Obras no centro esportivo Baby Barioni estão paradas há 5 anos

Reforma começou em 2014 para deixar um legado dos Jogos do Rio, mas ainda não tem previsão de retomada

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Por Gonçalo Junior
Atualização:

Em junho de 2014, o Centro Desportivo Baby Barioni foi fechado para reforma e ampliação. O plano inicial era que o complexo (pronuncia-se Babi) servisse como legado dos Jogos do Rio de 2016, que previa obras de padrão oficial em todo o País. Cinco anos depois, a remodelação de uma das mais tradicionais estruturas esportivas da capital paulista está parada. Apenas 54% das obras foram concluídas. O governo afirma que a retomada é prioridade, mas não há um cronograma definido. Faltam R$ 14,7 milhões para que o complexo volte a ser utilizado pelos atletas e pela população.

Fachada do prédio de alojamentos do complexo esportivo Baby Barioni Foto: André Lucas/Estadão

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O Estado visitou o centro na última quarta-feira e se deparou com o atraso das obras logo na placa da entrada do conjunto, localizado na Água Branca. A reforma deveria ter sido realizada entre 25 de junho de 2014 e 12 de agosto de 2016. Ela inclui restauração, adaptação e acessibilidade de todo o conjunto esportivo, além de adequá-lo para treinamento de modalidades paraolímpicas. O projeto prevê mudanças na rede elétrica, hidráulica e na estrutura do complexo.

O financiamento foi dividido entre o governo federal (R$ 13,5 milhões) e o paulista (R$ 15 milhões). O custo total era, portanto, de R$ 28,5 milhões. Algumas construções foram concluídas; outras nem começaram.

O prédio de alojamento, que costumava receber delegações de atletas do interior e outros Estados, mal começou a ser reformado. Paredes começaram a ser demolidas, mas o trabalho ficou pelo caminho. Por isso, pequenas árvores estão germinando nas rachaduras, do lado de dentro e até na fachada da construção. A vegetação invadiu praticamente todos os andares. A cobertura tem telhas quebradas, o que causa goteiras e infiltrações. Funcionários do governo estadual comparam o cenário do prédio ao de uma “guerra civil”.

A construção que abriga a piscina olímpica, a primeira coberta e aquecida do estado de São Paulo, projetado pelo arquiteto Oscar Niemeyer, também tem rachaduras no teto. A piscina está cheia de água parada. Jefferson Nogoseki, chefe de Gabinete da Secretaria de Esportes e que acompanhou o Estado na visita, explica que ela não pode ser esvaziada para não comprometer a estrutura. Sem água, os azulejos vão se expandir e quebrar. A alternativa foi mantê-la com água, com tratamento para desinfecção com cloro, e visitas de técnicos da Prefeitura de São Paulo para prevenir contra a proliferação da dengue.

Nem a poda da vegetação foi realizada nos últimos anos. O mato está alto na área da piscina semiolímpica, que fica vazia. Quando chove, uma bomba faz o escoamento novamente para evitar doenças. A Secretaria de Esportes informa que está retomando contratos para poda e asseio das áreas externas. A conservação não tem relação direta com o atraso das obras.

Vista do prédio de alojamentos do complexo esportivo Baby Barioni, que está com obras paralisadas ha cinco anos Foto: André Lucas/Estadão

Alguns espaços estão prontos, como a quadra, vestiários, salas de atividades, área administrativa, prédio de lutas e a criação da sala de musculação, entre outros. O Centro da Melhor Idade, por exemplo, tem banheiros com itens de acessibilidade para idosos e portadores de necessidades especiais. Os azulejos vermelhos estão impecáveis. O piso de madeira do ginásio está novo, mas nunca foi utilizado. Os gastos para manter o espaço em funcionamento, incluindo segurança predial e limpeza, são de R$ 860 mil por ano.

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As obras foram interrompidas em outubro do ano passado. A Caixa Econômica Federal, financiadora do projeto, informou que o “contrato foi revogado por ter extrapolado o prazo de vigência”. Segundo o órgão, não foram encaminhados dois termos aditivos. A atual gestão tentou a retomada do contrato, mas ele foi rescindido.

Retomada

Aildo Rodrigues Ferreira, secretário estadual de Esportes, afirma que a finalização das obras é a prioridade da gestão do governador João Doria. “Nós recebemos o complexo com as obras paralisadas. Estamos buscando alternativas para conclusão das obras. É prioridade. Estamos buscando um convênio para ter recurso”, diz.

Pelas contas do órgão, faltam R$ 14.774.920,00 para a revitalização dos 24 mil m² do Baby Barioni. Ainda de acordo com a secretaria, todas as obras necessárias estão alinhadas ao orçamento inicial. Não há estouro.

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Mesmo fechado há cinco anos, o Baby Barioni ainda permanece como referência esportiva na memória dos moradores da cidade. O diretor do conjunto, Antonio Carlos Pupo de Freitas, afirma que a administração recebe quatro ou cinco ligações por dia de pessoas interessadas nos cursos de natação – o Baby oferecia cursos gratuitos em dezenas de modalidades em suas três piscinas, além de aulas de basquete e futebol.

As estruturas que hoje estão vazias já receberam, nos tempos áureos, 3,5 mil pessoas por mês. Hoje, os espaços ganharam novos visitantes: o galo Zico e a galinha Margarida ciscam livremente pelo estacionamento e pelas áreas perto da piscina. Como estavam sempre por ali, acabaram batizados pelos próprios funcionários.

Referência esportiva

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Em 1945, o Complexo Olímpico da Água Branca e o Departamento de Educação Física e Esporte do Estado de São Paulo inauguraram o Complexo Esportivo Baby Barioni, na época chamado de “A Casa da Educação Física”. Criado para formar atletas e acolher aos eventos esportivos, o complexo se transformou em referência esportiva do Estado de São Paulo.

Ao lado do campo de beisebol do Bom Retiro e dos complexos do Ibirapuera, do Pacaembu e do autódromo de Interlagos, o Baby Barioni foi utilizado nos Jogos Pan-Americanos de 1963, que foram realizados na capital paulista. A Casa da Educação Física foi batizada em homenagem a Horácio G. Barioni, jogador e entusiasta do basquete, cronista esportivo e idealizador dos Jogos Abertos do Interior, oficializado em 1936. Seu apelido era “Baby”. 

Vista aérea do complexo esportivo Baby Barioni Foto: André Lucas/Estadão
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Antes da reforma, o ginásio oferecia gratuitamente aulas e cursos de 14 modalidades, como natação, hidroginástica, kickboxing, futsal, basquete, musculação, entre outros, para a comunidade. Foram atendidas entre 3.500 e 4 mil pessoas por mês, entre crianças e adultos. O alojamento chegou a ter 500 atletas. 

Durante mais de duas décadas, desde 1980, o Baby Barioni foi o palco da “Forja de Campeões”, o mais célebre torneio amador de boxe, responsável pela revelação de diversos atletas, e o “Luvas de Ouro”, outro importante torneio da modalidade. Lutaram no ginásio Acelino “Popó” Freitas, que ganhou quatro títulos em duas categorias diferentes, e os medalhistas olímpicos Esquiva e Yamaguchi Falcão. 

Na natação, os medalhistas olímpicos Gustavo Borges e Thiago Pereira, que chegou a lamentar a paralisação das obras nas redes sociais, passaram pelas piscinas da Água Branca. 

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