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Ouro de tenista da casa desperta patriotismo nos britânicos

Título olímpico conquistado por Andy Murray em cima de Roger Federer provoca comoção nas ruas de Londres

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Por Adriana Carranca
Atualização:

LONDRES - Os britânicos viveram um domingo de histeria olímpica, em mais um dia de ouro para o esporte nacional, após o “super sábado”. Milhares de pessoas vestindo o azul, vermelho e branco da bandeira lotaram as ruas de Londres desde cedo para a maratona, que atravessou alguns dos principais cartões-postais da cidade. Quem não teve a sorte de conseguir ingressos para ver Andy Murray bater Roger Federer, a partida mais esperada, acompanhou a partida dos telões do Hyde Park, que atraiu o maior público desde o início dos Jogos. Muitos viajaram de outras partes do país para sentir mais de perto o clima dos Jogos na capital e exibir o orgulho e patriotismo que tomou os britânicos.A partida entre Murray e Federer foi acompanhada por uma multidão no Hyde Park como se eles estivessem no estádio e em clima de final de Copa do Mundo levantando e gritando a cada ponto do britânico. Mesmo quem tinha ingressos para outras provas acompanhou o tênis dos telões. “Nós tivemos o casamento real, o jubileu da rainha Elizabeth e agora a Olimpíada. Foi um ano difícil, mas, ao mesmo tempo, de celebração para os britânicos e nós sabemos como celebrar em grande estilo”, disse Yvonne Duley, de Surrey, no sudeste da Inglaterra. Ela veio a Londres ontem para ver Usain Bolt no Parque Olímpico à noite, outro destaque do domingo. Mas, antes disso, assistiu a partida de tênis no Hyde Park. “Hoje, não vamos pensar na economia.” Enrolada em uma bandeira do tamanho de seu corpo, Girvan Brocklesby, vê o patriotismo exacerbado dos britânicos no melhor fim de semana da Olimpíada para eles com efeito da crise. “Estamos mais solidários uns com o outro. Esses tempos difíceis nos uniram como nação. A vitória das medalhas reaviva o orgulho patriótico que andava um tanto abalado. Isso é incrível! A Olimpíada levantou o nosso espírito”, diz. Pouco antes do início da transmissão da partida de tênis no Hyde Park, as filas se estendiam no portão de entrada. O Hyde Park, assim, como o Victoria Park, tem seis telões gigantes, que transmitem ao vivo as partidas olímpicas. Em paralelo, bandas se apresentam em dois palcos. Similar ao Parque Olímpico, há barracas de comidas e bebidas em volta do extenso gramado. Há, ainda, outros telões espalhados pela cidade, como Potters Fields Park, ao lado da Tower Bridge, Walthamstow Town Square, no norte, e em Woolwich, no extremo leste, além de pubs que colocaram monitores para transmitir os Jogos e lotam.“Depois de um período tão deprimente, priorado por meses de céu escuro e chuva, até que enfim tivemos boas notícias”, disse Adam Petit, ao lado do amigo Adam Cox, ambos usando macacão inteiro de natação e chapéu estampados com a bandeira do país. Ontem, nem o tempo chuvoso das primeiras horas evitou que os torcedores tomassem as ruas, um dia após o "super sábado", quando a Grã-Bretanha venceu o maior número de medalhas da história em um dia.A cidade recebeu muitos turistas de fim de semana, atraídos pela maratona, ontem de manhã, e o triatlo, no sábado, que levaram o esporte para as ruas da cidade e deram aos que não conseguiram nenhum ingresso nessa Olimpíada a oportunidade de ver ao vivo e de perto alguns dos atletas nessas provas. “Eu tinha de estar aqui, já não aguentava mais assistir tudo apenas pela TV”, disse Jeff Taylor, de Bristol, no sudoeste da Inglaterra, enrolado na bandeira britânica, também pintada em seu rosto e no da namorada. Eles se juntaram aos turistas para ver as corredoras passarem pela Trafalgar Square. Embankmente, à beira do Tâmisa, onde as atletas também passaram, ficou intransitável, assim como as redondezas do Palácio de Buckingham, local de partida e chegada da prova.Coisa de inglês. Com o movimento de ontem, Londres espantou de vez a alcunha de cidade fantasma, conferida na semana passada, após a constatação de que os turistas haviam fugido do centro da capital inglesa, com medo do caos no trânsito e no transporte público. Após semanas de campanha nos metrôs e pela média, pedindo que as pessoas evitassem circular desnecessariamente durante as competições, o prefeito de Londres, Boris Johnson, mudou a estratégia e nos últimos dias passou a pedir que os visitantes voltassem. Deu certo.Para Richard Mould, diretor do Comitê Olímpico de Londres, o excesso de precaução que é “típico dos britânicos” espantou os visitantes nos primeiros dias, mas, sem o esperado caos e com o espírito olímpico tomando conta do público na medida em que a Grâ-Bretanha soma medalhas, mais turistas são esperados na segunda semana dos Jogos. “Os ingleses sempre acham que tudo vai dar muito errado. Planejamos tudo com a perspectiva de caos. Como não ocorreu o que esperávamos e agora que a festa começou mesmo, ninguém quer ficar de fora!”. Irônico, ele errisca uma previsão para o Rio em 2016: “Lá vai ser o contrário porque os brasileiros sempre acham que vai dar tudo certo!”

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