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O professor Minelli estava certo

Por Ugo Giorgetti
Atualização:

O São Paulo ainda não tinha ganho nenhum título brasileiro. Aí chegou Rubens Minelli e o time foi o campeão de 1977. Minelli vinha de campanhas espetaculares feitas nos anos precedentes com o Internacional de Porto Alegre. Vinha marcado pelo tipo de futebol que se praticava no sul do país e, grande observador, por suas próprias conclusões sobre as mudanças que estavam ocorrendo no futebol daquele momento. Foi dos primeiros a vislumbrar no horizonte a aproximação de uma nova era, e que o futebol praticado ainda por quase todos os times brasileiros estava com seus dias contados. Minelli enxergou como poucos que o físico e a disciplina tática se tornariam cada vez mais importantes e que o futebol apenas de habilidade não seria mais suficiente. Algumas de sua declarações envolvendo altura, força física de jogadores e jogadas ensaiadas foram muito mal-entendidas na época e se chegou a afirmar que Minelli pretendia tirar do jogador brasileiro o que ele tinha de mais brilhante, sua improvisação e seu talento inato. Ele não deu muita bola para os comentários e implantou suas idéias no São Paulo. Foi campeão brasileiro. Minelli não era contra a habilidade individual. O próprio time do São Paulo tinha alguns jogadores que faziam da habilidade sua arma maior, como o antigo ponta Zé Sérgio, ou o talentosíssimo Muricy . Exigia tão-somente, além de habilidade, tremendo empenho, preparo físico e disciplina. Não posso afirmar categoricamente nem tenho provas, mas mesmo de longe arrisco dizer que a marca da passagem de Minelli foi tão forte, tão vigorosa que se transformou numa filosofia de jogo que o São Paulo nunca mais abandonou. Vieram outros técnicos, alguns com prestígio ainda maior que o dele entre o torcedores, como o grande Telê Santana. Mas nem Telê, adepto do futebol bem jogado e de habilidade, mexeu com a essência do modelo implantado por Minelli. Para mim esse é o diferencial do São Paulo das últimas décadas e o motivo pelo qual o time, em qualquer competição, está sempre, no mínimo, entre os que disputam o título. Neste brasileiro em transcurso o São Paulo já está chegando e certamente vai brigar pelo campeonato. Qual é o segredo? Certamente a persistência na prática de um modelo que, sem menosprezar habilidade e talento, faz da escalação de jogadores fisicamente privilegiados em posições chave sua maior característica. Observem os jogos, vejam quantas divididas os jogadores do São Paulo perdem, quantas vezes são vencidos em disputas pelo alto, vejam a marcação que exercem no meio do campo, e mesmo no campo do adversário. A superioridade física é impressionante. Já escrevi isso e repito: às vezes dá a impressão de um time de adultos jogando contra uma equipe juvenil. Por todo esse vigor e disciplina é que o time se impõe, inclusive nas partidas que perde. Vi isso contra o Fluminense, vi de novo contra o Náutico. É uma equipe que tem talentos, mas não mais que outros times. Só que é muito mais forte, com jogadores fisicamente preparados, que intimidam pela saúde e que por isso partem pra cima de qualquer um. Na minha opinião esse é o segredo. Iniciado no distante 1977 por um treinador que, esse sim, merece por todos os títulos ser chamado de professor, e adotado por todos seu sucessores até chegar em Muricy Ramalho, não por acaso um dos jogadores de Rubens Minelli.

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