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''Penso a todo momento em marcar o gol do título''

Por Leonardo Maia e Bruno Lousada
Atualização:

Mesmo tido como um jogador de pouco refino no trato com a bola, muitos gols sempre foram a marca registrada de Washington. O atacante de 35 anos, nascido em Brasília, detém até o hoje o título de maior artilheiro de uma única edição de Brasileiro, com 34 gols pelo Atlético-PR, em 2004, um ano depois de superar problema cardíaco que ameaçou a continuidade de sua carreira. Chegou a se submeter a um cateterismo. Hoje, o filho de Antônio e Salete amarga um jejum de 14 jogos sem marcar e vive má fase em um time prestes a conquistar o título nacional. O apoio dos torcedores do Fluminense àquele que chamam de Coração Valente parece ser inversamente proporcional aos gols perdidos. Nesta entrevista ao Estado, Washington conta que pensa a todo instante em fazer o gol do título brasileiro.Quando você deita na cama, bate uma certa insônia?Estou triste. A gente capricha, tenta fazer o melhor. Mas sempre me esforcei, nunca deixei de treinar. A consciência está tranquila, consigo dormir bem. Mas, depois dos jogos, fico remoendo um ou dois dias.Você mudou sua rotina por causa da má fase?Procuro manter a minha rotina. Vou à Igreja, às missas, ao restaurante, ao cinema. Não mudo. Só vou sair quando a fase estiver boa? Saio do mesmo jeito, até porque as pessoas me dão muita força nas ruas.Não ficou mais reservado?Às vezes eu fico mais calado, mais silencioso, no meu canto. Minha esposa logo percebe que não estou legal. Aí ela procura me animar, me incentivar.Você já comentou que sua filha mais velha costuma cobrar bastante em casa. Como ela tem se comportado?A Ana Carolina tem me cobrado bastante. Ela já tem oito anos e acompanha direitinho. Chega para mim e fala: "Pai, você tem de fazer gol!" Os coleguinhas de escola têm pegado no pé dela, provocam dizendo que o pai não faz gol. E ela vem cobrar de mim depois.Na rua, no seu condomínio, no supermercado, o que mais ouve?O irônico é que esta má fase me fez ficar mais próximo da torcida, por incrível que pareça. As pessoas me abordam e dizem que vou fazer o gol do título, agradecem pelo que já fiz pelo clube. Talvez, se eu estivesse bem e marcando muitos gols, não receberia a mesma demonstração de carinho.Você já sonhou em marcar o gol do título? Penso a todo momento na possibilidade de marcar esse gol. Espero ter um momento de predestinação. Mas, sinceramente, não me preocupo com relação a ficar na história. Penso nisso porque fazer gols é o meu trabalho. Quero mesmo é ser lembrado pela conquista do campeonato.Para quem superou aquele grave problema cardíaco, como lida com esse jejum?Nunca passei por um jejum como esse. O mais longo foi o de oito jogos sem marcar aqui no Fluminense, em 2008. Quebrei justamente com aquele gol contra o São Paulo (que classificou os cariocas para a semifinal da Libertadores). Pelo que já vivi, pelo que já passei na vida pessoal e profissional, tiro de letra.Os gols que desperdiça demoram a ser digeridos por você?Demoram. Fico imaginando o lance, repetindo na minha cabeça. Mas, durante os treinamentos da semana, isso vai embora.O Muricy Ramalho já disse que nunca vai desistir de você. Como é sua relação com ele?O Muricy é muito na dele. Não chega para conversar em separado. Mas sempre demonstra a confiança através das atitudes, das entrevistas que dá. Essa relação facilita para aceitar a reserva com tranquilidade?Pode facilitar, sim. Mas eu também dei motivo para ele me colocar ali. Não posso cobrar nada agora. Em outra situação poderia até chegar e conversar.Você já disse que lhe falta um título brasileiro. Como está o Coração Valente?Está ansioso demais. Tento manter a calma porque o jogo vai ser muito nervoso para nós. Toda a responsabilidade é nossa. Sou um dos mais experientes do grupo, preciso passar tranquilidade aos demais. Para me acalmar, penso no jogo, ouço minhas músicas sertanejas.Se o título vier, você para?Está muito definido na minha cabeça: vou parar no ano que vem, com ou sem os títulos do Brasileiro e da Libertadores.

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