País em reconstrução até 2010

Operários aceleram ritmo das obras para suprir minimamente carência de infraestrutura das sedes do Mundial

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Por Silvio Barsetti , Luiz Antônio Prosperi e Roberto Pontes de Lima
Atualização:

A África do Sul está fechada para reformas. Obras tomam conta das dez cidades escaladas para receber a Copa do Mundo de 2010. Há pressa, atrasos, preocupações, medo e muita esperança de que tudo vai funcionar daqui um ano. Não será uma tarefa das mais fáceis. O déficit da capacidade hoteleira ainda é grande, segundo estimativas da Fifa. Problemas de transportes parecem insolúveis. E a questão da segurança incomoda, e muito, a entidade e os dirigentes sul-africanos do Comitê Organizador. Nos 15 dias de Copa das Confederações, o primeiro e último teste antes de 2010, Joseph Blatter, presidente da Fifa, e o secretário-geral Jerome Valcke acompanharam de perto, em cada uma das cidades, todos os problemas que ameaçam o bom andamento da organização da Copa do ano que vem. Valcke, por exemplo, chamou a atenção para o déficit dos hotéis. "Sabemos que há um problema de disponibilidade de quartos. No total, faltam em torno de 15 mil quartos para a Copa dos 55 mil requeridos", disse. "É uma questão aberta. O torcedor e o turista querem um lugar seguro, com um quarto com banheiro e onde poder dormir; não necessariamente um hotel de quatro-estrelas. Estamos trabalhando para encontrar soluções, a fim de que os torcedores possam encontrar hotéis com essa estrutura." Durante a Copa das Confederações a reportagem do Estado percorreu as dez cidades-sede dos jogos de 2010. E não viu um quadro tão diferente do traçado pelo secretário-geral da Fifa. Os problemas são os mesmos na maioria dos municípios. No eixo Johannesburgo-Pretória-Rustenburg, região central da África do Sul, operários trabalham em ritmo acelerado em obras nas estradas e na construção da linhas de trem entre as três cidades. As rodovias estão reviradas. Grandes cadeias de hotel se erguem à margem das vias expressas, entre Pretória e Johannesburgo. Em Bloemfontein, com 800 mil habitantes, os problemas mais graves apareceram na carência de hospedagem. Os hotéis são poucos. Um executivo da TV Globo disse ao Estado que se a seleção brasileira tiver a cidade como sede, a equipe da emissora (cerca de 500 profissionais) "não vai caber em Bloemfontein." Outra questão que tira o sono da Fifa é o transporte. Na maioria das cidades, os táxis não circulam pelas ruas como em São Paulo. O torcedor vai ter de requisitar no hotel e combinar o preço do destino antes da partida - os taxistas não trabalham com taxímetros nos perímetros urbanos. Algumas cooperativas ligam os taxímetros apenas nos traslados feitos em rodovias. "Sabemos que não está funcionando tudo à perfeição. Tanto para os meios de comunicação como para os torcedores. O sistema de transporte deve ser refeito, a demanda será grande tendo em conta que no Mundial haverá muito mais estrangeiros", revelou Valcke. Com exceção da linha de trem em construção, o transporte ferroviário é precário e não suporta a Copa. E são poucas as opções por ônibus interurbanos. O Comitê Organizador local recomenda o aluguel de carros para que o torcedor evite grandes transtornos. Aos desavisados, cuidado. Nas ruas, a mão é inglesa - ou seja, no sentido ao contrário do usado no Brasil. Embora bem sinalizadas, ruas e estradas podem confundir o motorista. Recomenda-se o GPS (confira o aluguel de carros ao lado). Situação difícil também aparece na alimentação. É muito complicado achar um restaurante aberto após às 21 horas. Na maioria dos hotéis, não existe serviço de quarto nem venda de alimentos e bebidas após às 20 horas. Nas grandes cidades, como Johannesburgo e Pretória, os problemas se repetem. A favor da África do Sul está a enorme simpatia do cidadão comum. Pelo menos com os brasileiros, eles se mostram solidários e dispostos a ajudar. Uma generosidade contagiante. Talvez esteja aí a razão pela qual Joseph Blatter resolveu levar a Copa ao continente africano. É claro também que o dinheiro falou mais alto. "A solidariedade deve ser exercida de forma concreta. Não se trata somente de palavras. Nos 34 anos (11 como presidente) que estou na Fifa, sempre houve um candidato africano para a organizar a Copa: Marrocos, Nigéria, Egito e África do Sul. Mas sempre perdiam. Era preciso fazer algo e, por isso, colocamos em marcha o sistema de rotatividade das sedes", disse. "Sem ela, a África nunca teria um Mundial. Há muita gente que não confia na África, e não sei por quê. O continente africano nos tem dado tanto que tínhamos de devolver. Nossos sócios econômicos tiveram confiança; as televisões, também, e estarão na África em 2010. Não é mais que justiça. Era uma responsabilidade moral", discursou Blatter.

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