Parlamentares e entidades se unem por extensão do auxílio emergencial a profissionais do esporte

Ex-jogadora de vôlei, senadora Leila Barros trabalha para derrubar veto do presidente Jair Bolsonaro

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Por Ricardo Magatti
4 min de leitura

Se depender da senadora Leila Barros (PSB-DF), o veto do presidente Jair Bolsonaro à extensão do auxílio emergencial de R$ 600 aos atletas e profissionais ligados ao esporte será derrubado. A ex-jogadora de vôlei trabalha no Senado para reverter a decisão presidencial e permitir a liberação do benefício à categoria.

O presidente vetou a ampliação do benefício para profissionais informais que não estão inscritos no Cadastro Único. O Congresso Nacional especificava profissões que estariam aptas a receber os R$ 600 do governo, como os profissionais que trabalham com esporte. Mais de 50 categorias de trabalhadores informais de baixa renda ficaram sem receber o dinheiro. A sanção foi publicada na edição de 15 de maio do Diário Oficial da União.

Ex-jogadora de vôlei Leila Barros hoje é senadora pelo PSB do Distrito Federal e tem abraçado pautas do esporte Foto: Jake Spring / Reuters

Leila se mostrou otimista quanto à possibilidade de reverter a decisão de Bolsonaro e disse ao Estadão que tem dialogado com os parlamentares, incluindo o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), na tentativa de sensibilizá-los. A ideia, segundo a parlamentar, é que a convocação para a votação sobre o veto ocorra nesta semana.

"Estamos trabalhando nos bastidores com os demais senadores explicando o quanto o setor esportivo foi afetado pela pandemia, um dos primeiro atingidos com o cancelamento de competições em todos os níveis. Uma cadeia inteira foi atingida de um setor que gera muitos empregos. Muitos vivem de patrocínio, premiações. Então, dá para imaginar que há vários profissionais e atletas sofrendo", explicou.

O deputado federal Danrlei de Deus (PSD-RS) apoia a posição de Leila. "Quando houve a deliberação, colocarei minha posição a favor de vetar o veto (presidencial)", reforçou o ex-goleiro em resposta ao Estadão.

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O Congresso tem 30 dias para deliberar sobre o veto e sua votação. É preciso de maioria absoluta na votação para a derrubada do veto presidencial e a alteração legal sem concordância do governo federal. Portanto, são necessários 257 votos na Câmara e 41 no Senado. O projeto de lei (PL 873/2020) é de autoria do senador Randolfe Rodrigues (Rede-AC). A ampliação da lista de beneficiados só foi discutida recentemente para não atrasar a distribuição do auxílio emergencial. Leila é autora da emenda no texto que inclui atletas e outros profissionais que trabalham com esporte.

"Acho que até pela minha própria história como ex-atleta olímpico estou tentando sensibilizar na medida do possível todos os senadores para derrubar o veto. Passando a realidade do esporte hoje por causa da pandemia. Acredito que temos senadores que entendem a pauta esportiva, caso do Romário, por exemplo", pontuou a senadora, que considera que a situação do esporte é "caótica". Ela também destacou que a pandemia impactou financeiramente não só os atletas, mas também trabalhadores que vivem do esporte e estão sem renda em razão da paralisação dos campeonatos.

"Vivemos uma crise econômica antes da pandemia e o esporte já sofria muito com relação aos patrocínios, falta de estrutura. As pessoas, quando olham o esporte, focam muito no alto rendimento. Mas no sabemos que muitos atletas, antes mesmo da pandemia, sobreviviam por meio de premiações", analisou. "Imagine aquele profissional que está iniciando sua carreira, não tem patrocínio, ou então os profissionais envolvidos nos trabalhos diários, nos centros de treinamentos, como os preparadores físicos, psicólogos, o próprio técnico. A situação do esporte nacional, em todas esferas, está bem caótica", completou a senadora.

PRESSÃO

Fora do Congresso, a pressão das entidades esportivas também pode fazer efeito na luta pelo auxílio emergencial aos trabalhadores ligados ao esporte. A Federação Nacional dos Atletas Profissionais de Futebol (Fenapaf) e sindicatos que representam os jogadores se mobilizaram para defender os interesses dos esportistas.

"Estamos pressionando. A provocação já foi feita. O ideal seria que o próprio governo federal editasse uma medida para permitir esse auxílio", disse ao Estadão o presidente da Fenapaf, Felipe Leite. "O benefício é para quem ganha pouco, um salário mínimo, ou quem está sem contrato, sem ganhar nada no momento. É muita gente, mais de 15 mil jogadores", prosseguiu.

Recentemente, a Fenapaf divulgou um vídeo em que destaca jogadores, famosos e outros menos conhecidos, para chamar a atenção ao contraste financeiro no meio do futebol e pedir que aqueles que ganham menos - grande parte da categoria - tenham acesso ao benefício mensal de R$ 600 que o governo disponibiliza durante esse período de crise.

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O vídeo, que dura cerca de um minuto, mescla jogadores de clubes de ponta - como o zagueiro e volante Felipe Melo, do Palmeiras, o meia Diego, do Flamengo, o zagueiro Digão, do Fluminense, o goleiro Everson, do Santos, e o meia D'Alessandro, do Internacional - e atletas que defendem equipes de menor projeção no País.

"A gente não entendeu o motivo do veto presidencial. Alguns atletas têm conseguido o auxílio, mas são poucos. O ideal é estender o benefício para toda a categoria. Tem clubes que suspenderam os pagamentos", ressaltou Washington Mascarenhas, ex-jogador e presidente do Sindicato dos Atletas de Futebol do Município de São Paulo (Siafmsp).

O ex-atacante usa o próprio exemplo para se colocar em defesa da categoria. "Eu mesmo já vivi os dois lados da moeda. Passei dificuldade na carreira e as coisas só aconteceram comigo depois dos 25 anos. Foi quando fiz 5, 6 anos de contrato e consegui uma estabilidade", destacou o ex-atacante do Palmeiras.

O Sindicato de Atletas de São Paulo (Sapesp) também endossa o movimento. Recentemente, a entidade lançou um abaixo-assinado contra o veto. A petição já conta com mais de 46 mil assinaturas, incluindo de vários atletas.