era a de Rosberg, que o boxe lhe havia sinalizado ser 4º. Portanto, ele estava em 2º lugar, atrás do finlandês. "Recebi a bandeirada abatido. Como apenas o vencedor, em Mônaco, levava o carro para a frente do pódio, eu me dirigi para os boxes", falou. "Mas os comissários se posicionaram na minha frente e me mandaram para a frente do pódio. Imaginei que tinham mudado a cerimônia, seriam, agora, os três primeiros." Ao parar diante do príncipe, Patrese viu que estava sozinho. "Sai do carro triste e enquanto aguardava o vencedor, aquela Williams, a de Rosberg, minha equipe correu até mim e começou a comemorar." O piloto estranhou a celebração, afinal representava uma derrota. "De repente perguntei por que tudo aquilo e eles não compreenderam a pergunta." Ao insistir, ouviu: "Você é o vencedor, Riccardo." Acabaram por lhe explicar o equívoco: "Me disseram que aquela Williams era do Derek Daily, retardatário, e não do Rosberg, portanto eu era, de fato, o vencedor." Mas ainda restava uma pergunta sem resposta: o que fez a Brabham rodar a 20 km/h na Lowes? "Há uns anos li uma entrevista do Daily e ele dizia lamentar ter batido pouco antes da Loews, naquela corrida, e ter derramado óleo no asfalto. Comecei a rir." Ele venceu seu primeiro GP, Pironi, mesmo parado, foi segundo, uma volta atrás, e De Cesaris, sem gasolina, terceiro, também com uma volta a menos. O GP de Mônaco pode, mesmo, ser cheio de surpresas.

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