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(Viramundo) Esportes daqui e dali

O reencontro

Por Antero Greco
Atualização:

Mágoa por paixão interrompida é dos sentimentos mais complicados de administrar. Mesmo assim, infeliz de quem nunca sofreu dor de cotovelo por levar pontapé nos fundilhos de um amor que bateu asas. É fossa para se carregar vida afora, ou até que surja novo inquilino no coração.

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Fim de relação em futebol, então, tem consequências imprevisíveis. Aquele que se sente abandonado encara o ídolo como cafajeste juramentado, de papel passado e lavrado em cartório de notas. A parceria de ontem vira lixo que não serve nem para reciclagem. As juras de amor, os beijos no símbolo da camisa, os acenos para a torcida se transformam em manifestações de perfídia e falsidade.

O começo desta crônica, versão paupérrima de historietas rodriguianas, tem como inspiração o reencontro de Paolo Guerrero com a Fiel, na tarde de hoje, no Itaquerão. O peruano pela primeira vez enfrentará o Corinthians, desde que o trocou pelo Flamengo, ainda no primeiro semestre. Ele não havia disputado o clássico anterior entre as duas equipes por acordo de cavalheiros. Desta vez, não há como fugir.

Por isso, se criou expectativa em torno da maneira como os alvinegros receberão o autor do gol do título mundial de 2012. O astro declamava fidelidade ao clube que o pescou no Hamburgo, mas fincou pé ao pedir um caminhão de dólares para renovar e se deixou seduzir por oferta rubro-negra.

As organizadas dizem que se comportarão com indiferença, farão de conta que não sabem nem de quem se trata, ao vê-lo pisar o solo sagrado de Itaquera. Torcedores avulsos se dividem, entre a simpatia e a aversão. Há os que o veem como herói do jogo inesquecível contra o Chelsea; por isso, merecedor de respeito. Há os que não o perdoam por trair a nação corintiana.

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As duas reações são compreensíveis, porque humanas. Sempre haverá os sujeitos que guardarão só os bons momentos de um relacionamento, e neles enfiará as memórias. Outros arderão de ciúmes e não suportarão ver o companheiro de ontem a desfilar com outros. De fato, dói pra caramba imaginar a possibilidade de o ex-ídolo fazer um gol contra o time do passado. E o pior é que a maldição do ex costuma funcionar à perfeição no futebol...

De forma racional, não vaiaria o Guerrero. O moço honrou o Corinthians enquanto esteve no Parque; não se aproveitou dele. Como profissional, partiu em busca de nova aventura e de ganhos maiores, mudança normal na rotina de qualquer cidadão.

Mas, se der espaço para a emoção aflorar, não teria dúvida alguma em lascar-lhe palavrões cabeludos assim que pisasse o gramado, vaiá-lo a cada toque na bola e fingir – isso mesmo, fingir – que não representa mais nada para o Corinthians. No fundo, no fundo, com uma vontade danada de dizer: “Volta, Guerrero!” Tenha certeza de que, se isso um dia acontecer, será recebido de braços abertos, com carinho, flores e gritos de campeão.

Torcedor, como todo apaixonado que se preze, não se envergonha de ser contraditório e nem de ser de palavra. No que age muito bem.

O jogo? Ah, sim. Mais uma etapa no caminho do hexa corintiano. Tite tem a tropa serena e sob controle, sem problemas ou angústias. Panorama favorável para outra vitória? Claro, porém fica uma cisma de que esse jogo tem cara de surpresa.

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Herança maldita? Doriva chegou outro dia no São Paulo, não viu a equipe ganhar sob seu comando, está a meio passo de desclassificação na Copa do Brasil, saiu do G-4 e já ensaia transferir a culpa para Juan Carlos Osorio. O rapaz disse que a equipe “não é compactada”, nem quando ataca nem quando defende. Sugeriu que existe hiato entre uma ação e outra, e que aí reside a origem da oscilação. Hum, talvez a política adequada para o momento fosse mexer pouco, já que a temporada está no fim, e planejar 2016 com calma. Se mudar demais, pode se complicar. A conferir que São Paulo se apresenta hoje na visita ao Coritiba.

Se prevalecer a razão, a Fiel aplaude Guerrero; se vingar a emoção, vai lascar-lhe vaias

ANTERO GRECO

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